Imagine a cena: você e seu crush estão saindo pela primeira vez para jantar. A comida estava excelente, ambos aproveitaram as bebidas do cardápio e a conversa foi ótima. Na hora de pagar, ele diz que banca tudo sozinho e que esse é um ato de “cavalheirismo”. Como você reage?
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“Não acho que ele precise fazer isso sempre, mas no primeiro encontro é primordial”, diz a analista de exportação Claudiane Moreto, de 29 anos. Para ela, o cavalheirismo é uma qualidade admirável nos homens. "É quando eles nos tratam com uma atenção especial e de forma natural. É aquele cuidado 'extra' que eles têm com as mulheres”, defende.
Mas, o que já foi considerado "primordial" na hora da conquista em um passado não tão distante, hoje pode ser visto como ofensa por mulheres que entendem que cavalheiros nada mais são do que homens que encaram o sexo oposto como inferior, frágil e despreparado - termos associados à figura feminina durante anos e que o movimento feminista tenta combater por meio de pautas que pedem igualdade de gênero.
A administradora Tânia Ribeiro, de 25 anos, conta que já chegou a confrontar um ex-paquera que se recusou a dividir a conta do bar com ela. A situação teve direito a climão e sem uma “segunda chance” para o casal.
“Ele disse que eu não precisava pagar. Que se nós continuássemos saindo, eu jamais teria que colocar a mão no bolso ou me submeter a ‘esse tipo de situação’, como se fosse um absurdo eu pagar pela comida que eu consumi! E ainda completou com um ‘mulher que sai comigo é tratada como uma verdadeira dama’. Obviamente nunca mais saí com ele e ainda deixei uma nota de R$ 50 no carro, já que ele não me deixou pagar no bar”, lembra.
Para a administradora, a atitude do pretendente foi completamente machista. “Ele claramente me colocou em uma posição inferior a ele, julgando que eu não poderia pagar pelo que eu comi. Como se ele decidisse por mim. Duvido que se fosse com um amigo ele teria feito o mesmo. Machismo puro.”
A nutricionista Angélica Carreira, de 26 anos, também é do time das que dispensam homens cavalheiros. Para ela, o homem ser gentil com as mulheres e ter ações específicas para protegê-las acaba as colocando em uma posição de desvantagem em relação ao sexo oposto. Ela diz que o problema não é a gentileza em si, mas, sim, o fato de isso só acontecer quando se trata de uma relação de homem para mulher e nunca de homem para homem.
Já Ticiane Ramos de Carvalho, de 23 anos, admite que acha charmoso quando percebe que está saindo com um gentleman . “Eu adoro! Acho super atraente quando sou protegida e mimada”, conta. Mas reclama: “É muito difícil encontrar caras mais novos com esse comportamento, infelizmente.”
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Cavalheirismo "saiu de moda"?
A dificuldade para encontrar rapazes mais jovens que costumam agir de maneira gentil realmente é sentida pela maioria das mulheres que falaram ao Delas, o que pode colaborar para que o termo seja confundido com "ser cavalheiro".
“Sinto falta de um homem que abra a porta do carro, segure minha bolsa, deixe com que eu entre primeiro nos lugares… acho que além de educação, demonstra respeito. Hoje em dia o que a gente vê é que os caras não estão nem aí com as mulheres”, reclama Ticiane.
Com o passar do tempo, muitas atitudes vistas como respeitosas por parte dos homens em décadas passadas foram questionadas por mulheres que se sentiam menosprezadas ao serem tratadas com desigualdade, o que contribuiu para que eles repensassem o comportamento.
Em entrevista ao Deles
, o coach em relacionamento Eduardo Santorini fala sobre essa mudança. “Muitos comportamentos que eram considerados ‘normais’ até pouco tempo atrás, hoje já não são tolerados”
Ele mesmo diz que evita falar sobre comportamentos específicos que “podem ser aceitos e determinados como “cavalheirismo” e, em outros contextos, podem ser interpretados como “machismo” pelas mulheres”.
Interrogado sobre o que ele acha de o homem pagar a conta da mulher ou puxar a cadeira para ela se sentar, ele diz que vale o bom senso. “Sempre ser respeitoso, sem abrir mão dos comportamentos atraentes”, afirma.
Quem problematiza o cavalheirismo explica que ser educado e querer agradar alguém não deveria ser uma exclusividade do sexo masculino com o feminino e que essa diferença é que torna as atitudes tão criticadas.
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E você, o que pensa sobre o tema? Acha que esse é um comportamento retrógrado ou defende o tratamento diferenciado a mulheres? Responda nossa enquete.
“Acho que o ideal é que o casal se entenda. Se a mulher encarar que esse tratamento é algo legal e, principalmente, o cara também enxergar dessa forma, sem achar que ela é incapaz de fazer as coisas sozinha ou que deve ser submissa a ele, tudo bem. Que sejam felizes”, afirma Tânia.
Mas a administradora completa o recado: “Respeite as mulheres e suas vontades. Quer agir com cavalheirismo ? Faça com quem não vê problema nisso. Desde que não venha com esse comportamento para cima de mim e me tratar com inferioridade ou objeto de posse, está tudo certo”, alfineta.