Ajudar uma mulher vítima de abuso sexual , estupro ou violência contra mulher pode não ser uma tarefa fácil. Pessoas próximas podem ajudar de diversas maneiras -- aliás, aqui no iG Delas a gente já falou sobre como fazer isso . Mas existem instituições e iniciativas que buscam fazer isso da maneira mais profissional e segura possível. É o caso do Mapa do Acolhimento , que está na ativa desde 2016.


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"Essa rede de apoio é essencial na caminhada dessa mulher para conseguir um caminho", afirma coordenadora do projeto Mapa do Acolhimento, que ajuda vítimas de violência contra mulher


O site funciona como uma ponte entre mulheres que precisam de ajudas até psicólogas e advogadas voluntárias. Podem ser acolhidas mulheres cis e pessoas transexuais maiores de idade de todo Brasil sem renda para buscar por serviços jurídicos e de apoio.

A iniciativa, que começou em 2016, surgiu como um piloto após o acontecimento de um estupro coletivo no Rio de Janeiro. O caso ficou famoso: trata-se da jovem de 16 anos que foi dopada e estuprada por 33 homens. O crime foi gravado por um dos violadores e circulou na Internet.

“A partir desse caso, ficou muito evidente que o Estado não dá conta de atender todas as mulheres em alguns casos. Então pensamos na época que a sociedade civil também pode contribuir para uma rede de suporte”, afirma a psicóloga Larissa Schmillevitch, coordenadora do Mapa do Acolhimento.

Foi em 2018 que o Mapa do Acolhimento expandiu a ponto de ter voluntárias em todo Brasil, mas desde o início do projeto Larissa afirma que 6.500 pedidos de ajuda foram encaminhados.

“Quando a mulher se cadastra no site, ela recebe informações sobre a voluntária mais próxima e o contato da profissional é encaminhado para que a vítima possa buscar ajuda”, conta a psicóloga. Além dessa conexão, também são divulgadas informações e um mapeamento de serviços públicos.

“A gente percebeu que essas informações às vezes não são tão acessíveis e dificultam o acesso ao judiciário e às medidas políticas fundamentais para a violência contra mulher ”, conta. Para além da denúncia, Larissa explica que esses contatos e endereços são importantes também para que a própria mulher crie coragem de fazer a denúncia.

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“É um processo de fortalecimento. Essa rede de apoio, formada por comunidade, serviço e as pessoas ao redor, é essencial na caminhada dessa mulher para conseguir um caminho”, comenta.

Larissa conta que a intenção não é substituir a função que deve ser realizada pelo Estado, mas um complemento para ajudar mais mulheres a serem acolhidas. Ela afirma a importância da existência de ações como essas, já que o processo burocrático e de acolhimento jurídico é demorado.

Desmonte de políticas públicas no Brasil

Larissa afirma que atualmente o Brasil vive um momento de desmonte de políticas públicas. Segundo a psicóloga, a Lei Maria da Penha foi fundamental para o avanço na criação de outros serviços e políticas públicas de apoio às mulheres, mas pontua que, devido ao sucateamento dessas políticas, alguns serviços foram diretamente afetados.

Entre eles, Larissa cita o serviço de acolhimento de mulheres que estão em situação de violência dentro de casa e o acesso ao aborto legal. “As políticas estão distantes do que de fato são as necessidades das mulheres. Por isso essa mobilização civil é importante, para a criação de projetos e mobilização de mulheres para fazer esse atendimento ou estar próximas desses serviços”, diz.

Além do distanciamento, outro ponto que marca a dificuldade de mulheres no momento de pedir ajuda é a fragmentação de serviços de apoio. “Quando você tem diminuição e cortes, você faz com que os serviços fiquem mais fragmentados. Quanto mais fragmentados os serviços, mais fragmentado é o caminho da mulher até conseguir ajuda. Assim, ela vai repetir sua história diversas vezes para outras pessoas. Essa é uma forma de revitimizar”, explica Larissa.

Como exemplo dessa fragmentação, a psicóloga cita o caso da influenciadora digital Mariana Ferrer , que ganhou destaque nacional  após ter sido humilhada em audiência virtual pelos advogados de defesa do acusado de estupro. Na ocasião, seu crime foi tipificado como “estupro culposo”, ou seja, ele não teria tido intenção de cometer o estupro.

“A violência institucional não é só no judiciário, mas ela começa na porta da delegacia. Não só o acesso é dificultado, mas essa revitimização vai tirando a dignidade e a possibilidade de ajuda, torna difícil o caminho do rompimento da violência”, aponta Larissa.

Quer ajudar? Torne-se voluntária!

Larissa conta que o Mapa do Acolhimento recebe cerca de 20 pedidos de ajuda por dia, o que equivale a quase uma mulher por hora. Por esse motivo, o projeto está sempre em busca de voluntárias para dar conta das demandas.

“A pandemia trouxe um cenário ainda mais desafiador, porque as mulheres estão em casa com os agressores. Então tem muitos pedidos urgentes de ajuda que precisam ser atendidas.

O objetivo é que 5.500 voluntárias psicólogas e advogadas estejam cadastradas e à disposição para ajudar. Tem interesse? Faça seu cadastro em queroacolher.mapadoacolhimento.org

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