Falta de ar, coração acelerado, inquietação e irritabilidade são alguns sintomas da ansiedade, doença que afeta 18,6 milhões de brasileiros, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde). O que nem todos sabem é que o transtorno não é exclusivo aos adultos. Na verdade, os primeiros sinais podem aparecer logo na primeira infância.
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“A ansiedade é um estado de humor desagradável que extrapola a normalidade, ou seja, com grande apreensão em relação ao futuro (geralmente próximo) e intensa preocupação”, explica Fabíola Toffoli, pediatra e parceira da Weleda.
Identifica alguma dessas características em seu filho? Se sim, é hora de ligar o sinal de alerta e buscar ajuda. Quanto mais cedo a ansiedade infantil for diagnosticada, mais rápido são os resultados do tratamento.
Causas e sintomas de ansiedade infantil
Os fatores que podem desencadear a ansiedade infantil são diversos. De acordo com a pediatra, vão desde os mais graves e conhecidos, como a perda de um ente querido ou sofrer bullying e violência física, até fatores aparentemente menos danosos, como a superproteção dos pais que, ao demonstrarem medo com relação a tudo que a criança passa, geram uma sensação constante de risco e de insegurança.
Já os sintomas de ansiedade lembram os que acometem os adultos. Fabíola faz uma lista dos mais comuns entre os pequenos:
- Palpitações ou dor no peito
- Sensação de falta de ar
- Boca seca
- Alterações gastrointestinais (náuseas, vômitos, dor abdominal, diarreia)
- Agressividade
- Choro desproporcional ou aparentemente sem motivo
- Tremores
- Sudorese em extremidades
- Enurese
- Dor de cabeça
- Tontura
- Sensação de desmaio
- Dificuldade para dormir
- Insônia
- Sono agitado com pesadelos
- Cansaço excessivo
- Tensão muscular
- Medo exacerbado e agitação
- Involução do desenvolvimento
- Baixo rendimento escolar
Segundo a pediatra, essas manifestações geralmente são relacionadas a algum fator de medo, por exemplo: antes de provas, apresentação de trabalhos escolares, competições, viagens, mudanças de escola, etc.
“Como mecanismos de defesa, as crianças podem evoluir com isolamento e retração social, interferindo em sua vida cotidiana. Muitas vezes, com queda do rendimento escolar, distúrbios alimentares, dificuldade de se relacionar, distúrbios do sono e até depressão”, acrescenta.
Fabíola também fala que a ansiedade gera insegurança, dores físicas e agitação quando a criança está diante de uma situação “gatilho”. Assim, elas passam a evitar determinadas situações e se comportam de forma diferente do habitual. Por isso, é importante sempre observar de que forma seu filho reage aos acontecimentos.
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Meu filho é ansioso, e agora?
O primeiro passo ao perceber sintomas de ansiedade na criança é tranquilizá-la e buscar ajuda profissional. Fabíola sugere recorrer ao pediatra que já conhece o histórico do seu filho para verificar se há algum fator físico ou metabólico associado e encaminhar para o tratamento mais adequado.
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A profissional explica que diagnóstico de um quadro de ansiedade é complexo e passa, necessariamente, por uma investigação minuciosa que vai considerar fatores familiares, possíveis medicações que a criança usa, sintomas relatados e fatores ambientais, como escola, dinâmica familiar, amizades e traumas vividos.
A criança começa a ser tratada assim que o diagnóstico é feito. “A base do tratamento é a psicoterapia sendo a terapia comportamental a mais utilizada em pediatria”, explica Fabíola.
Além da psicoterapia voltada para a criança, existem terapias integrativas como técnicas de relaxamento e de respiração, musicoterapia, meditação, leituras, massagens, nutrição, gestão de estresse, cromoterapia e aromaterapia.
“Nos casos mais intensos, em que somente a psicoterapia não está apresentando a melhora esperada, será necessário o uso de medicações, inicialmente naturais (medicamentos antroposóficos e fitoterápicos) e, se necessário, associar alopáticos (ansiolíticos, antidepressivos)”, diz a pediatra. Nesse caso, o acompanhamento será feito por um médico psiquiatra infantil.
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Como os pais podem ajudar?
O apoio dos pais é imprescindível para o sucesso do tratamento da ansiedade infantil . Eles precisam ter a consciência para lidar adequadamente com a situação, transmitindo carinho e segurança ao filho. Fabíola diz que é preciso paciência e compreensão, já que a ansiedade infantil é causadora de sofrimento.
Para isso, busque sempre manter o diálogo aberto com a criança para que ela se sinta confortável para contar o que está sentindo. Nesse momento, não menospreze os sentimentos dela. “Lembre que é incontrolável e ela não tem a maturidade suficiente para entender o que se passa”, alerta.
Ensine a criança a aproveitar o presente e desacelere a correria do dia a dia para ser mais presente na vida do seu filho. A pediatra explica que mostrar a ação do tempo também é importante. Vale fazer um calendário para que a criança entenda a passagem dos dias.
Fabíola também fala para mostrar ao filho que as responsabilidades dos pais são cumpridas, demonstrar que nem sempre é possível ganhar e que perder faz parte da vida, além de focar nas soluções dos problemas e medos, tentando substituir o “esse acontecer tal coisa” por “o que posso fazer”.
Momentos em família também são fundamentais para casos de ansiedade infantil . Faça jogos envolvendo todos da casa, escutem música e usem técnicas de respiração em momentos mais ansiosos.
Para completar, outro ponto importante é que os pais reconheçam se também sofrerem de ansiedade e, se for o caso, busquem tratamento.