Nas últimas semanas do BBB 21 , o instrutor de crossfit Arthur Picoli e a atriz Carla Diaz passaram por uma crise no relacionamento que beirou à separação. Os dois estão em isolamento no reality há pouco mais de um mês e engataram um romance, que acabou esfriando. Desde então, o Brasil assiste aos impasses enfrentados pelos dois para conseguir uma reconciliação.
Fora da casa mais vigiada do Brasil, o mesmo está acontecendo com diversos casais há quase um ano devido às medidas restritivas ligadas à pandemia do novo coronavírus. Uma pesquisa do Colégio Notarial do Brasil aponta que houve aumento de 54% de divórcios no Brasil.
Um obstáculo da pandemia é que muitos desses casais que colocaram um fim na relação (ou que estão pensando nisso) precisam morar juntos por mais um tempo até que ambos consigam tocar a vida separadamente, em segurança. Por se tratar de uma situação fora do comum, esse momento tem suas peculiaridades e requer planejamento da vida a dois.
Por que o relacionamento vai mal?
De acordo com Yuri Busin, psicólogo e diretor do Centro de Atenção à Saúde Mental - Equilíbrio (CASME), a pandemia ajudou a evidenciar as dores dos relacionamentos de forma que, por conta do isolamento social , se tornou impossível fugir. “Muitos acabaram se separando porque não se comunicaram muito bem, não suportaram ou não quiseram resolver os problemas", explica.
A psicóloga comportamental Meiry Kamia acrescenta que casais que tinham problemas no relacionamento desde antes da pandemia conseguiam fugir das obrigações e não conviver com o par. “As pessoas saíam do trabalho, iam para a academia, para o bar, sair com os amigos, arrumavam um jeito de não voltar para casa. Só que agora, não há para onde ir”, afirma.
Por isso e pelo medo diante da pandemia, o convívio intenso pode piorar o que já não ia bem, já que as pessoas se sentem mais ansiosas e estressadas . “Essas incertezas nos deixam agitados e intolerantes e tudo que o outro faz passa a irritar. Esse acúmulo é descontado em quem está mais perto, que às vezes é o nosso par”, diz a psicóloga.
Sinais de crise
Kamia explica que existem algumas bandeiras vermelhas que indicam que uma separação pode acontecer . O primeiro deles, ela explica, é a sensação de alívio diante da ausência do outro. “Você se sente bem ao ir ao mercado ou à farmácia sem essa pessoa ou quando ela sai e você tem a casa só para si. Além disso, os momentos negativos tendem a ser maiores do que o prazer de estar junto”, afirma.
A psicóloga também cita como sinais de alerta quando se fazem muitos planos individuais sem incluir a outra pessoa e a indiferença em relação ao outro. “Quando não se tem o mínimo de admiração pelo outro, a chance de se tornar algo tóxico é muito grande”.
Além disso, a forma de se comunicar entre vocês dois muda e se torna um mecanismo de defesa. “A pessoa fica arisca e amarga na comunicação verbal, demonstra irritação ao conversar”, diz. Segundo a psicóloga, esse é um sinal de que ambos não têm mais respeito ou admiração um pelo outro, dois princípios que baseiam os relacionamentos.
Você viu?
Essa comunicação pode acabar em brigas excessivas e por motivos banais, um sinal importante a se considerar, segundo Busin. “É aquele momento em que qualquer gota em cima desse copo já o faz transbordar. Mais importante do que brigar é pensar em soluções, comunicar-se melhor e fazer novos caminhos para que exista convergência entre o casal”, afirma.
Nos separamos e moramos juntos. O que muda?
Como alguns casais podem encontrar adversidades maiores ao sair para alugar casas, é preciso que os ex-casais estabeleçam regras relacionadas à convivência. Busin afirma que a comunicação é peça chave para tornar esse momento mais organizado.
“As pessoas precisam combinar em conjunto os limites, como se vale dormir junto, se vale levar um parceiro ou parceira nova para casa, se vale carinhos ou as obrigações domésticas, por exemplo”, afirma.
Kamia explica que, como o papel social dessas pessoas não é mais o mesmo, é necessário fazer esse reforço sobre como a separação será na prática. Quando não há conversa, as funções se misturam e podem causar ainda mais desgaste. Então, tenha tudo esclarecido sobre as obrigações de cada um.
A psicóloga afirma ainda que é muito importante que esses casais estabeleçam um prazo de resolução. Ou seja, até quando o casal separado vai compartilhar o mesmo teto. “O prazo importa porque existe muita angústia quando temos uma situação sem fim. Então, é importante discutir sobre essas questões”, diz.
Mas ela não descarta a possibilidade de casais que não querem mais manter o laço marital, mas querem continuar morando juntos. Kamia explica que isso tende a acontecer com casais mais velhos que não querem mais ter relacionamentos afetivos com outras pessoas, mas também não querem viver sozinhos.
Responsabilidade afetiva
Mesmo que uma ou todas as partes queiram uma separação, o processo é sempre doloroso. “Vive-se um luto do relacionamento, de sonhos que não vão ser vividos e frustrações. Ninguém casa para separar”, afirma Kamia. Por esse motivo, é importante respeitar a dor do outro.
“Vamos supor que você se separou e está afim de ficar com outra pessoa. Não fique fazendo ligações amorosas na frente do outro ou não exponha a situação. Se for encontrar alguém, seja discreto, poupe a outra pessoa dessa chateação”, afirma.
Outra peça chave do bem-estar mental durante o período da separação é manter a cabeça ocupada. Por isso, a psicóloga recomenda que sempre se tenha planejamento sobre o que fazer no dia seguinte, “mesmo que seja limpando um armário”.
Não monitorar o que a outra pessoa está fazendo também é importante. “É claro que, se vocês moram juntos, é importante manter a regra de segurança de avisar se você vai voltar para casa tarde ou se vai passar a noite fora. Mas, tirando isso, não se devem mais satisfações”, diz.
Tenha consciência, ainda, de que não é só porque ambos terminaram que é preciso ter chateações o tempo todo. Portanto, evite culpar excessivamente a outra pessoa por motivos pequenos. “Quando se tiver um problema frequente sobre isso, façam listas e marquem um horário para conversar sobre. Assim vocês não ficam falando sobre isso o resto do dia e pode-se preservar o relacionamento”, afirma.
Busin afirma que um dos motivos pelos quais as pessoas brigam tanto é o fato de que se fica muito preso ao problema e não nas soluções. “Isso tende a dispersar mais ainda a raiva e a angústia. Pensar em soluções em conjunto é importante para o momento que vivemos”, diz o psicólogo.