No domingo (4), a cantora Karol Conka assumiu publicamente nas redes sociais o namoro com Thiago Barromeo, guitarrista da banda dela. Tudo parecia ir bem, até que muitos internautas criticaram a rapper por ela ser negra e se relacionar com um homem branco, evidenciando o preconceito que existe contra casais inter-raciais.
Leia também: Quero um relacionamento sério, mas ele não me assume! E agora?
Assim como Karol, a especialista em comunicação Luana Mineiro também é negra e casada com um homem branco. O Delas conversou com Luana para falar sobre a discriminação que os casais inter-raciais ainda enfrentam.
Juntos há dois anos e um mês, a comunicadora e o marido, Junior, se conheceram por meio de uma amiga em comum e começaram a namorar pouco tempo depois do primeiro contato. Na época, Luana tinha 26 anos, enquanto ele tinha 24. O tempo passou até que, em julho de 2019, o casal oficializou a união.
Luana, que é de São Paulo, diz que eles nunca sentiram que algum membro da família desaprovava o relacionamento por conta da cor da pele. "Se houvesse ocorrido algo do tipo, teríamos nos afastado. Temos em nossas mentes em manter por perto somente pessoas que desejam o nosso bem. Fomos abençoados com pessoas maravilhosas em nossa volta", agradece ela.
Mas nem sempre foi assim...
A primeira vez que o racismo apareceu
Ainda que as famílias apoiem o relacionamento, os dois já ouviram comentários discriminatórios de outras pessoas. "Um indivíduo questionou diversas vezes a ele [Junior] e aos familiares da seguinte forma: 'Vai mesmo se casar com essa preta desse jeito? Preta feia?'", relembra. "Essa foi a primeira e única vez que senti o racismo de verdade", conta Luana.
Junior contornou a situação e "amenizou o clima", mas a chateação era evidente. "Eu dei um sorriso 'amarelo' e me calei. Fiquei sem reação porque, até então, nunca tinha passado por algo parecido", salienta.
Leia também: Término de namoro foi ruim? Use a fossa a seu favor para dar a volta por cima
Você viu?
"Isso ocorreu em uma cidadezinha do interior do Ceará, quem fez tal comentário foi um senhor, com uma idade mais avançada e com problemas de demência. Por esse motivo, relevei a situação", completa a mulher.
Apesar do comentário negativo por causa da cor da pele , a especialista em comunicação enfatiza que, de modo geral, o namoro deles sempre foi bem aceito e muitas pessoas relatam que os dois formam um casal bonito e combinam um com o outro.
Por que há preconceito?
Luana Mineiro acredita que a discriminação racial e o preconceito contra casais inter-raciais tem uma influência social "que desde sempre deturpa a imagem da mulher negra". "Já ouvi coisas do tipo de que pessoas negras devem se casar entre si, para não 'embranquecermos a raça', e acho isso a maior asneira de todos os tempos", afirma ela.
Essa questão social também leva muitas pessoas a imaginarem que há diferenças econômicas entre os casais. "Os negros sempre foram menos favorecidos socialmente. As pessoas se surpreendem quando eu digo que tenho duas pós-graduações, por exemplo", destaca.
Mulheres negras vs discriminação racial
Luana tem opinião bem firme sobre o que ocorreu com Karol Conka
e acredita que a mídia também exerce influência negativa nesse caso. "Nunca falam sobre a solidão da mulher negra, mas sempre manifestam-se quando uma mulher negra influente escolhe um homem branco para namorar ou casar", explica.
"É difícil encontrar matérias evidenciando que os homens negros, curiosamente, tendem a escolher menos mulheres negras, por exemplo. Isso é triste, porque dá margem para pessoas com pensamentos retrógrados exporem suas opiniões, gerando assim um conflito que, na minha humilde opinião, é desnecessário", acrescenta a comunicadora.
Nátaly Nery, influenciadora digital e cientista social, fala sobre a relação inter-racial – mais especificamente de mulheres negras com homens brancos – em um dos vídeos divulgado no seu canal no YouTube.
"Falar da afetividade negra é um 'problema' porque a construção de amor que a gente conhece não está necessariamente ligada à figura negra. Nós não somos as famílias nos comerciais de margarina, nós não somos os casais nos comerciais de Dia dos Namorados. No máximo, nas novelas e nos filmes, nós somos as mulatas traiçoeiras que são os pivôs dos relacionamentos amorosos da família nuclear segura e fixa de um homem branco e uma mulher branca", conta Nátaly no conteúdo.
Leia também: Homem termina relação após descobrir que namorada é trans: "Ela escondeu de mim"
Para completar, a influenciadora enfatiza que o contexto histórico não contribui para ajudar esses casais. "O nosso imaginário popular realmente não enxerga a instituição familiar ou relacionamentos amorosos ou afetividade em si como algo que se aproxime da ideia do que é ser negro, porque a imagem do negro no Brasil está muito ligada, principalmente, a ausência de sentimentos, ausência de necessidades afetivas e corpos que são objetivados no trabalho", ressalta.
Amor não tem cor nem gênero
Aos casais inter-raciais que precisam enfrentar o preconceito constantemente, Luana aconselha a não dar ouvidos aos comentários negativos. "Apenas fortaleçam-se e apoiem um no outro. O respeito no relacionamento é a base de tudo! O amor não tem cor, não tem gênero, não tem definição. O amor é amor e pronto!", finaliza a comunicadora.