A força feminina sempre foi tida como sagrada. Não à toa, a união dessas forças tem sido fundamental para que discussões sobre direitos e quebras dos padrões patriarcais finalmente ganhem espaço. Quando isso acontece, fica mais fácil acreditar que o mundo pode, sim, ser um lugar melhor para nós. No entanto, sabemos que a luta é diária e o caminho é longo - mas pode ser mais agradável, se tivermos umas as outras, mulheres inspiradoras, para nos apoiar.
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Saber que não se está sozinha fortalece. E, acredite, paralelamente aos índices do feminicídio, da desigualdade salarial e dos impactos cruéis da pressão estética, também cresce o número de mulheres inspiradoras que estão correndo atrás de um mundo melhor.
É por isso que neste Dia da Mulher o Delas resolveu contar a história de pessoas reais que estão tentando mudar a maneira como a figura feminina é vista para que você se lembre que podemos ser e fazer o que quisermos, independente do que lhe foi dito um dia.
Para começar a série de quatro reportagens, que serão publicadas sempre às sextas-feiras, no melhor estilo “mulher que levanta outras mulheres”, a humorista Letticia Munniz conta um pouco sobre seu trabalho aliado ao feminismo e como essa união tem mudado a vida de muitas pessoas - a começar pela sua.
Mulheres inspiradoras: Letticia Munniz
Quando chegou do Espírito Santo em São Paulo com, literalmente, uma bolsinha e mais nada, ela sabia que não seria fácil.
Sem família por perto, Letticia precisou se virar para ter um emprego que pudesse mantê-la na cidade onde ela acreditava que conseguiria ter mais oportunidade para seguir um sonho, digamos, um tanto ousado - ainda mais para mulheres brasileiras -, o de ser humorista.
Com a grana apertada, ela morava onde podia pagar e sentia dificuldade até para comer. “O começo foi muito difícil. Eu ainda fazia faculdade, então precisava conciliar muito trabalho com as aulas e os estudos, já cheguei a ter dois empregos ao mesmo tempo, um dia, um de madrugada, e ainda fazia faculdade. Mas não me arrependo de nada.”
Com mais de 200 mil seguidores no Instagram, hoje ela faz “humor para empoderar e unir mulheres”, como descreve na biografia da página na rede social. Aliás, Letticia descreve também como poderia definir suas áreas de atuação, já que, como a maioria das mulheres, ela também quer abraçar o mundo.
“Eu sou o tal do canivete suíço que os publicitários amam falar, né?”, começa. Além de atriz e humorista, ela também pode se encaixar na categoria das influenciadoras.
Em seu Instagram, além de compartilhar a vida real de perrengues e reflexões cotidianas, ela também tem um quadro, o “Lelê responde”, onde toda semana ela recebe perguntas nos stories das seguidoras que, teoricamente, são sobre relacionamentos, mas suas respostas são sempre empoderadoras e do ponto de vista da liberdade da mulher.
“Foi assim, com esse quadro, que não só encontrei uma brecha para levar o feminismo para mais mulheres que não queriam ouvir sobre ele de uma maneira séria, mas também onde encontrei o caminho do meu trabalho e consegui fazer reverberar meu humor”, pontua.
A ideia do quadro também foi fundamental para que Letticia tomasse consciência sobre o feminismo, movimento que defende, fazendo uma militância diferente da tradicional.
“Comecei a falar sobre relacionamentos de brincadeira, e todas as respostas que eu dava nos vídeos eram muito feministas, mas eu era do time que achava as feministas chatas e exageradas. Assim como as seguidoras, quando eu assistia meus vídeos e via que eu estava falando sobre nada mais do que liberdade, entendi sobre o que era o feminismo e entendi meu lugar no mundo.”
Além do "Lelê Responde", e com muito bom humor, ela também costuma fazer publicações divertidas sobre situações cotidianas da mulher envolvendo liberdade e empoderamento feminino .
Mas engana-se quem pensa que ela para por aí. Ela, agora, é modelo da Mega, em uma divisão chamada Curvies - para mulheres com corpos maiores e fora do padrão top model.
Você viu?
"Como falo muito sobre empoderamento e tento mostrar para as mulheres que todos os corpos são bonitos, pensei que ser modelo mostraria pra elas que a gente pode mesmo, que nosso corpo é bonito do jeito que é”.
Além disso, Lelê também é entusiasta dos esportes e do futebol feminino. A novidade já rendeu a participação em um projeto onde ela convida mulheres que queiram jogar futebol para praticarem o esporte em encontros gratuitos em uma quadra em São Paulo.
“Quero dizer para as mulheres o que nunca nos disseram: mulher também pode e deve fazer esporte por prazer, por diversão, e não por pressão estética”.
Além disso, ela é criadora, roteirista, diretora e apresentadora (!!!) de um programa sobre futebol feminino em seu canal no YouTube. “A ideia é mostrar as jogadoras e a modalidade de uma maneira mais leve e engraçada, tentar ajudar o esporte e fazer com que essas atletas tenham o reconhecimento que merecem”, afirma.
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"Homens nos obrigam a viver em luta quando a gente só queria viver em paz"
Seja no Instagram, no Youtube ou nos shows de comédia, Letticia sempre faz questão de falar sobre a vida que leva e mostrar a realidade e os perrengues que passou e ainda passa para conquistar o espaço que tem hoje.
"Eu costumo falar da minha história e de como cheguei até aqui, porque a gente sempre vê o outro lá, feliz e realizado, e considera impossível. Ando de ônibus lotado, trabalho muitas horas por dia, não tenho folga nem de final de semana, e ralo muito pra conquistar meus objetivos."
Apesar de ser avessa ao termo "influenciadora", ela admite que entende que tem esse papel e fala como lida com essa responsabilidade, além de contar quais são as mulheres inspiradoras que ela se espelhou e também como vê o momento em que vivemos diante da perspectiva feminina. Confira as respostas.
- Delas: como você acha que a sua história pode inspirar outras mulheres e como você lida com essa influência que tem?
"Eu sempre fui avessa a esse termo, influenciador, porque o que a gente via na internet eram só influenciadores influenciando seus seguidores a consumir: consumir um estilo de vida que as pessoas “normais” não conseguem ter, consumir roupas, consumir viagens... nada tinha conteúdo.
Mas hoje percebo que consegui usar essa expressão de uma maneira muito positiva. Eu influencio mulheres a terem coragem, a se amarem primeiro, a serem livres, a fazerem o que têm vontade independente do que vão dizer, e acho que é assim que posso influenciar essas mulheres, dando a elas coragem para serem o que são".
- Delas: você teve alguma mulher para se inspirar?
"Sou de uma família só de mulheres e todas muito batalhadoras, então ser acomodada nunca foi uma opção. Cresci vendo minha mãe e minha avó se virando em mil para criar eu e meus irmãos, e essa foi minha maior inspiração para ser assim, como elas, uma mulher guerreira.
Como artista, sou fascinada por todas as mulheres que fazem humor. Fui estagiária na MTV entre 2012 e 2013 e trabalhava no núcleo de humor com a Tatá [Werneck] e a Dani Calabresa e sou apaixonada pelas duas. Além de serem absurdamente inteligentes, elas nunca se deixavam calar, sempre colocavam na mesa suas ideias e o que queriam fazer.
- Delas: como você analisa o momento que as mulheres vivem hoje na sociedade?
"É muito louco porque parece que a gente tá conquistando e evoluindo mas essa não é a realidade. As mulheres continuam morrendo, apanhando, sendo abusadas, violentadas, ganhando menos, sendo desrespeitadas…
As mulheres não param de lutar porque os homens nos obrigam a viver em luta quando a gente só queria viver em paz."
- Delas: então qual a mensagem você gostaria de passar às mulheres neste dia 8?
"Mulheres, lutem! Mas não só por você ou pelo seu, por todas. As mulheres que mais precisam são as que menos têm condição de lutar, então a gente precisa ser voz para essas que são silenciadas. Não é fácil ser uma mulher de luta, mas vale muito a pena. Esse mundão é nosso!"
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Para mais histórias de mulheres inspiradoras como essa para não só o Dia da Mulher, mas o mês todo de março, acompanhe nossa próxima reportagem da série na próxima sexta-feira (15).