Outubro Rosa
é o mês sobre conscientização do câncer de mama. No momento, esta é a doença que mais mata mulheres no Brasil. Por isso, falar sobre tratamentos, os direitos das pacientes oncológicas,
formas de prevenção e cuidados pessoais
é tão importante. Acredita-se que, por conta da pandemia, cerca de 2,8 milhões de mulheres não fizeram mamografia e outros exames para rastreio.
Por isso muitas histórias de mulheres sobreviventes ou em tratamento
circulam neste mês: para lembrar que todas correm o risco de desenvolver câncer de mama. E que também existe a possibilidade de dar a volta por cima.
Nathália Motta, 35 anos, é secretária executiva e descobriu que tinha câncer de mama quando estava com 31. Um ano antes do diagnóstico, ela fazia um autoexame no banho e sentiu um caroço no peito que lhe chamou a atenção, fazendo com que ligasse para o seu ginecologista da época para averiguar. "Ele me examinou, também tocou e falou: 'olha, não se preocupa. Tira isso da sua cabeça, você é muito jovem e isso pode ser causado por conta desse sutiã de haste de ferro que vocês mulheres gostam de usar, que vão criando esses caroços.'"
Ela lembra de sentir um peso tirado das suas costas e seguiu sua vida: trocou de emprego e estava ensaiando voltar para a faculdade. Um ano depois, o caroço não só tinha aumentado, como coçava, doía e trazia outros sintomas, como dores de cabeça, enjoos e desmaios. Desta vez, Nathália não voltou no primeiro médico, mas em outro ginecologista que estava presente no nascimento da sua filha. Ele a encaminhou direto para um ultrassom pois a situação estava tão avançada que Nathália ia sentir muita dor em uma mamografia.
Nathália conta que foi amparada pela mastologista Patrícia Kajikawa. "O meu diagnóstico foi muito depois. Eu fiz a biópsia e depois de trinta dias ela ficou pronta. Eu recebi por e-mail e abri no trabalho. Eu juro, sabe quando a gente vê em filme que tem uma explosão e dá aquele pino ouvido? Eu falei: eu vou desmaiar. Eu voltei e li carcinoma invasivo e tinha todas as categorias lá, mas eu ainda não sabia o que era."
"Eu liguei pra minha médica e falei: 'doutora, meu exame deu algo com carcinoma. Não sei do que se trata. A gente pode se ver amanhã?' Ela disse que claro e eu passei o dia anestesiada. Eu já estava muito ciente de que eu tinha um câncer de mama. No dia seguinte eu fui para o consultório com aquele frio na barriga e a cabeça enjoada. Você não dorme, não come, tem uma sensação muito atormentada e desorientada. Eu fui acompanhada da minha mãe."
"A doutora virou pra mim e falou: 'Nati, eu não gostaria de dar essa notícia, não imaginava que eu ia falar isso para você porque você realmente é muito nova. E você tem um um tipo de câncer que não é normal para sua idade. Eu cuido de mulheres com esse tipo de fatores, acima de cinquenta anos. A gente vai fazer um protocolo muito delicado porque eu ainda não sei como te tratar.' Quando ela falou isso, eu pensei: meu Deus, eu estou perdida. Eu vou morrer. E ela falando o que para mim já era 'blá blá blá'."
Quando Nathália se acalmou, a médica foi explicando e definindo os protocolos de tratamento. O primeiro passo foi uma mastectomia - retirada da mama -, seguido de dois exames genéticos para rastrear a origem e definir qual o tratamento adequado. "Foi onde eu descobri que eu tinha um tumor de quatro centímetros, positivo em estrogênio - ele era um receptor hormonal. Então quanto mais eu estava produzindo esses hormônios, mais eu estava adoecendo. Foi detectado realmente que o descontrole hormonal foi que causou o câncer. Na época, eu usava um anticoncepcional que é um implante no braço e foi deste momento em diante que tudo foi bagunçado na minha vida", lembra.
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Então Nathália começou uma série de tratamentos envolvendo quimioterapia, conhecendo outras pacientes de câncer de mama, algumas sobreviventes, mas todas apelidadas de "amigas do peito", pela condição que dividiam. Ela passou por mais algumas cirurgias, que acabaram demorando mais horas que o esperado devido à gravidade da situação, o que também aumentou seu tempo de tratamento - inicialmente previsto para dois meses, passando para seis meses.
Durante o tratamento, ela terminou um relacionamento abusivo. "Eu achava que ele ia me apoiar, ia passar por esse tratamento. Igual a gente vê em filme, em notícias dizendo que o amor cura e tudo mais. Eu idealizei aquela história também na minha cabeça. Até aí foi um filme de terror, porque ele exigia coisas de mim, ele queria que eu ficasse bem. Ele não entendia a minha posição e me colocava em situações difíceis. Eu não estava bem e ele me cobrava que tínhamos que viajar, ir em festas, encontros. E um dia ele simplesmente foi embora."
Quando ela estava na fase final do tratamento - que consiste nas radioterapias -, Nathália recebe a mensagem de um contato que ela nem sabia que era um potencial pretendente. Sem cabeça para romance, ela dá um chega para lá na primeira investida de Rodrigo, o homem que hoje é seu marido. O casamento foi realizado em 9 de outubro, quando Nathália completou dois anos do fim do seu tratamento, o qual Rodrigo esteve ao seu lado em cada sessão.
Para falar sobre a importância do Outubro Rosa, ela decidiu criar um evento chamando "Kart Amigas do Peito", que tem 14 apoiadores e acontece domingo (24). O esporte entrou na vida de Nathália quando ela estava no final do seu tratamento e seu irmão decidiu comemorar o aniversário em um kart.
"Eu fui, eu estava meio cansada, mas eu corri. Só que quando eu corri aquela sensação de cansaço, aquele desânimo, passou. Parecia mágica. Eu pensei: o que é isso que eu tô vivendo? Eu comecei a perceber que eu precisava achar, além de todas essas pessoas que estavam ao redor, os médicos e a ciência, eu precisava focar em algo que fosse só pra mim. Isso me faz sentir viva. É isso que eu quero fazer pro resto da minha vida. Eu vou correr de kart, eu vou sentar neste carro e vou acelerar. Vou viver. Não quero mais ficar: "será que vai dar certo?" Eu não penso mais assim."
"Quero um grupo de mulheres que diga: você vai passar pela tempestade mesmo. Não tem como mudar isso porque, infelizmente, o tratamento é doloroso e pesado, mas existe vida depois disso. E você precisa de achar. Talvez não seja no kart, mas pode ser uma porta de entrada. As vezes, o mais difícil é achar onde você vai se recolocar porque é difícil voltar ao trabalho, ter um relacionamento, se achar como mulher depois do câncer. Ainda mais em um esporte que é tão focado no homem. O kart não é fácil. Você precisa de concentração, técnica e então você não consegue pensar em nada mais. Lá você consegue se desligar e fazer somente aquilo."