O uso de ervas para fins médicos não é novo - aliás, é muito antigo: existem documentos registrando seu uso que datam de 3000 anos antes de Cristo, na China. Com a evolução da medicina, entretanto, utilizar plantas para a cura se tornou um conhecimento menos valorizado e tipicamente caseiro. Isto não significa, contudo, que as ervas medicinais perderam seu valor - muito pelo contrário! Elas podem ser muito valiosas, principalmente para nós, mulheres, no cuidado com o nosso útero .
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A verdade é que nem sempre nos damos bem com nossos úteros, nem com nossos ciclos menstruais, e é nesse sentido que as ervas medicinais podem nos ajudar. Menos agressivas para o corpo, elas auxiliam no tratamento de dores, inchaços, vaginoses, entre outros problemas e inconvenientes.
Essa, na verdade, é uma das propostas da ginecologia natural, uma vertente que estimula a autonomia e a independência feminina através do resgate de práticas ancestrais com plantas e minerais, reconquistando a responsabilidade pelas escolhas nos cuidados do corpo.
Liliana Pogliani, obstetra especializada em ginecologia natural na Argentina, disse ao Delas que “apesar de esta vertente se valer de uma série de recursos naturais, para que o uso das ervas medicinais dê certo é imprescindível que a mulher se empodere e se reconecte com seu corpo". "Qualquer desequilíbrio tem uma raiz emocional, daí a importância de se conhecer, aprender a se escutar e decifrar a si mesma”, explica a especialista. Ela afirma que saber a origem de um desequilíbrio é o primeiro passo para começar a curá-lo com a ajuda das plantas.
“Nós ajudamos a mulher a entender por que seu corpo perdeu equilíbrio e está se manifestando por meio de um vírus, um fungo ou um parasita, e, a partir dessa compreensão, a retomar o equilíbrio perdido com o auxílio de elementos naturais”, reforça.
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O primeiro passo para o auto-conhecimento é a observação. A ginecologia natural acredita que o corpo da mulher é regido pelo útero e pelos ciclos menstruais, sendo necessário nos reconectarmos a ambos a partir do tato e da observação do muco cervical e do fluxo menstrual.
Isto não significa, contudo, que a medicina alopática é dispensável. Liliana diz que a ginecologia natural trabalha em rede com outras medicinas, apesar de discordar da medicalização instantânea e excessiva. Então, se você tentar tratar uma infecção urinária com ervas medicinais, por exemplo, e a doença não começar a aliviar dentro de alguns dias, vale a pena procurar um médico "tradicional".
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O que você pode fazer em casa
Para as mulheres que quiserem começar a se reconectar com o próprio corpo e explorar o poder das plantas, aqui vão algumas receitas caseiras simples que você pode fazer, com ervas que você provavelmente não sabia que são medicinais e estão presentes no seu dia a dia.
Elas foram retiradas do livro “O Guia Completo das Plantas Medicinais - Ervas de A a Z pra tratar doenças, restabelecer a saúde e o bem-estar”, do herbologista David Hoffman, e da apostila “Ecologia feminina & ervas de lua”, da cientista botânica, herbologista e terapeuta ayurveda Dra. Sabrina Latansio.
1) Amenorreia (ausência ou atraso de menstruação)
Planta: Canela
Efeitos: a canela é termogênica e estimula a circulação sanguínea
Modo de preparo: infusão com a canela em pau. Em vez de água, a canela também pode ser adicionada a leite quente com mel para ser consumido uma vez por dia.
2) TPM
Planta: Erva cidreira ou camomila
Efeitos: ambas as ervas são calmantes e ansiolíticas. A erva cidreira ainda combate insônia e nervosismo, enquanto a camomila é sedativa, imunoestimulante e anti-inflamatória.
Modo de preparo: beba a infusão com as flores (camomila) ou folhas e ramos florais (erva cidreira) de três a quatro vezes por dia.
3) Infecção urinária
Planta: Copaíba
Efeitos: anti-inflamatória e anti-microbiana, a erva ainda tem ação cicatrizante e expectorante, podendo ser usada para tratar sinusites e outras doenças respiratórias.
Modo de preparo: passe algumas gotas do óleo essencial no local afetado duas vezes por dia.
4) Cólicas
Planta: Camomila
Efeitos: por ser um calmante natural e ter ação anti-inflamatória, a camomila reduz as dores da cólica. A erva também produz um aminoácido que tem ação antiespasmódica, efetivamente diminuindo as cólicas.
Modo de preparo: infusão com as flores da planta para consumir de três a quatro vezes por dia.
5) Contracepção
Planta: Stevia (sim, aquela do adoçante)
Efeitos: reduz a parede interna do endométrio uterino
Modo de preparo: beber uma infusão das folhas e hastes de seis a oito vezes por dia durante o período fértil.
6) Menopausa
Planta: Pó de amora
Efeitos: o pó ou a farinha de amora é rica em vitaminas, fibras e sais mineiras, além de ser antioxidante
Modo de preparo: consumir uma colher de sopa dissolvida em sucos, vitaminas ou chás, uma vez ao dia, ou em forma de cápsulas.
7) Candidíase
Planta: Alho
Efeitos: o alho tem propriedades antissépticas e antifúngicas que combatem a Candida albicans , que, descontrolada, é responsável pela candidíase
Modo de preparo: Descasque um dente de alho com cuidado. Com a ajuda de uma agulha, passe uma linha pelo alho, deixando-a pendurada. Antes de dormir, coloque o alho dentro do canal vaginal, como se fosse um absorvente interno, e durma com ele - sem calcinha. De manhã, remova-o. Repita o processo durante alguns dias, se necessário.
(Outra receita caseira prática que pode ser combinada ao "OB de alho" para combater a candidíase é o banho de assento em água morna com bicarbonato de sódio na proporção: 1 colher de sopa para 200mL de água filtrada)
8) Fertilidade
Planta: Alecrim
Efeitos: Aumenta a circulação sanguínea e também auxilia no combate a infecções. Além de estimular a fertilidade, o alecrim ajuda na regulação do ciclo menstrual.
Modo de preparo: faça uma vaporização. Coloque vários ramos de alecrim num balde e despeje água fervente sobre ele. Sem calcinha, mas enrolada numa toalha ou usando uma saia longa, posicione o balde entre as pernas e agache sobre ele, ficando sentada nas beiradas, se possível. O importante é fazer com que o vapor chegue até a vulva, escapando o mínimo possível. Fique nessa posição até o vapor acabar (contraindicado para mulheres que usam o DIU de cobre ou o SIU Mirena)
E, lembre-se, “a auto-cura por meio de ervas medicinais não é algo distante e impossível. Trata-se de voltar ao nosso estado natural, aprender a curar feridas emocionais, olhar para nós mesmas e nos tratar com amor”, finaliza Liliana.