Amanda Lima fatura R$ 3 milhões ao ano com decoração de festa brasileira
Acervo pessoal
Amanda Lima fatura R$ 3 milhões ao ano com decoração de festa brasileira

Feche os olhos e imagine agora o que toda festa de aniversário precisa ter. Para os brasileiros, é impossível fazer isso sem incluir os salgados, o brigadeiro, o beijinho, as bexigas e o parabéns na mesa do bolo. Nos Estados Unidos, o costume não é esse, mas quem vive na região de Orlando passou a conhecer (e se encantou) com esse estilo graças à decoradora e empreendedora Amanda Lima, que mora na cidade há nove anos.

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A brasileira de 32 anos decidiu levar para a terra do Tio Sam o jeito brasileiro de festejar com a empresa Partyland Events e passou a faturar US$ 700 mil ao ano, o equivalente a R$ 3 milhões na cotação atual. No ramo, conquistou uma cartela recheada de clientes cobiçados e o título de decoradora dos famosos. Virgínia Fonseca, Zé Felipe, Michel Teló, Patrícia Abravanel e Ivete Sangalo estão entre os brasileiros que ganharam uma festa idealizada por Amanda.

Celebridades internacionais também se renderam à brasilidade para comemorar. Diretores de cinema, jogadores de golf e atletas da NFL e NBA estão entre os contratantes recorrentes de Amanda. Só para se ter uma ideia, ela atende quase todos os jogadores do Orlando Magic. Entre eles está Terrence Ross, a quem ela apresentou o costume de deixar um espaço entre a mesa do bolo e a parede para cantar parabéns – um costume que causou estranheza no início, mas que Ross passou a realizar todos os anos.

"Tem clientes americanos que estão comigo há mais de dois anos e só pedem o formato de festa brasileiro, desde o bolo e o brigadeiro até o fotógrafo. Tudo o que eu faço é meu diferencial porque levo minha cultura para dentro das festas americanas", conta Amanda ao iG Delas. "Os norte-americanos não têm estilo para festa. É uma toalha de mesa e um bolo em cima para festas infantis. As pessoas diziam que não tinha mercado para mim, mas eu vi diferente. Não tinha concorrência. O meu maior concorrente é uma rede muito grande de festas que vende fundos de papel que são colados na parede".

Em média, são 42 decorações feitas por mês, desde aniversários até chás de bebê e casamentos. Mesmo com base em Orlando, a empreendedora já levou o trabalho da Partyland até Seattle e Carolina do Norte; e fará sua estreia em Toronto, no Canadá, em 2023.

O barulho feito por Amanda no setor norte-americano chamou atenção em terras tupiniquins. Andrea Guimarães, um dos party planners de maior renome do Brasil, foi quem a contratou para Ivete Sangalo. "Ele queria que eu fizesse a festa do empresário da Ivete, o Dito. Quase caí para trás. Ela quis uma festa pequena com o tema super-herói", lembra.

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"A gente fez um porta-retratos com a frase: 'Nem todo super-herói usa capa'. Lembro que a Ivete ficou muito impressionada. Ela não estava ligando se a festa era de rico, se era gigante, se as flores eram naturais ou artificiais. Foi ali que eu vi que o diferencial do que a gente fazia era o lado afetivo", continua.

Jornada na terra do Tio Sam

Acervo pessoal
"Levo minha cultura para dentro das festas americanas", diz Amanda Lima

Amanda brinca que a cegonha a derrubou no lugar errado. Ela sempre teve uma forte ligação com os Estados Unidos, principalmente por influência dos filmes que assistia na Sessão da Tarde quando criança. Ao completar 21 anos, começou a planejar a primeira viagem para o país, com destino a Nova York. "Meu namorado iria comigo, mas recebeu uma promoção no trabalho e não pode ir. Minha madrasta me deu a ideia de mudar as passagens para Orlando e levar minha irmã mais nova, na época com 15 anos", conta.

Para ela, a primeira viagem foi como ter, finalmente, voltado para casa. "Eu não me perdi, e olha que o transporte público aqui é caótico. Vivi tudo como se fosse uma nativa. Foi a maior experiência da minha vida". Com três dias de viagem, ela ligou para a mãe e disse que terminaria o namoro para morar nos Estados Unidos. Chegou a receber ofertas de ajuda de uma conhecida que morava ali.

Ao chegar ao Brasil, Amanda foi pedida em casamento no aeroporto. "Como boa aquariana, eu não sei falar não. Aceitei, mas avisei que queria morar nos Estados Unidos. Ele queria terminar a faculdade primeiro, então acabou me convencendo a ficar". O casal marcou o casamento, comprou apartamento e até planejou a mobília, mas a empreendedora estava muito infeliz. Foi quando o esposo topou vender tudo para seguir o sonho de Amanda. "A gente se casou. No dia seguinte, estávamos morando aqui", afirma.

Chegaram ao país com apenas US$ 1,5 mil e em busca da mulher que ofereceu ajuda e a incentivou a fazer a mudança. Ela contatou a mulher, que desapareceu e a bloqueou em todas as redes sociais. Amanda e o marido também foram vítimas de um golpe que custou a eles US$ 800. "Um driver disse que nos ajudaria a arrumar a casa e abrir uma conta no banco, e adivinha só... Sumiu também", diz.

Os dois chegaram a comprar a passagem de volta para o Brasil, mas Amanda convenceu o marido a não desistir. Encontraram uma brasileira e dividiram a casa dos fundos dela com outras oito pessoas. Amanda era a única mulher, mas conta que, ao contrário do que pensam, não sentiu medo: "Podiam ter 40 pessoas, eu não estava nem aí. Tinha muita certeza do que eu queria", conta, rindo.

O marido conseguiu um emprego como garçom no Camila's, famosa rede de restaurantes brasileiro do país, enquanto Amanda passou a trabalhar fritando pastéis em uma padaria brasileira. Uma dia, uma cliente esqueceu a carteira dentro do estabelecimento e Amanda prontamente contatou a mulher para devolvê-la.

"Era uma das funcionárias da Bella Falconi. Ela ficou surpresa com a atitude e me convidou para uma entrevista para trabalhar em uma loja de produtos de cabelo. Fiquei lá por três anos. Só saí depois que ganhei minha filha".

A relação com a decoração

Amanda Lima sentada, segurando três balões rosas
Acervo pessoal

Na pandemia, Amanda passou a ensinar outras mulheres para que alcancem independência financeira e entrem no ramo da decoração de festas

O vínculo de Amanda com a decoração de festas não é diferente do da grande maioria dos brasileiros. "Quando eu era pequena, minha mãe e minha tia faziam minhas festas. Enrolavam papel crepom e colocavam na borda da mesa, por exemplo. Minha influência veio delas, mas nunca imaginei que me tornaria decoradora", conta.

Anos depois, aos 14 anos, ela conseguiu o primeiro emprego em um buffet infantil, como monitora. "Era o buffet que tinha a maior piscina de bolinhas da América Latina", lembra Amanda. "Realmente, a gente atrai o que a gente vibra", acrescenta, sorrindo.

Nos Estados Unidos, ela repetiu o mesmo empenho da mãe e da avó para comemorar os mesversários da filha, Maria. Quando a pequena completou um ano, Amanda decidiu contratar uma empresa de decoração, uma das decisões mais frustrantes da vida dela.

"Quando entrei na festa, não era nada do que eu tinha pedido e nem do que me cobraram para fazer. Fiquei muito decepcionada. Lembro que pedi uma parede de balões que formassem o número 1. Quando cheguei, era um quadrado de balões com um 1 que, logo, se tornou um zero, porque os balões foram caindo", lembra.

A festa que mudou tudo foi a de uma amiga, que queria organizar um chá de bebê com US$ 150 dólares e quatro ursos. O planejamento foi de um dia para o outro. "Desmontei minha sala de jantar para usar minha mesa, peguei uns caixotes que tinha na lavanderia, meus dois armários de cabeceira e fui montando tudo. Com o dinheiro, compramos os balões e as flores".

A decoração impressionou tanto que Amanda saiu de lá com duas encomendas sem a Partyland Events sequer existir ainda. "No início, as pessoas queriam ver meu portfólio, e eu não tinha. Ganhava o cliente na conversa até ele esquecer que queria um portfólio", conta.

"Dizia que o dia mais feliz da minha vida seria quando eu não tivesse tempo para postar os meus trabalhos na internet. Das mais de 40 festas que faço por mês, postamos apenas cinco no Instagram. Esse dia chegou", acrescenta.

Uma nova missão

Mesmo durante o boom da pandemia da Covid, Amanda conta que chegou a fazer a decoração de pequenas comemorações, mas houve uma queda no número de contratações. A empreendedora se viu inquieta ao perceber que muitas mulheres perderam os empregos e se preocupavam sobre como pagariam as contas no fim do mês.

Assim, Amanda decidiu expandir o negócio com o Arte de Balões, seu curso de decoração com balões, para ajudá-las a se reerguer financeiramente. "Percebi que, mais do que decorar e proporcionar felicidade instantânea para as pessoas, eu poderia deixar um legado maior ensinando outras pessoas a fazerem o que faço".

Em três dias, Amanda, com a ajuda das irmãs, aprendeu todo o necessário para ingressar no mercado digital. O investimento rendeu frutos e surpreendeu com a repercussão: a ideia dela era conquistar um aluno, mas acabou com 40. Até o momento, Amanda vendeu 140 cursos.

"Meus alunos estão voando, não só como profissionais, mas como pessoas. Recebo muitos depoimentos de mulheres que se foram amparadas pelo curso, que venceram a depressão, por exemplo. Foi aí que descobri que, mais do que amar decorar, eu amo ensinar as pessoas", diz.

Não há preocupação de que essas pessoas “tomem” o espaço de Amanda no mercado? Ela garante que não: "Muitos cursos ensinam as coisas pela metade para impedir isso. Eu não. Ensino tudo. Se o mercado estiver valorizado, automaticamente eu ganho mais".

A empreendedora olha para os anos nos Estados Unidos com muito orgulho da própria trajetória e da forma como conseguiu se destacar. No Arte de Balões, ela usa a própria história para incentivar que outras pessoas não desistam – assim como ela não se permitiu desistir, mesmo quando quis.

"Sempre digo para as pessoas se manterem honestas, terem Deus no coração e não pararem até terem orgulho delas mesmas. A carreira, assim como uma receita de bolo, tem um tempo de preparo. As pessoas podem ter a melhor receita e saber fazer, mas, sem deixar assar, esse bolo vai ficar cru. Um conselho que posso dar é para que as pessoas aprendam a fazer a receita e continuem fazendo pelo tempo necessário, até que dê certo".

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