Lançar um produto, qualquer que seja, já é um desafio. Imagine só criar um novo nicho de mercado, em um segmento rodeado de dúvidas, incertezas e preconceitos. Esse foi o passo dado por Mariana Betioli, administradora e obstetriz, quando começou a fabricar no Brasil o coletor menstrual, chamado amigavelmente de copinho. Ela teve contato com o produto por volta de 2007 e 2008, no Canadá, e se encantou. "Toda mulher vai querer usar isso", acreditou.
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Mariana conta que naquele momento viu um "trenzinho passando com uma oportunidade" e resolveu embarcar. Todos os seus amigos e parentes desacreditaram da iniciativa. Teimosa, como se define, ela tocou o projeto adiante.
"A menstruação é limitante para muitas mulheres, que deixam de sair, de trabalhar, com receio de vazar na roupa. Eu estava diante de um produto que ia restabelecer a liberdade feminina, é uma questão de igualdade de gênero", avalia.
Para Mariana, a menstruação é vista como algo que incomoda, tem cheiro, dá vergonha. "Quando elas usam o coletor menstrual percebem que não tem cheiro, são milhões de mulheres que se sentem fedidas, impuras, inadequadas, que passam ter outra possibilidade de relação com o próprio corpo."
Trabalho de informação
Antes de se lançar no mercado, Mariana fez muita pesquisa e descobriu que era um artigo inédito no Brasil. Desde a definição do material, que não pode ser qualquer um, até a maleabilidade, foram dois anos de estudo, até partir para as vendas, tudo pela internet. Por estar em um segmento rodeado de tabus, Mariana decidiu que a Inciclo seria uma fonte de informação.
"No começo, a gente não podia falar em menstruação que as redes sociais bloqueavam as postagens, a gente dizia 'você que está naqueles dias'", lembra a empresária, que hoje cuida pessoalmente da aprovação de tudo o que circula de informação pelos canais da Inciclo, como blog, canal no YouTube, Instagram, Facebook e TikTok.
Outros produtos
Além do coletor menstrual, a Inciclo trabalha com outros produtos focados em higiene íntima, como a calcinha absorvente, feita de tecido com camada respirável, e o recente disco menstrual, que fica no colo do útero e permite relações sexuais com penetração, sem que o companheiro sequer perceba. "85% tem a libido aumentada na menstruação, mas mais da metade não tem nenhuma experiência sexual no período", diz Mariana. O disco menstrual melhora essa possibilidade.
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O coletor começou a fazer sucesso com garotas mais alternativas, mais conscientes de desperdício que os absorventes representam. Segundo Mariana, uma mulher gasta 13 mil absorventes em toda vida. O coletor, que deve ser trocado a cada 3 anos, equivale a mil absorventes. A sustentabilidade foi o apelo que conquistou essas primeiras clientes. Conforme mais mulheres usavam, mais a novidade se espalhava, graças a experiências positivas com o produto.
"Chegamos a um nível de satisfação de 99%", revela Mariana, que há quatro anos passou a dar uma garantia: quem não se adaptar, recebe o dinheiro de volta. Entre 2015 e 2016, a empresa viveu seu primeiro boom de vendas. O segundo, em pela pandemia, de 2020 a 2021, viu as vendas quadruplicarem. Mariana, que mora na Flórida com o marido e três filhos, precisou vir mais vezes ao Brasil. Agora, ele segue em home office, comandando tudo dos Estados Unidos, além do almoço das crianças.
Para a empresária, os itens de higiene íntima deveriam ser considerados de necessidade básica, "que é o que são", com a incidência de menos impostos, para que pudessem ser acessíveis a um número cada vez maior de mulheres.