O Brasil atualmente ocupa o quinto lugar no ranking de países que mais matam mulheres no mundo. Segundo dados do Anuário da Segurança Pública 2020 , no ano passado foram registrados 1.326 crimes de feminicídio no ano passado, 7% a mais que no ano anterior. O levantamento também mostra que no país uma mulher é estuprada a cada oito minutos . Os dados mostram que 84,1% dos agressores é conhecido das vítimas.
Neste contexto, procurar ajuda muitas vezes pode ser difícil. A cultura de culpabilização da vítima ainda é muito presente nas instituições que deveriam oferecer apoio. Além disso, pesam outros fatores, como a vergonha de se expor ou a dependência financeira e/ou emocional da vítima em relação ao agressor. Mas isso não impede de quem está perto de oferecer apoio.
“A nossa cultura torna difícil amparar essas vítimas de assédio e também dificulta a denúncia e o apoio até mesmo de pessoas próximas”, afirma Thainara Morales, psicopedagoga clínica e institucional e analista de comportamento.
O iG Delas bateu um papo com a Thainara por telefone, que passou algumas orientações básicas do que deve ser feito caso você conheça alguém que está passando por uma situação de abuso sexual ou violência doméstica.
Denuncie
Thainara afirma que o primeiro passo para ajudar uma amiga que passa por situação de abuso sexual é fazer a denúncia formal. Muitas vítimas são coagidas e chantageadas pelo abusador para não denunciar, então é fundamental que alguém de fora acolha quem está sofrendo e ajuda a fazer a denúncia.
Em caso de assédio no trabalho, por exemplo, é importante buscar o superior para informar sobre o ocorrido. “Infelizmente é mais complicado para as mulheres denunciarem, ainda mais se forem subordinadas a um homem”, diz a especialista.
Você viu?
Procure ajuda psicológica
Ouvir a vítima e incentivá-la é importante, mas é preciso ir além. Mulheres que passam por situação de abuso e violência geralmente estão lidando com questões psicológicas que a impedem de buscar terapia, mas é primordial que isso aconteça. Pode ser um passo importante para ajudar a cultivar a autoestima e a segurança da mulher nela mesma depois do caso.
Por esse motivo, apenas o psicólogo está em posição de oferecer saídas e conselhos concretos para a vítima. “Quando a gente dá um conselho é muito mais um senso comum, algo que a gente acha. Por esse motivo, é importante buscar ajuda profissional”, explica.
Diga frases de apoio
Evitar os aconselhamentos não impede que a pessoa encoraje a vítima a enxergar dias melhores e a perceber que não está sozinha. “Frases como ‘fica firme’, ‘estou com você’, ‘conta comigo’ são importantes para dar apoio moral. Também vale dizer coisas que coloquem a mulher para cima e que mostrem a ela o valor que ela tem”, afirma Thainara.
Tenha empatia e pratique a escuta ativa
Se por um lado existem frases que podem ser ditar, também existem as que não devem ser afirmadas para a vítima de jeito nenhum. A principal delas é afirmar que ela está tomando a atitude errada ou que se fosse com você as ações seriam diferentes. “Nem sempre uma pessoa vai ter uma ação que a outra teria, então não é ideal dar palpites”, explica Thainara.
A chave para não cometer ações como essa é ter empatia. Ou seja, se colocar no lugar da vítima e entender toda complexidade da situação em que ela está. A última coisa que uma pessoa abusada e/ou violentada precisa é ser julgada. Se você não sabe o que dizer, deixe a vítima desabafar e ouça o que ela tem a dizer.
Se possível, dê abrigo
No caso de mulheres que passam por violência doméstica, a situação é ainda mais complexa. “Para essa vítima é complicado, porque ela tem que se amar e se dar importância em primeiro lugar. A autoestima de vítimas de violência doméstica tende a ser muito baixa ”, afirma. Por isso é que essas mulheres passam tanto tempo sofrendo e demoram para buscar ajuda.
Dar abrigo temporário pode ser uma boa opção para mulheres que vão denunciar e querem se sentir seguras longe do agressor. Mas cuidado! O ideal é que a denúncia seja feita e tanto a vítima como quem está abrigando estejam em segurança.
Busque informações de qualidade
Thainara afirma que hoje em dia, as denúncias on-line e o movimento digital para apoiar as mulheres está ganhando força. Consequentemente, existem mais informações de qualidade acessíveis para todo mundo, o que ajuda a reconhecer os casos e a pedir ajuda. Além disso, campanhas e palestras informativas estão tornando assunto menos um tabu e mais um problema social e cultural que precisa de soluções.
Por esse motivo, a especialista considera importante fazer essa busca de eventos e informações que pautem abuso e violência contra a mulher para entender o ponto de vista da vítima e, assim, dar um apoio melhor direcionado.