Você já teve alguma dificuldade em se comunicar com pessoas surdas? O animador Paulo Henrique Rodrigues já e foi exatamente por isso que ele decidiu criar o  desenho animado " Min e as Mãozinhas". A ideia, segundo ele, é apresentar uma forma de entretenimento infantil que também auxilie crianças surdas e ouvintes a aprenderem LIBRAS, a Língua Brasileira de Sinais.

O desenho animado 'Min e As Mãozinhas' foi criado com foco de ajudar crianças surdas e ouvintes a aprenderem LIBRAS
Divulgação
O desenho animado 'Min e As Mãozinhas' foi criado com foco de ajudar crianças surdas e ouvintes a aprenderem LIBRAS


Em entrevista ao Delas , Paulo Henrique explica que as crianças surdas não têm um desenho animado que possam simplesmente sentar e aproveitar, principalmente porque não existe a opção de legendas ou intérpretes de janela em muitos dos programas infantis. “Antes de aprender a ler, as crianças mais novas não conseguem acompanhar legendas, ou então precisam dividir sua atenção entre a ação do intérprete de janela e a ação do desenho."

Outra questão é que, muitas vezes, a socialização é bastante complicada e não apenas no caso das crianças. Apesar de existirem 9,7 milhões de surdos no Brasil e a Língua de Sinais ser a segunda língua oficial brasileira, o ensino como não é implementado nas escolas e, consequentemente, pessoas ouvintes acabam não aprendendo essa alternativa de comunicação. 

Para quebrar essa realidade e fomentar a inclusão , "Min e as Mãozinhas" é um desenho inteiramente em LIBRAS e com uma personagem principal surda. "O desenho permite que as crianças surdas simplesmente aproveitem as aventuras da Min ao mesmo tempo que ensina vocabulário de LIBRAS para o público ouvinte", diz o animador.

No desenho, Min se comunica com animais, como o Elefante, o Gato e o Esquilo, e LIBRAS é como um idioma que supera as barreiras de comunicação. “Com o aprendizado dessa nova língua, eles conseguem se comunicar sem medo e ficar cada vez mais amigos, em uma sociedade mais compreensiva e inclusiva." 

O projeto estreou em alguns cinemas brasileiros em setembro e, agora, está sendo disponibilizado no Youtube. Em uma semana, o primeiro episódio da série recebeu nais de 138 mil visualizações e 533 comentários. "Temos muitas mensagens de elogio de professores, intérpretes, mães, surdos, ouvintes e até pessoas que nem conheciam LIBRAS e ficaram com vontade de aprender", conta Paulo Henrique. 

Desenho ajuda na representatividade de crianças surdas 

Por causa da personagem principal do desenho, as crianças surdas se sentem representadas e percebem a inclusão
Reprodução/Youtube
Por causa da personagem principal do desenho, as crianças surdas se sentem representadas e percebem a inclusão

Outra questão levantada pelo idealizador do desenho é a representatividade dessas crianças. Nadabia Pereira, mãe de Yzis, de sete anos de idade, conta ao Delas que a filha ficou "muinto encantada" ao assistir ao desenho pela primeira vez. "É muito raro a gente ver a inclusão dos surdos e foi importante, porque minha filha viu que a personagem é igual à ela e conseguiu entender sobre o que eles estavam conversando."

Segundo a mãe, a filha sempre consumiu conteúdo infantil na televisão e na internet, mas o fato de não conseguir escutar o que os personagens falavam não permitia a experiência completa. "Ela mostrou o vídeo para todos os colegas de escola e fica repetindo os episódios", conta. 

No caso de Paloma Bartholomeu, que é mãe de Giovanna, de dois anos de idade, a recepção foi a mesma. "Ela assiste a desenhos comuns com intérpretes e acho que viu no desenho de Min algo bem diferente, porque tem tudo que ela está acostumada a fazer no mundo dela (comunicação por LIBRAS), mas que nos desenhos ainda não encontrava."

"Outro fato é que, em vez do elefante, gato e o esquilo falarem a língua deles, eles se comunicarem com a Min da mesma forma que ela se comunica, ou seja, em LIBRAS. Isso ajuda a minha filha a entender o que é uma sociedade inclusiva", completa. Ela também explica que o desenho apresenta os sinais simples, como "bom dia", "boa noite" ou "oi" e isso facilita para que crianças de diferentes idades compreendam o contexto dos episódios.

O desenho pode ajudar tando crianças surdas a aprenderem LIBRAS, quanto ouvintes a entender a realidade dos surdos
Divulgação
O desenho pode ajudar tando crianças surdas a aprenderem LIBRAS, quanto ouvintes a entender a realidade dos surdos

Mas não é só para as crianças surdas que projetos de inclusão podem fazer diferença.  Sabrina Lage é mãe de Catharina, de dois anos, mas diferente dos dois primeiros casos, a menina é ouvinte e os pais são surdos  . Tendo uma criança Coda (termo para "child of deaf adults" ou "filha de pais surdos", em português), Sabrina acha que o desenho também pode ajudar outros pais que são deficientes auditivos. 

"Assistindo à animação, minha filha logo percebeu o piscar/acender das luzes e apontou exclamando que era igual à nossa casa, pois também usamos essa forma para que as pessoas possam nos chamar por meio de uma campainha visual", conta. 

Ela lembra que pais surdos têm tanta dificuldade de se comunicar com seus filhos quanto pais ouvintes com crianças que não escutam. Entretanto, a maior dificuldade para ambos ainda é se comunicar com o mundo externo. Por isso, iniciativas de inclusão e representatividade podem provocar uma reflexão em em pessoas ouvintes sobre as vivência e experiências dos surdos.

"A dificuldade, na realidade, vem mais da consciência da pessoa, da falta de conhecimento ou até mesmo por pura ignorância por parte da pessoa que não busca entender ou conhecer a pessoa surda e suas particularidades, como pelo fato de percebemos o mundo por meio de recursos visuais, por exemplo", afirma. 

O ensino de LIBRAS pra a inclusão de crianças surdas

Segundo as mães entrevistadas pelo Delas, o ensino de LIBRAS pode ajudar nesse processo de inclusão de crianças surdas
Reprodução/Youtube
Segundo as mães entrevistadas pelo Delas, o ensino de LIBRAS pode ajudar nesse processo de inclusão de crianças surdas

As três mães e Paulo Henrique afirmam que a realidade das crianças surdas ou de Codas poderia ser mudada ao dar  importância para o ensino de LIBRAS nas escolas. "Infelizmente as pessoas só entendem essa importância quando convivem com um surdo", desabafa Paloma.

"Antes da minha filha nascer, eu nunca refleti sobre a importância de aprender LIBRAS e depois de conhecer a língua vi o quanto é possível a comunicação por sinais e o quanto esse mundo é fascinante e pode ser iniciado desde tão cedo", complementa. 

Nadabia concorda e menciona que isso evitaria que as pessoas surdas precisassem escrever ou fazer mímica, por exemplo, para que pessoas ouvintes entendessem o que elas estão querendo dizer. "As pessoas não sabem lidar com os surdos, principalmente os adultos e isso reflete muito o preconceito que ainda existe", diz. 

Sabrina complementa que, nos últimos anos, a comunidade surda teve grandes avanços em direção à inclusividade, mas ainda é um problema persistente. "A sociedade ainda é excludente em relação às pessoas que não ouvem ou que têm dificuldade para ouvir, sobretudo as crianças surdas . É importante que pessoas ouvintes criem essa consciência de que existem pessoas com surdez e percebam as peculiaridades das pessoas surdas", finaliza. 

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