Elas completaram, em 2020, cinco anos de empresa e, em tão pouco tempo, acumulam tantas histórias de bastidores de obras e reparos que já foram parar até em exposição de museu. São as integrantes do Concreto Rosa, grupo que reúne, hoje, nove mulheres , entre arquitetas, eletricistas, pintoras, engenheiras etc. A seguir, elas falaram ao jornal Extra sobre as dores e as delícias do trabalho que realizam.
- Este ano tem sido difícil para muitos empreendedores. Como foi no caso de vocês?
Todos os anos sempre foram de altos e baixos. Mas este veio também como um divisor de águas e serviu para a gente recalcular rotas em meio à loucura, à incerteza e ao medo. Nasceu um projeto, que estamos finalizando e vamos lançar neste novo ano, que pensa exatamente nessa saída da “zona de conforto”. É um projeto que visa a reformas nas periferias, com um potencial de gerar mais impacto. Os atendimentos também tiveram suas peculiaridades, todos passaram a olhar a casa como um local mais que sagrado. Não estou dizendo que é uma regra. Mas talvez aquela goteira, aquela elétrica estranha passou a ter outro sentido e urgência também. Atendemos na pandemia, mas diminuindo o número de colaboradoras e tomando todos os cuidados. Vimos o quanto o nosso trabalho é necessário.
- Quais são os tipos de serviços mais solicitados?
Recebemos chamados de tudo. Até de serviços que não fazemos. Mas pintura, projeto de arquitetura, hidráulica e elétrica são os recordes.
- Temos observado uma frente em defesa da presença das mulheres nos diversos setores e, mais recentemente, em cargos de chefia. Como vocês observam esse movimento?
Tem um ditado que diz: “Nenhum trabalho na terra será bem-sucedido se não tiver a mão de uma mulher incluída”. Na África, não existia feminismo. Mulheres sempre foram deificadas (endeusadas), muito antes de tudo. Se olharmos para a História, talvez consigamos evoluir em todos os aspectos.
- Vocês ainda passam, no dia a dia, por algum tipo de preconceito ou machismo?
Somos uma empresa formada e gerenciada por mulheres negras. Nunca sabemos se é machismo, racismo ou lesbofobia. Estamos nas frentes todas, e o preconceito vem também de uma herança patriarcal e escravocrata da nossa sociedade. Poderíamos te dar mil exemplos, mas queremos falar de sucesso e novas possibilidades.
Muitas pessoas, para economizar, acabam fazendo reparos e reformas por conta própria. Mas, algumas vezes, não dá certo. Qual o conselho de vocês sobre a importância de se contratar profissional?
Não julgamos. Achamos até plausível a iniciativa e a busca por autonomia. Entendemos que muitas pessoas não têm grana para pagar um profissional. Apoiamos muito quem tenta, porque é melhor tentar do que desvalorizar a mão de obra da profissional. Nosso conselho é: assuma o risco, mas não desista. Caso fique impossível, faça uma consultoria, peça ajuda.
- Há algum caso que vocês queiram pontuar?
Tem muitos. Temos uma exposição que foi para a Bienal Internacional de Arquitetura. Lá, juntamos nove histórias de atendimentos que marcaram muito nossa caminhada. Parte dessa exposição está no Museu de Arte do Rio (MAR), mas, em breve, pretendemos levá-la para outros espaços.
- E as expectativas para 2021?
Estamos prontas para tomar a vacina, com certeza! Mas um dos nossos desejos é seguir com a Concreto Rosa, abraçando mais outros bairros e levando nosso projeto Concreto Rosa Sobre Rodas. Inclusive, vamos fazer uma ação coletiva para o projeto e convidamos a todex a participar. Lembrem-se: dinheiro também é político. Fortaleça a economia das mulheres, sobretudo negras e da população Lgbtqi+.