As DSTs (Doenças Sexualmente Transmissíveis) ainda são tabus sociais. Por isso, além de existirem casos de pessoas que fazem sexo sem camisinha — o que, segundo especialistas, aumenta o risco de contágio —, ainda falta bastante informação sobre o assunto, algo que torna o problema ainda maior e pode gerar consequências para a vida toda.
Leia também: Transar sem camisinha dias antes de menstruar pode engravidar?
Essa desinformação sobre as DSTs pode causar muita confusão e deixar muitas dúvidas sobre formas de transmissão e tratamento, por exemplo. Uma leitora do Delas (cuja identidade será preservada) nos questionou por e-mail: “As DSTs só são transmitidas pela penetração ou somente o contato do pênis com a vagina, sem total penetração, pode transmitir doenças?"
Para responder essa pergunta, entramos em contato com especialistas e, de acordo com elas, o sexo com penetração não é a principal forma de transmitir essas doenças. "As DSTs são transmitidas por fluidos corporais, contato de mucosas e, também, escoriações da pele, que podem abrir a porta de entrada para os patogenos", explica a ginecologista e obstetra Ana Carolina Lúcio Pereira.
Dessa forma, é possível que as doenças sejam contraídas durante o sexo oral, anal e até mesmo nas preliminares. "Essas experiências favorecem a troca de fluidos e contato com mucosas. Já na masturbação, se não há contato físico com o outro parceiro, não existe chances de contágio", diz a especialista.
Segundo Kelly Alessandra da Silva Tavares, também ginecologista e obstetra, entre essas doenças que podem ser transmitidas por contato direto com a pele ou mucosa está o HPV (sigla em inglês para Papilomavírus Humano), que é altamente contagioso.
Além do HPV, existem algumas mais conhecidas, como a sífilis, clamídia, gonorreia, HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana), herpes genitais e as hepatites B e C. Nem todas essas doenças apresentam sintomas, por isso, muitas das pessoas infectadas não têm conhecimento que são portadoras, principalmente no caso dos vírus. Entretanto, é sempre importante lembrar que, mesmo sem saber, a pessoa ainda pode transmitir qualquer uma dessas doenças.
Como saber se eu tenho alguma dessas DSTs?
A forma mais rápida e objetiva de saber se você tem ou não uma DST é indo ao médico. Ana Carolina explica que existem exames, como as sorologias, que podem ser realizados para diagnosticar algumas das doenças sexualmente transmissíveis.
Flavia Tarabini, ginecologista da clínica Dr André Braz, complementa que esses testes normalmente envolvem perguntas sobre a vida sexual, coleta de sangue, amostras de fluidos da região íntima e pode incluir, também, exames na garganta. O procedimento é realizado tanto para homens quanto para mulheres.
"Porém, ainda há aquelas que não entram no rol de rastreio ou não há forma garantida de diagnóstico prévio, como por exemplo o HPV, principalmente no caso dos homens. Dessa forma, o sintoma pode não se manifestar de maneira habitual no portador e, ainda assim, ele transmitir esse vírus à parceira ou parceiro", diz.
Kelly complementa que, em muitas dessas doenças, os sintomas apresentados são corrimentos, lesões ou verrugas na região genital. Por isso, é importante ficar sempre atento a essas situações e, se perceber algo diferente no seu corpo, procurar um especialista que possa fazer o encaminhamento para a realização dos testes.
Segundo ela, é muito importante que as doenças que possuem tratamento sejam descobertas logo para que possam ser curadas. "Gonorreia e clamídia, por exemplo, podem causar uma doença inflamatória pélvica e consequentemente infertilidade se não tratada. Já o HPV não tratado poderá levar ao surgimento de câncer de colo uterino, e o HIV poderá levar a morte."
Ana Carolina também faz essa recomendação. "As DSTs podem ser oportunistas e se manifestar muito tempo após o contágio, gerando riscos a saúde, tais como infertilidade, doenças cardíacas, neurológicas, câncer de pênis ou ginecológico, além de alterações na formação do bebê, caso a mulher fique grávida depois."
Além desses, Flavia menciona efeitos que podem afetar a rotina e a qualidade de vida dos portadores, como a necessidade de uso diário de medicações e diminuição considerável da expectativa de vida.
Assim, é importante sempre ter um acompanhamento com especialistas que possam tirar dúvidas sobre assuntos como esse e, ainda mais, realizar exames de rotina. No caso das mulheres, uma ginecologista, e no dos homens, um urologista.
Você viu?
Outra sugestão é que, além de saber sobre a própria saúde, também é importante saber como seu parceiro ou parceira está. Se você está começando um relacionamento, por exemplo, é ideal que o casal faça exames para garantir que os dois estejam saudáveis. Para pessoas solteiras e sexualmente ativas (especialmente as que fazem sexo sem proteção e com mais de uma pessoa), os testes devem ser feitos periodicamente e, de preferência, a cada três meses.
Camisinha é único método contraceptivo que protege contra DSTs?
A ginecologista e obstetra Kelly Alessandra afirma que a camisinha não é o único método para prevenção das doenças sexualmente transmissíveis. Entretanto, continua sendo a principal forma de se prevenir, assim como de evitar uma gravidez indesejada. "Algumas doenças, como o HPV e a hepatite B, podem também ser prevenidas pelas vacinas", complementa. "Mas orientamos sempre que as pessoas continuem usando o preservativo com o objetivo de prevenção."
Ana Carolina também diz que a camisinha é importante porque funciona como um meio de barreira entre o corpo dos parceiros. Dessa forma, o látex do produto impede a passagem dos patógenos que são transmissores das DSTs e transforma o sexo em uma relação segura.
Entretanto, a recomendação para o preservativo vai longe de focar apenas na penetração. "É muito importante o uso de preservativos também nas preliminares sexuais, porque até antes mesmo da penetração já é possível entrar em contato diretamente com fluidos corporais e a pele do outro parceiro."
Apesar do foco ser a transmissão das DSTs durante o sexo, é preciso estar atento até mesmo fora das relações sexuais. Ana Carolina explica que qualquer contágio com secreções pode transmitir doenças sexualmente transmissíveis. "Até em manicures, tatuadores, fazendo procedimentos estéticos invasivos ou pelo uso de drogas injetáveis", afirma.
O motivo, segundo Flavia, é que nesses locais muitas vezes se usa materiais pérfuro cortantes, como agulhas, em uma pessoa portadora de DST e, depois, em uma segunda pessoa saudável. Além disso, caso a mulher seja portadora e queira ter um filho, também é preciso saber que a transmissão pode acontecer durante a gestação, o parto ou a amamentação. "Há riscos sérios à saúde e, por isso, é preciso priorizar a proteção durante as relações sexuais."
DSTs ainda são tabus
A principal razão da falta de informação, explicam as profissionais, é porque o assunto ainda é um tabu social. “O assunto permanece sendo um tabu pelo estigma relacionado ao comportamento sexual e, por causa disso, ninguém quer falar sobre o assunto. A terminologia apropriada para DST seria ‘Infecção sexualmente transmissível’, já que nem toda a infecção leva à doença”, diz Flavia.
Assim, pouca gente, em especial os jovens, acredita que realmente pode contrair uma DST, e o medo deixou de ser um fator para motivar a prevenção. “A maioria das pessoas acredita que não serão vítimas de DSTs. Acreditam que essas são doenças do passado e não estão sujeitas a contraí-las porque o parceiro lhes parece saudável.
"Mas isso é um mito, visto que muitas das doenças estão apenas alojadas no corpo do portador e requerem que exista um desajuste entre o sistema imune para terem a oportunidade de se manifestar”, complementa Ana Carolina.
Kelly compartilha da mesma opinião e também afirma que, apesar crenças, as estatísticas estão mostrando outra realidade. “Embora as pessoas tenham acessos às informações de forma mais fácil atualmente, as estatísticas atuais mostram um aumento de doenças como por exemplo, sífilis, HPV e HIV”, diz.
Outra questão está diretamente relacionada à sexualidade. Por conta do histórico das doenças sexualmente transmissíveis, muita gente ainda acredita que casais heterossexuais não podem ser portadores e que o HIV, por exemplo, ainda está ligado à homossexualidade. Um levantamento realizado em 2016 pelo Ministério da Saúde mostra que houve aumento de 4% no número de casos de HIV entre brasileiros se comparado à 2015.
O cenário, porém, não se resume ao Brasil. Dados de 2016, divulgados pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), nos Estados Unidos, informaram que, se forem consideradas as principais DSTs (clamídia, gonorreia, sífilis, HIV e herpes), são mais de 20 milhões de novos casos todos os anos. Pelo menos metade deles em pessoas jovens, entre 15 e 24 anos.
Dessa forma, a solução parece clara: quanto mais o assunto é debatido nos diversos grupos sociais, maior será o número de pessoas que poderão ter acesso às informações e, dessa forma, evitar a proliferação de casos.
Leia também: Para perder a virgindade o hímen da mulher deve ser rompido? Delas responde
Tem alguma dúvida que envolve sexo, sexualidade ou até mesmo posições sexuais? Faça como a leitora que nos mandou a questão sobre as DSTs e entre em contato conosco pelo email [email protected] . Nós traremos uma especialista para respondê-la com sigilo total!