Uma das maiores dificuldades da vida adulta é saber lidar com as próprias finanças. Onde guardar dinheiro? Como não gastar de forma desenfreada? Como se planejar para conseguir conquistar os próprios bens? De acordo com especialistas da área financeira, a alternativa para os pais que desejam evitar que essas dúvidas atrapalhem o futuro de seus filhos é ensinar, desde o início da infância, sobre educação financeira.
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“A educação financeira, ao contrário do que muitos pensam, não é ser o famoso pão duro'', explica o investidor e criador do canal Mestre da Riqueza, André Janeiro Dias. O especialista detalha que a educação financeira aborda a noção de se planejar e se organizar para usar o dinheiro a seu favor.
A organização das finanças pessoais depende do objetivo pessoal de cada indivíduo, seja na aquisição de uma casa própria, na compra de um carro, educação, viagens internacionais ou na criação de uma renda passiva.
“Na prática, para chegar nos seus objetivos, é necessário ter planejamento financeiro e saber utilizar o salário de forma coerente e inteligente, calculando decisões certeiras que não impactem o bolso negativamente”, conta André.
Engana-se, alertam os profissionais, quem imagina que crianças não têm noção disso. “Desde o início da infância, crianças são constantemente bombardeadas com informações e dados sobre finanças. Seja ao aprenderem sobre dinheiro na escola, ou ao pedirem um brinquedo de presente para os pais, a economia é um fator presente na vida dos pequenos”, explica Rafaela Silva, educadora financeira e professora de matemática de São José dos Campos (SP).
Consequentemente, a educação financeira é a melhor forma de ensinar as crianças a entenderem a importância da economia e da responsabilidade com o dinheiro desde a infância.
“A criança consegue começar planejar o seu futuro já criando metas e objetivos e dessa forma chegar na fase adulta mais preparada para conquistar os seus sonhos”, reflete André.
Como ensinar meu filho a lidar com dinheiro?
Assim como qualquer tema, a educação financeira deve ser trabalhada durante toda a infância da criança. Assim, ela terá mais segurança para lidar com dinheiro em qualquer fase da vida.
Os pais devem ensinar a criança de que, para lidar com dinheiro, é necessário ter organização e planejamento acima de tudo. Os pequenos devem aprender como economizar, além de entenderem como e onde gastam o próprio dinheiro, estabelecendo prioridades, metas e objetivos.
Mas como fazer isso? “Entre 3 e 5 anos a criança pode ter um cofrinho e os pais podem começar dar pequenas moedas para que a criança comece ter uma noção sobre poupar dinheiro”, instrui Dias.
Os cofrinhos, além de muito didáticos para crianças menores, também podem oferecer um momento de diversão e interação entre pais e filhos. Atividades como a contagem de moedas e a definição de um prazo para a quebra do cofrinho podem facilitar ainda mais esse ensino.
A pedagoga Rafaela Silva afirma que jogos como a criação de uma “lojinha de brincadeira” também podem orientar os menores sobre o valor do dinheiro. “Coloque os brinquedinhos ‘à venda’ e ensine seu filho sobre o valor dos mesmos, fazendo-o escolher com as moedas guardadas. Essa é uma maneira divertida de ensiná-lo a ter prioridades.”
Entre 6 e 8 anos, Dias explica que a criança já pode começar a ter noções do uso consciente do dinheiro. Como eles já estão velhos o suficiente para entender sobre isso, a mesada é uma boa maneira de iniciar os ensinos sobre planejamento financeiro.
O especialista alerta que é preciso ser rígido sobre o valor e a periodicidade da mesada. “Se acabar a mesada, não pode ter moleza. Ao perceber a dificuldade para comprar um videogame, por exemplo, a criança vai entender o esforço embutido ali para conquistar tal objetivo.”
Portanto, se ela realmente quiser conquistar o que deseja, terá que se esforçar para guardar o valor necessário. “Tudo isso vai reforçar a ideia na cabeça da criança sobre “poupar” e o gasto “consciente” do dinheiro”, afirma.
Dar o exemplo também é primordial: pais sem educação financeira criam filhos sem educação financeira. Mostrar exemplos pessoais é a melhor forma de preparar os menores para o futuro, aponta Rafaela: “Se você mostrar que, com o próprio esforço, conseguiu conquistar os seus sonhos, vai conseguir provar para seu filho que ele também pode.”
Um dos pais que acredita fielmente na educação financeira infantil é Eduardo Corona (40), pai de Davi (6). Para ele, foi automático: desde a própria infância, Eduardo foi ensinado a guardar e poupar o próprio dinheiro pelo pai.
“Desde quando o Davi fez um aninho, começamos a juntar um valor para a faculdade dele. Também ensinamos ele que, guardando o dinheiro, ele pode comprar as coisinhas dele quando ele quiser e não depender do dinheiro do pai e da mãe”, conta.
O pai afirma que a educação financeira terá um impacto real na vida de Davi: “Isso vai fazer com que ele tenha mais responsabilidade com dinheiro, e ele não vai sair gastando à toa. Eu não conquistei nada fácil, foi muito suado, tudo que eu tenho hoje. Ele vai seguir o mesmo caminho.”
Uma das formas que Eduardo encontrou para ensinar Davi sobre o valor do trabalho é com o negócio de sua sogra, que vende marmitas. “Quando eu vou entregar as marmitas para as pessoas do meu prédio, levo meu filho comigo. Na hora do pagamento, peço para entregarem uma nota ou outra para o meu filho, nem que seja uma moeda de um real. Desse jeito, ele vê que é trabalhando que se ganha, que desse jeito, ele consegue conquistar as coisas”, finaliza.
Além dos pais, como é o caso de Eduardo, as escolas também são parte desse movimento de educação: desde 2020, a educação financeira também foi incluída na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento que orienta os temas de aprendizagem essenciais nas escolas brasileiras. O texto afirma que assuntos como “taxas de juros, inflação, aplicações financeiras (rentabilidade e liquidez de um investimento) e impostos” podem ser discutidos em sala de aula.
“A educação financeira é o futuro de nossos pequenos, simplesmente porque, com ela, eles aprendem a ter decisões racionais sobre o dinheiro, e isso é essencial. O analfabetismo financeiro, que é quando uma pessoa não conhece as próprias finanças, é um problema real, e estaremos lutando diariamente contra ele. E os pais devem, também”, finaliza a professora.