Agressões físicas e verbais entre crianças e adolescentes são mais comuns do que parecem, e falar sobre o tema é cada vez mais urgente. “O bullying é qualquer atitude que fere ou machuca o outro, levando a vítima a mudar  seus comportamentos”, define Tania Pires, fundadora da Associação pela Saúde Emocional de crianças.  

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O bullying tem consequências psicológicas e é  caracterizado por agressões físicas e verbais entre crianças e adolescentes
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O bullying tem consequências psicológicas e é caracterizado por agressões físicas e verbais entre crianças e adolescentes

"É um problema sério que pode levar a graves consequências e precisa ser extinto", afirma. Na série da Netflix "13 Reasons Why" ("Os 13 porquês"), por exemplo, a protagonista Hannah comete suicídio após diversos casos de bullying . Para evitar situações extremas como essa e reverter o problema, pais e educadores devem estar sempre atentos ao comportamento de crianças e adolescentes.

Como identificar? 

De acordo com Tania, existem dois sinais principais: a mudança de comportamento e passar a evitar o lugar onde está sofrendo as agressões. “Uma criança que se torna irritadiça, nervosa ou agitada pode indicar que algo difícil acontece com ela”, explica. Crianças que gostavam de ir à escola ou ao clube, por exemplo, podem passar a buscar desculpas para parar de frequentar o ambiente – também indicando que algo não está certo.

Ao perceber esses sinais, o primeiro passo é se aproximar sutilmente para uma conversa. Os pais devem buscar deixar a criança segura de que ela pode contar sobre a situação e que terá o apoio deles. Esse contato sutil é necessário porque, para muitas crianças, relatar o bullying pode ser difícil, já que o agressor pode ameaçar a vítima e fazer com que ela se sinta coagida. “Perguntas muito diretas não funcionam tão bem quanto o acolhimento e o oferecimento de ajuda”, orienta Tania.

O que fazer?

Depois de identificar o problema, é preciso agir para que a situação não persista. “A criança pode estar com a autoestima deteriorada e é primordial ajudá-la a perceber que ela não tem culpa – e que ninguém tem o direito de fazer isso com ela”, comenta Tania.

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A criança deve sentir que está em um ambiente seguro para conseguir relatar o problema aos pais

É essencial reportar o fato à pessoa responsável pelo local onde as agressões estão acontecendo. Se a situação estiver acontecendo na escola, os pais devem levar o caso até o coordenador pedagógico da instituição. É válido lembrar que a criança precisa estar ciente  da decisão de reportar o problema. “Ela precisa perceber que está sendo protegida, mas que tem voz na tomada de decisão”.

Em ambientes onde não há um responsável formal, como em um condomínio ou clube, os pais devem procurar a família do agressor e reportar o que está acontecendo para que eles também barrem o problema.

A partir de agora, o principal cuidado que os pais devem ter é o de manter o canal de comunicação com a criança ou o adolescente totalmente aberto. Esse jovem deve sentir-se confortável para relatar o que está pensando e como se sente com tudo que está acontecendo com ele. De acordo com Tania, será um processo de vigilância por parte dos pais assegurar que o problema foi resolvido. Se o problema persistir mesmo com a intervenção dos responsáveis e da escola, talvez seja preciso tomar medidas como mudar a creiança de escola. Lembrando-se sempre de que essa deve ser uma decisão tomada em conjunto com a vítima. 

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Meu filho é o agressor, e agora?

Os pais também precisam estar preparados caso o agressor seja o próprio filho. Tania explica que, nesse caso, a identificação do problema é mais difícil. “É necessário que tenham sensibilidade para notar as entrelinhas em uma conversa ou o fato da criança se referir a outra de forma jocosa”, diz.

Um grande alerta é quando a criança ou o adolescente se vangloria de brincadeiras e atitudes não sadias. Para a profissional, é possível que os pais precisem “dar corda” para detectar o comportamento. No entanto, é mais comum ficar sabendo da situação a partir da reclamação de outros pais.

A profissional exlpica que antes mesmo de conversar com a criança é preciso refletir sobre a situação. “O agressor também precisa de ajuda e optar por bullying indica que faltam melhores opções para lidar com algo difícil para ele”, comenta. Nesse sentindo, é importante que os pais estejam preparados para uma conversa serena, para conseguir compreender e educar essa criança.

Os pais do agressor devem ser firmes, mas ainda assim fazer com que a criança se sinta segura no ambiente familiar
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Os pais do agressor devem ser firmes, mas ainda assim fazer com que a criança se sinta segura no ambiente familiar

O comportamento não deve ser tolerado de forma alguma e os pais devem manter-se firmes em relação a isso. No entanto, esse filho precisa continuar se sentindo aceito pelos pais, isso o fortalece para conseguir mudar o comportamento.

Para evitar situações como essa, a família deve sempre trabalhar o desenvolvimento das habilidades emocionais e sociais da criança para que ela consiga lidar de forma positiva com as dificuldades. Além disso, conversar e ensinar o exercício da empatia.

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Papel da escola 

Se a agressão acontecer no ambiente escolar, é essencial que os profissionais do colégio fiquem cientes do que está havendo. Afinal, a diretoria da escola é responsável pela saúde emocional do ambiente escolar, ou seja, eles são responsáveis para lidar da melhor forma com casos de agressão entre alunos.

De acordo com Ana Regina Braga, psicopedagoga e especialista em educação, a equipe psicológica da escola deve ser informada para iniciar uma possível observação e investigação com a equipe pedagógica sobre as causas do problema. Nesse caso, o psicólogo é importante para analisar e compreender as causas e consequências do problema tanto para a vítima quanto para o agressor.

 “A principal forma de lutar para evitar o bullying é investir em prevenção e estimular a discussão aberta com todos os atores da cena escolar, incluindo pais e alunos”, orienta a psicopedagoga.

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