A maioria dos pais é extremamente a favor de as crianças passarem tempo brincando ou praticando esportes para gastar energias e, por que não, ficarem calminhas no fim do dia. Mas existe outra forma de  tranquilizar os filhos: a meditação para crianças. Mais do que só isso, a prática busca ajudar os pequenos a lidar com seus medos, ansiedades e conflitos do dia a dia.

A meditação para crianças busca oferecer recursos para que elas lidem com medos e ansiedades do dia a dia
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A meditação para crianças busca oferecer recursos para que elas lidem com medos e ansiedades do dia a dia


É o que explica a professora de meditação para crianças budista do Centro de Meditação Kadampa Mahabodhi, Margaret Balestrini. “A meditação ajuda a tornar a mente mais estável, mais pacífica e mais calma, de forma geral. Com mais aceitação das coisas e com menos medo. Crianças sempre têm muito medo, algumas são agressivas, sentem muita raiva ou são muito competitivas. A gente busca ajudá-las oferecendo recursos, por meio da meditação, para que elas consigam lidar com esses sentimentos de forma pacífica”, diz.

Falando sobre as aulas que ministra, Margaret afirma que elas seguem toda uma tradição budista, porém existem tipos de práticas diferentes. Em seu caso, a meditação para crianças propriamente dita não ocupa toda a aula e ela aceita alunos e alunas de diferentes idades, desde os dois ou três anos até os 12, 13 anos.

“Todos as aulas têm um tema que a gente vai trabalhar: generosidade, perdão, medo, algo assim e sempre relacionado ao budismo. Aí, antes de começar, a gente faz uma apresentação das crianças, pedindo que elas falem os nomes e idade pra se conhecerem, e explicamos as atividades do dia”, começa a contar Margaret.

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Em geral, as atividades incluem aprender a fazer oferendas para Buda, com mandalas, alimentos, água ou outros elementos. “Ou nós contamos histórias de Buda. Cada história aborda um aspecto, pode ser sobre medo, generosidade, compaixão. Todas elas têm como se fosse uma moral  que, no fim, a gente desenvolve com as crianças. Em geral, quando as aulas são de história, a gente pede que elas desenhem ou pintem elementos do que foi contado, de coisas que elas entenderam ou gostaram”, diz a professora.

A parte de meditar vem por último e pode ser realizada de diferentes formas. Sempre acompanhada de alguns exercícios de respiração , a meditação ainda pode incluir a visualização de objetos ou de sentimentos.

“Por exemplo, com a generosidade como tema, a gente pede que imaginem que do nosso coração sem raios de luz que chegam em todas as pessoas do mundo. Às vezes a gente imagina as cores entrando no nosso corpo, ou que Buda está na nossa frente, ou que os nossos medos estão indo embora, saindo do nosso corpo. Tudo isso com uma linguagem direcionada para as crianças, para que elas possam entender e fazer de forma leve, levando aquilo para o dia a dia delas”, explica Margaret.

Mas, é claro, não são todas que se adaptam à meditação para crianças. A professora afirma que, às vezes, uma criança que é agitada ou chega muito agitada não consegue focar no exercício, “às vezes ela veio de alguma atividade que a deixou acelerada ou vai fazer algo depois que ela quer muito, isso tudo atrapalha”.

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“Às vezes não dá para passar 15, 20 minutos meditando, quando as crianças estão muito elétricas, mas a gente tenta sempre meditar pelo menos uns dez minutinhos. E elas sempre saem com uma 'lição de casa', a gente não chama assim, mas é mais ou menos no sentido de ser algo que a gente encoraja que elas pratiquem durante a semana. Mantras, exercícios de respiração...E isso funciona, na aula seguinte a gente sempre tem o retorno delas, do momento em que usaram, coisas assim", conta.

Crianças pequenas também enfrentam algumas dificuldades simplesmente por não entenderem totalmente a instrução da meditação, ainda que esta seja feita de forma bastante didática.

“Mas elas sempre tentam fazer alguma coisa. As crianças sempre se engajam, acho que têm mais facilidade até do que os adultos, principalmente quando têm que imaginar alguma coisa. Esse aspecto lúdico fica mais fácil pra elas”, pondera.

Vale ressaltar que, no caso das aulas de Margaret, não é necessário ser budista ou adepto da religião  para participar ou inscrever os filhos, pois, como ressalta Margaret, “o budismo, muitas vezes, é mais uma conduta de vida do que uma religião”.

Meditação para crianças com mindfulness

Além da vertente budista, a meditação para crianças pode ser hinduísta ou mesmo vir acompanhada de mindfulness
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Além da vertente budista, a meditação para crianças pode ser hinduísta ou mesmo vir acompanhada de mindfulness


Um outro “tipo” de meditação para crianças e adolescentes é aquele que inclui mindfulness, isto é, uma técnica que consiste em focar no momento, em “sentir o presente”, como explica a professora especializada em mindfulness para jovens Daniela Degani.

Ela defende que a meditação e o mindfulness evita que as crianças ocupem suas mentes “se deprimindo com o passado ou preocupados e ansiosos com o futuro”, ficando mais relaxados e focados - o que permite até que lidem melhor com situações extremas e/ou de risco.

Daniela cita até o caso dos 12 estudantes tailandeses e seu professor que ficaram presos durante dias numa caverna devido a inundações. Na ocasião, o professor e técnico do time de futebol dos alunos contava com treinamento budista e ensinou meditação aos meninos, permitindo que eles mantivessem a calma e pudessem lidar melhor com a situação.

Pensando nisso, a professora, que tem um projeto, o MindKids, que leva aulas de meditação para crianças e mindfulness a estudantes, professores e pais em escolas - até ensinando como estas práticas podem ser incorporadas na sala de aula -, lista  alguns dos benefícios delas aos jovens.

“Melhora a atenção e a concentração, auxiliando em várias tarefas do dia a dia. Melhora a compaixão, porque quem pratica mindfulness também tende a ajudar mais o outro, além de exercitar uma compreensão do que se passa com o outro e o que acontece ao seu redor. E, claro, a meditação para crianças e adolescentes dá mais calma e equilíbrio emocional ao jovem, diminuindo a impulsividade, reduzindo o estresse e ajudando-o a lidar com ansiedades, desconfortos e conflitos que ele possa enfrentar com outras pessoas, seja no ambiente escolar ou familiar”, arguementa Daniela.

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