Andréa Gouvea, 32 anos, é uma publicitária, influenciadora digital e gorda. Apesar de ter várias outras características, seu peso sempre foi uma questão de debate para pessoas, assim como o corpo de outras mulheres gordas.
Pensando nisso ela passou a usar seu local de fala para falar sobre gordofobia e gordoativismo nas redes sociais.
Apesar da Internet ser um ambiente que ajudou muito as mulheres a entenderem mais sobre o amor próprio e encontrarem uma rede de apoio, Andréa, em entrevista ao Delas , explica que ainda existe um estigma muito grande envolvendo o corpo gordo.
“Existem pessoas que ainda acham que o corpo da mulher gorda é público para ser julgado. Além de toda a cobrança para estar dentro do padrão, a gente é colocada à prova sobre as coisas conseguimos fazer, seja no profissional, no amor. A gordofobia coloca as mulheres em xeque de suas capacidade s”, diz a influenciadora.
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Gordofobia X saúde mental
Gouvea recorda de um episódio que a marcou muito quando tinha apenas 17 anos. Ela estava no cabeleireiro quando uma mulher perguntou como ela conseguia ser feliz com o corpo que tinha, dizendo que se fosse ela não conseguiria nem olhar o próprio reflexo no espelho.
“Olha que coisa mais violenta para se dizer! Eu tinha 17 anos, quem é ela para questionar? Meu corpo tem que ser parte da minha felicidade. Eu tenho um corpo gordo que me ajudou a ser a mulher que eu sou hoje, que me levou pros caminhos que eu estou. Por que eu tenho que odiar ele? Só porque ele tem um formato diferente?”, questiona.
Apesar de hoje ter uma relação muito boa com o corpo, Andréa sabe que existem muitas mulheres que ainda não se sentem bem com a própria pele e frases que são ditas a elas só pioram essa visão.
Meu corpo inteiro é bonito
Muitos acreditam que o corpo da mulher gorda está aberto a debate. A influenciadora comenta que escuta frases que parecem nada demais para quem fala, mas estão carregadas de gordofobia. Frases como “seu rosto é tão bonito, porque você não emagrece?”, “você precisa emagrecer pra sua saúde”, “ninguém vai te amar sendo gorda” ou “nunca vai conseguir um emprego sendo assim”, são comuns. Isso acaba prejudicando demais a saúde mental de muitas, que acabam acreditando nesses discursos.
“A gordofobia é um tipo de violência que vai acabando com a sua vida e a sua saúde mental. As mulheres que passam por isso têm problemas como não se sentir capaz como outras sentem, não se sentem bonitas, se sentem erradas em ocupar cargos ou ambientes que supostamente não são feitos para elas”, acrescenta.
A influenciadora explica que essa gordofobia enraizada se deve ao fato de que nossa sociedade ainda associa a gordura a algo preguiçoso, feio e incapaz. “Vivemos em uma sociedade gordofóbica que associa a gordura a fracasso e feiura. As pessoas não conseguem entender que temos vários biotipos. Precisamos lembrar que o que é belo depende do ponto de vista. Não é porque eu sou gorda que eu não sou saudável. Eu não vejo as pessoas perguntando da saúde dos fumantes, de quem fica sem comer com aquelas dietas doidas, por exemplo. O problema na cabeça das pessoas é ser gordo, não a saúde”.
Se Andréa escutar hoje que tem o rosto bonito mas que deveria emagrecer ela apenas responde “eu sou inteira linda, meu amor”. Mas esse processo demorou para acontecer e demandou muito estudo sobre a gordofobia, além de ajuda psicológica.
“Veja quem você segue nas redes sociais, se são parecidas com você na questão do pensamento e se espelhe nelas. Pesquise sobre gordofobia e do gordoativismo. Corpos são mutáveis e únicos, ser gorda não é sinônimo de ser feia”, encerra, poderosíssima.