Conheci o cara em um aplicativo . A gente já tinha se visto no bairro, porque morávamos a duas quadras de distância em Pinheiros [bairro de São Paulo] e tínhamos alguns colegas em comum. Não ficamos nem um ano juntos, porque antes disso eu logo descobri algumas coisas e quem ele realmente era .


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"Ele falava para as amigas que tinha um relacionamento abusivo, só que nessa versão a abusiva era eu", diz a publicitária Thais Padrilha, 32


Quando eu o conheci, estava em um momento da vida que não queria me relacionar sério com ninguém . No começo eu era bem honesta e ele chegou a fazer aquela ceninha de “melhor a gente não se ver mais porque se não eu vou sofrer”. O cara começou a fazer joguinho de coitado, falando que não era bom o suficiente, que eu não gostava tanto dele e que eu não queria assumir nosso relacionamento .

Claro, ninguém colocou uma arma na minha cabeça, mas ele insistiu tanto que ele conseguiu o que ele queria: que a gente namorasse.

Até hoje sei que os amigos dele o chamam de “rinoceronte gentil”, porque ele é todo fortão e bonzinho. Meus amigos inclusive diziam que ele era muito diferente de todos os homens com quem eu já tinha me relacionado. Diziam que ele era bonzinho, que tinha todo um jeito dócil de falar e achavam ele legal.

Ele era DJ de música eletrônica e esse não é muito meu rolê. Eu era bem tranquila,  não tinha ciúmes e deixava ele fazer o rolê dele. Na maioria das vezes eu não ia. Eu não ficava paranóica nem nada, até porque tenho um filho e não tinha como acompanhar. Mas das poucas vezes que eu fui não tinha curtido, comecei a não gostar dos amigos e das amigas dele, achava o pessoal meio esquisito e não me sentia bem-vinda.

Depois de um tempo ele começou a se irritar comigo porque eu não gostava dos rolês dele e eu comecei a me irritar porque ele tinha que entender que eu estava cansada, tinha uma rotina de emprego formal e não podia ficar saindo toda hora. A gente começou a brigar por isso.

Quando a gente se conheceu eu estava para me mudar, porque eu dividia um apartamento e o contrato estava acabando. Ele fez que fez para morar junto comigo e foi o que aconteceu. Só que como ele dizia que estava sempre sem dinheiro por ser DJ, eu paguei tudo.

Ele se mostrava muito inseguro e aparentava ser muito sensível. Era aquele cara que não tinha vergonha de chorar na sua frente. Ele dizia que se achava um m*rda, que não conseguia fazer nada dar certo, que as músicas que ele produzia não davam certo.

Teve situações que eu cheguei a emprestar dinheiro para ele de tão mal de grana que ele ficava. Eu cheguei a incluí-lo no meu plano de saúde, porque ele tinha uma dor crônica nas costas. Ele nunca marcou uma consulta sequer.

Era estranho porque ele disse que tinha um mestrado de uma universidade de Nova York e contava várias histórias dessa época. Naqueles dias eu também viajava para lá a trabalho mas, claro, não nos conhecíamos. Ele disse que se eu tivesse o conhecido nessa época seria melhor, porque ele ganhava US$ 10 mil e estava super bem. Era uma história meio absurda.

A verdade é que ele não fazia nada em casa, ele era um bocó. Eu sou muito correria, trabalho muito e comecei a me irritar. Até que ele me disse que queria terminar, começou a chorar e falou que atrapalhava a minha vida. Disse que estava se sentindo muito depressivo e rolou um papo meio esquisito de querer morrer . Nesse dia a irmã dele ligou para o psiquiatra para passar remédio de emergência, estava nesse nível.

Eu acreditei porque sabia que ele tinha depressão e já presenciei outras crises, fiquei preocupada. Liguei para a irmã dele e disse que, independente do que fosse rolar com a gente, ele tinha me dito coisas preocupantes e que eu não sabia se ele se abria com alguém. Ela agradeceu e meio que ficou do meu lado.

“Enquanto eu dormia, ele saía de fininho e dava rolê”

Foi em um Dia das Mães que eu comecei a descobrir tudo. Estávamos brigados e eu estava prestes a viajar a trabalho. Ele não tinha conversado comigo, mas passamos a noite juntos. Até que eu vi uma foto dele em um rolê e descobri que ele saiu de madrugada, depois que eu já estava dormindo. Eu o confrontei e descobri que não foi só daquela vez.

Cheguei a conversar com a irmã dele, que me disse para ignorá-lo e ela falaria com ele.

Até que numa sexta-feira ele chegou na minha casa completamente transformado. Ele era outra pessoa, até o tom de voz mudou. Ele disse que ia embora, que não ia pagar multa nenhuma do apartamento que a gente estava dividindo e que eu não devia mais procurá-lo. Eu fiquei chocada, ele estava de um jeito que eu nunca tinha visto.

Quando ele saiu do apartamento, ele deixou o computador ligado no escritório que ele usava para trabalhar nas músicas dele. Eu nunca tinha feito isso antes, mas comecei a ver as conversas dele em tempo real . Acontece que ele estava nada transtornado, na verdade estava felizinho indo para a rave. Estava até ficando com outra menina.

Você viu?

Liguei para os meus amigos desesperada, que foram em casa para ficar comigo. A gente até tentou ligar para um chaveiro para trocar a fechadura da porta, mas ele não conseguiu, acho que porque a porta era muito antiga. Então eu tranquei a porta por dentro. Um amigo chegou a mandar mensagem dizendo que não era para ele voltar para casa ele disse que tudo bem.

No dia seguinte, que era sábado, eu fui ficar na casa de um amigo. Quando voltei para o meu apartamento, vi que ele tinha estado lá e que chegou até a tomar banho. Mas as coisas dele continuavam lá. Fiquei revoltada.

“Ele aceitou meu dinheiro enquanto recebia mesada da mãe”

O computador estava logado nas coisas dele de novo. Passei a madrugada de sábado para domingo lendo e tirando print de tudo . Mexi em todas as conversas dele de todos os anos e descobri que ele nunca trabalhou.

Em Nova York a mãe dele mandava US$ 5 mil por mês e o bancava. Ele aceitou dinheiro meu enquanto a mãe dele dava mesada e paga todas as faturas do cartão de crédito dele. A relação dele com a mãe era doentia, ela dava tudo para ele.

Me lembro que às vezes eu falava que não aguentava mais as patricinhas do trabalho, que seria meu sonho alguém pagar meu aluguel e ele dizia que essa galera era “encostada” e “um bando de filho da p*ta”. Só que ele nunca trabalhou!

Lobo em pele de cordeiro

Esse cara tinha feito a lição de casa. Ele tinha um discurso  feminista e sabia de tudo, sabia como falar e se comportar, tinha um discuro anti-objetificação de corpos e anti-pornografia. Aí eu fui ver o histórico dele e ele era viciado em pornografia pesada, envolvendo até estupro ! Ele assistia nas horas que eu tava na sala com o meu filho vendo desenho antes de dormir, dizia que ia trabalhar.

Descobri ainda que todo mundo sabia que nosso relacionamento era aberto , menos eu. Ele ficava com outras pessoas, tinha encontros e só eu que não sabia. Ele me traía horrores , muita gente nem sabia da minha existência.

Ele era um mentiroso compulsivo. No Carnaval ele disse para um cara que estava tocando em Brasília e depois iria para o Rio de Janeiro. É mentira, ele ficou todos esses dias comigo em casa! Eu fiquei arrasada, super mal. Eu estava com um monstro dentro da minha casa.

No domingo eu também saí de casa com o meu filho e, quando voltei, o computador estava de novo ligado. Ele foi para lá. Quando fui olhar o histórico, descobri que ele teve a coragem de entrar na minha casa enquanto eu não estava para bater p*nheta: era só pornografia!

Além disso, ele falou para umas amigas que estava terminando um trabalho para a empresa que eu trabalho, sendo que ele nunca trabalhou lá. Esses três dias ele foi para a rave e eu acompanhei as conversas dele com uma menina em tempo real. Para a mãe dele, disse que a gente tinha ido na ópera. A gente nunca foi em uma ópera! Era doentio, ele não falava nenhuma verdade.

Uma hora a casa cai

Quando fui trabalhar na segunda-feira, eu estava só no veneno. Ele me ligou e perguntou se a gente podia conversar e eu topei. Na hora do almoço eu fui para o meu apartamento encontrar com ele, gravei toda a nossa conversa. Ele veio super abatido, com olheiras, quase que sem voz. Quem vê pensa que ele tava chorando a noite inteira, mal ele sabia que acompanhei tudo.

Começou a falar com voz de coitado, chorando. Aí eu disse: “eu sei que você estava com outra mina no fim de semana”. Quando ele começou a me chamar de doida, eu falei o nome da menina e ele ele percebeu que eu sabia mesmo, então ficou quieto.

Logo comecei a falar tudo. Que ele era um doente, um desocupado, mentiroso, viciado em pornô … Acabei com ele.

“É o seguinte, que você fora da minha casa, você vai deixar três aluguéis pagos e metade da multa, que preciso de tempo para encontrar alguém para dividir aqui ou para pagar a outra metade da multa e me mudar. Também quero todo dinheiro que você me deve de tudo que já te emprestei. Não quero saber como você vai fazer isso. Se vira, filhinho de papai”, disse para ele.

Se ele não fizesse isso, eu iria expor tudo que eu tinha sobre ele, falei que ia acabar com a vida dele. Eu disse que se soubesse que ele estava pagando de gatinho por aí usando a luta dos outro eu ia acabar com a raça dele.

O pior é que ele falava para as amigas dele que tinha um relacionamento abusivo , só que na versão dele a abusiva era eu. As amigas dele acreditaram e passaram a falar mal de mim. A mãe dele também me ameaçou, disse que não depositaria nada na minha conta e que eu estava extorquindo o filho dela. Até hoje não sei se as pessoas sabem.

Com o tempo parece que até a mãe dele ficou de saco cheio, tanto que ele parou de ter dinheiro para tomar anabolizantes (que ele dizia que não tomava) e agora está todo magro e acabado, com cara de doente. Esses hormônios são caríssimos.

Não tenho notícias dele desde então. Eu espero que ele se f*da muito, porque o que um cara desse é capaz de fazer? Fico com pena por tantas que ainda vão cair nessa artimanha. Como os amigos não querem acreditar , então muita gente ainda vai se ferrar. Vai saber quantos golpes ele já não deu?

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