A gordofobia não diz respeito apenas aos padrões estéticos, mas a detalhes do cotidiano das pessoas gordas. Além dos olhares por cima dos ombros, há denúncias de casos preconceito ou descasos por parte de médicos, macas hospitalares que não suportam corpos gordos , catracas, assentos e provadores feitos sem pensar na diversidade de tamanho das pessoas.
A jurista e ativista Rayane Souza, 29 anos, sempre falou sobre body positive
e gordofobia em suas redes sociais
. Ela passava por essas situações e até mesmo na facudade de Direito sofria com o cyberbullying, feito por colegas de sua sala.
“Eu sofro gordofobia todos os dias quando eu me posiciono nas redes sociais, como uma mulher gorda que se aceita. Eu já fui humilhada por uma ginecologista que disse que eu nunca arrumaria ninguém se eu não emagrecesse”, relata em entrevista ao Delas.
Como surgiu o projeto Gorda na Lei
Mariana Vieira, 32 anos, é magra e via todo o preconceito que Ray passava na faculdade. As duas se tornaram melhores amigas e da amizade surgiu a ideia de ajudar outras pessoas gordas que sofrem com a gordofobia e não sabem como agir judicialmente. Surgiu então o projeto Gorda na Lei
, que tem como o objetivo orientar, informar e compartilhar toda a informação relacionada a luta contra a gordofobia no âmbito jurídico.
Você viu?
“Marianna é uma aliada com a luta anti gordofobia, mesmo sendo uma mulher magra. Muitas pessoas me questionam porque minha parceira no Gorda na Lei é uma mulher magra e eu falo ‘o local de fala é meu, o lugar de fala dela é de aliada, que percebeu o quão grave é essa chacota. É importante que as duas tenham vozes em espaços diferentes, combatendo o mesmo mal”, explica.
Como a pessoa gorda pode buscar os direitos
A gordofobia não é tipificado em lei. Isso quer dizer que não existe uma lei específica para combatê-la. Porém, pessoas gordas podem se sentir lesadas durante consultas médicas, em uma entrevista de emprego, na catraca do transporte ou qualquer outro tipo de situação.
“O Gorda na Lei veio pra isso, para as pessoas entendam quais são os direitos dela, não só o corpo gordo, mas como indivíduos. As pessoas não têm conhecimento sobre leis básicas, então a primeira coisa é saber seus direitos como indivíduos. A partir do momento que você está sendo excluído por causa do seu peso, procure um advogado”, orientam.
Rayanne conta que elas já lidaram com muitos casos, principalmente crimes virtuais, onde os famosos haters fazem o uso indevido da imagem de alguém, com o intuito vexatório. Um dos casos que mais marcantes, foi de uma senhora que ficou presa na catraca do transporte público. Ao invés das pessoas ajudarem, elas começaram a filmar e as imagens viralizaram.
“Nós conversamos com ela e falamos todas as possibilidades. Ela decidiu não processar a empresa de ônibus, mas decidiu entrar na fila do SUS para fazer uma bariátrica. Ela achou que era o que ela deveria fazer para não sofrer mais aquele tipo de preconceito, a pessoa gorda sempre se sente culpada pelo preconceito que ela sofre, o errado não é a sociedade, é sempre a gente, então esse entendimento precisa acabar, porque é gordofóbico, oprime, adoece as pessoas.” explica Rayane.
Ela ainda acrescenta: “A sociedade é cruel, que sociedade é essa que faz a pessoa fazer uma cirurgia para não sofrer mais nenhum tipo de aborrecimento? Foi o que mais marcou a gente e a gente lamenta muito não ter feito ela mudar de ideia”.