O movimento feminista busca oportunidade de direitos para todos
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O movimento feminista busca oportunidade de direitos para todos







Feminismo e cristianismo não combinam? Toda feminista é promíscua? Não é de hoje que circulam nas instituições religiosas cristãs mentiras e fake news sobre o movimento feminista . Com mais de 80 milhões de mulheres cristãs no Brasil, é preciso desmistificar a ideia de que existiria uma contradição entre ter uma fé religiosa e lutar contra a violência de gênero

Listamos algumas afirmações falsas sobre o feminismo disseminadas pelas redes sociais e pedimos que a cientista social Brenda Carranza, professora e pesquisadora no Departamento de Antropologia Social e co-coordenadora do Laboratório de Antropologia da Religião da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), explicar porque as frases não são verdadeiras. Veja as respostas a seguir.

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Feministas são contra a família 

Uma das principais fake news sobre o movimento feminista é que seu objetivo seria a destruição da família. Isso não passa de um mito. Algumas das principais bandeiras do movimento dizem respeito à maternidade, como planejamento familiar, acesso a atendimento médico pré-natal para todas as mulheres, fim da violência obstétrica , divisão de tarefas no lar, entre outros. 

O que é verdade é que o movimento feminista questiona o papel da mulher como submissa, subserviente e dependente.  "O feminismo é um movimento histórico que tem mais de 120 anos de existência. Ele nasce para reivindicar os direitos das mulheres e busca ampliar a presença da mulher no mundo e em diferentes tipos de lugares, como no trabalho e na educação, para que todos tenham as mesmas condições e oportunidades", explica a pesquisadora.

As feministas querem acabar com as “mulheres femininas”

As feministas não são contra as “mulheres femininas”, contra se depilar, usar batom, vestido ou salto alto. O que o feminismo defende é que as mulheres que não querem fazer essas coisas sejam igualmente respeitadas. 

"As religiões têm uma visão de como a mulher deve ser, a 'mulher ideal'. Quem não se encaixa nisso tende a ser acusada de louca, vadia, feminista, subversiva e terrorista", diz Carranza.

Vale lembrar que diversas mulheres declaradamente feministas, como a cantora Beyoncé (que é cristã, inclusive), se sentem totalmente à vontade para ter cabelo comprido, usar maquiagem e até adotar o sobrenome do marido. O importante é que cada mulher possa fazer suas escolhas. 

As feministas buscam matar “bebês”

O movimento feminista acredita que cada mulher (ou pessoa trans nascida com útero) deve ter autonomia sobre o próprio corpo e decidir quando e se quer ter filhos. A defesa da legalização do aborto visa dar condições para quem decidiu interromper uma gestação possa fazer isso sem risco de morte, mas de forma alguma pretende impor o procedimento a quem é contrária a sua realização. 

"Colocar a legalização do aborto no mesmo patamar do assassinato é reduzir a clichê a própria incapacidade da sociedade de lidar com o assunto tão delicado. O tema da legalização do aborto é um assunto que envolve o cuidado da vida sexual das mulheres, da sua educação e da sua saúde. O poder público deve oferecer as mesmas condições de acesso à informação e assistência médica e legal a todas as mulheres, independentemente de sua condição social, pois os abortos ilegais seguem acontecendo", diz.    

Toda feminista é promíscua ou  lésbica

"Dizer que toda feminista é promíscua é o mesmo a dizer que toda mulher que busca ter as mesmas oportunidades, condições e direitos que os homens é terrorista. Simplesmente não faz sentido", diz. A pesquisadora explica que ao longo das últimas décadas, muitas ações que buscam os direitos das mulheres (como a Marcha das Vadias) foram alvos de críticas e desqualificação.

Esses clichês e acusações, baseados em padrões morais tradicionais, são ferramentas para tentar desqualificar o movimento. Existem feministas que são lésbicas, do mesmo modo que existem feministas hetero e bissexuais. Assim como existem feministas que se relacionam com várias pessoas, outras que vivem em casamentos monogâmicos ou são solteiras. São escolhas individuais e que me merecem ser respeitadas. 

Feministas não podem ser cristãs

Ter uma religião não impede ninguém de ser feminista. Existem feministas católicas , evangélicas, espiritualistas, muçulmanas, candomblecistas... O foco não é destruir a fé, mas combater a violência contra a mulher e buscar igualdades de oportunidades. 

"Nos espaços religiosos, as mulheres têm conquistado, com muito trabalho e sacrifício, a oportunidade de se manifestar, crescer publicamente e construir novas formas de relação de igualdade entre homens e mulheres. Muitas mulheres, ao longo das últimas décadas, têm reivindicado como cidadãs eclesiais sua participação nas igrejas. A própria pastoral das igrejas é sustentada pelo trabalho feminino", diz.

Corazza acrescenta que incontáveis igrejas evangélicas são presididas por pastoras que, graças a insistente reivindicação, seus salários são iguais aos dos pastores, sua voz e voto são respeitados.

"Há teólogas e professoras de teologia, produzindo conhecimento religioso e ensinando esse conhecimento. Inúmeras lideranças femininas mantêm a fé, a caridade e fraternidade nas comunidades do Brasil profundo, onde sacerdotes e pastores não chegam. Essas são as mulheres que estão lá dividindo seu tempo de trabalho, suas responsabilidades familiares, sua participação na vida comunitária como cristãs. Se isso não é feminismo cristão o que seria?". 

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