Você já ouviu falar em "feed tóxico"? O conceito ficou conhecido depois que estudos indicaram como as redes sociais podem ser prejudiciais para a saúde mental, em especial dos jovens. Um dos mais recentes, realizado pela instituição de saúde pública do Reino Unido, Royal Society for Public Health, avalia o Instagram como o que menos ajuda a melhorar a autoestima.
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A pesquisa foi realizada com 1.479 jovens, entre 14 e 24 anos. Segundo os resultados, 90% dos entrevistados usam redes sociais. Porém, as taxas de depressão e ansiedade aumentaram 70% nos últimos 25 anos — sendo que as pessoas com essa faixa etária são as mais afetadas.
A razão disso é que o Instagram, assim como o YouTube, Twitter, Facebook ou qualquer outra mídia que você use, não é bom para melhorar a autoestima e, na realidade, tem o efeito contrário ao piorar a forma como você enxerga a si mesma em comparação com outras pessoas.
"As vidas postadas na internet são aparentemente perfeitas e, na maioria das vezes, aquilo não é a verdade. Porém, nenhum perfil tem como objetivo afetar a saúde mental de ninguém. A gente considera que um perfil é ' tóxico ' porque a pessoa afetada dá esse significado", explica Blenda de Oliveira, que é psicóloga e piscanalista.
"Apesar de impactar também os homens, as mulheres ainda são afetadas com uma frequência maior porque se fala muito de assuntos como beleza, emagrecimento e vaidade nas mídias. Isso faz com que elas fiquem se comparando à outras pessoas", completa.
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O "unfollow terapêutico" como uma alternativa para melhorar a autoestima
Foi a partir dessa discussão sobre consumo e saúde mental que surgiu uma segunda ideia: a do " unfollow terapêutico". Como o nome diz, o conceito significa deixar de seguir aqueles perfis que te fazem se sentir mal com um intuito terapêutico, cujo foco é melhorar a autoestima.
"O unfollow é uma tentativa de filtrar aquilo que a gente quer ter contato ou não, porque alguns influenciadores digitais podem ser bastante nocivos. Por exemplo, se eu tenho questões com a minha imagem corporal e sigo alguém que só fala disso, é preciso que isso seja revisto", diz a psicóloga e professora do Centro de Estudos Psicanalíticos, Gabriela Malzyner.
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"É como, na vida real, a pessoa deixar de andar com algumas pessoas que são mais 'tóxicas' ou de fazer atividades que não fazem bem, mas isso parte do sentido que cada um dá para as redes, porque afeta alguns e outros não", complementa Blenda.
A questão, porém, não está só ligada a deixar de seguir uma pessoa ou não. "O uso que alguém faz das redes é o que a torna prejudicial ou positiva. Depende do que se posta, quem posta e quem interage com essas postagens. É muito difícil uma pessoa que se afeta tanto nas redes sociais não se afetar na vida real também, essas coisas estão juntas", reforça.
Ambas concordam que se você se sente mal sempre que vê determinado perfil, é importante fazer uma auto-observação, prestando atenção em como isso te afeta. "Uma visão crítica é fundamental para entender de que forma eu estou usando as redes sociais , o que eu quero com elas e o que são esses perfis que eu sigo", afirma Gabriela.
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E, afinal, como "desintoxicar" o feed e melhorar a autoestima?
Segundo a professora, os perfis "não-nocivos" são aqueles que falam de uma saúde mental real. "São os que contam também sobre as dificuldades e não os que tentam dizer se existe um 'modo ideal' e 'perfeito' de ser. Por isso, manter um feed 'não-tóxico' significa que quem você segue não diz coisas que 'enganchem' com as suas próprias questões."
Nesse caso, é importante saber quais são as suas próprias questões e, então, se blindar com quem te faz se sentir bem. "Se você tem questões com a sua imagem, não siga quem fale só sobre isso, se eu tem questões alimentares, não siga perfis que pregam dietas ridículas e que não sejam dadas por um profissional qualificado", indica.
Outras recomendações, dessa vez dadas por Blenda, incluem não só o "unfollow terapêutico", mas também excluir o seu próprio perfil e deixar as redes por um tempo e, claro, olhar para dentro de si. "Algumas pessoas fazem 'detox', saem e depois voltam, mas o problema não é a rede e sim o que se passa dentro dela que projeta tanta importância em cima disso."
"O ideal não é tornar um feed 'não-tóxico', mas não se deixar intoxicar. Uma dica para ajudar a melhorar a autoetima é escolher as coisas que quer seguir, que te fazem bem e te distrai. Um entretenimento que você aprende, se diverte e seja leve. Embora não pareça, é possível escolher o que acessar nas redes e criar essa autonomia é essencial para não virar refém", finaliza.