A adenomiose é um problema ginecológico que pode acometer uma em cada dez mulheres no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, estima-se que 150.000 novos casos sejam registrados anualmente. Ela ocorrequando existe a presença de tecido semelhante ao endométrio na camada muscular do útero – o miométrio.
O ginecologista e obstetra César Patez explica que o tecido endometrial ectópico (fora do lugar onde deveria crescer) cresce para dentro do músculo uterino na forma de glândulas ou estromas ao invés de crescer para fora, o que causa aumento no volume do útero. "A doença pode acontecer de forma difusa, ocupando parte ou todo o miométrio", explica.
A adenomiose pode afetar qualquer mulher ou pessoa com útero, como homens trans. Contudo, ela costuma ser mais incidente em pacientes que tiveram várias de gestações, aparecendo entre os 20 e 30 anos. As causas da doença ainda não são totalmente conhecidas, mas pesquisadores suspeitam que ela tenha relação com traumas anteriores no útero.
“O desenvolvimento do problema pode estar ligado, por exemplo, a múltiplas cirurgias no útero, retirada de muitos miomas, diversas gestações em sequência, principalmente por cesáreas, entre outras situações”, lista Patez.
Em muitos casos, a doença não apresenta sintomas, o que dificulta a sua identificação e faz com que muitas vítimas nem saibam da existência do problema. Porém, os mais comuns são a forte dor pélvica e o sangramento excessivo.
“Cerca de um terço das mulheres com adenomiose são assintomáticas. Porém, quando sentem os sinais, eles costumam ser dolorosos. No ciclo menstrual, os sintomas se acentuam porque as células incrustadas na parede uterina são estimuladas, causando dores e sangramentos mais intensos”, alerta.
“Outras manifestações incluem sangramento fora do período menstrual, dor durante o sexo, prisão de ventre e alterações gastrointestinais. Nos quadros mais graves, pode até mesmo gerar infertilidade, sendo necessária a retirada do útero.”
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Para diagnosticar a doença, é necessário realizar exames clínicos e exames de imagem, como a ultrassonografia endovaginal, ressonância da pelve ou a histeroscopia, para analisar o interior do útero.
“A dosagem do CA-125, um marcador tumoral observado no sangue, também pode ajudar a detectar a adenomiose. As mulheres com a doença apresentam um valor bastante elevado desse marcador, apesar de uma dosagem padrão não excluir essa possibilidade”, acrescenta o ginecologista.
O tratamento mais indicado vai depender da gravidade e outras especificidades de cada caso. Isso, é claro, sempre estando alinhado a bons hábitos de saúde, como a prática de atividades físicas e uma alimentação balanceada.
Se o desconforto for mais simples, anti-inflamatórios e analgésicos já dão conta do recado, pois diminuem a dor – em especial no período menstrual. Alguns métodos contraceptivos também se mostram eficazes em controlar os sintomas, de preferência os contínuos, isto é, aqueles que suspendem a menstruação. Pílulas anticoncepcionais orais e DIU de progesterona, por exemplo, são duas alternativas possíveis.
O médico também comenta outra possibilidade de tratar a doença: a laparoscopia. “Essa cirurgia, seja a laparoscopia ou a laparoscopia assistida por robótica, é minimamente invasiva e retira apenas a lesão que acomete o útero”, acrescenta.
Para quem não deseja mais engravidar, existem dois tratamentos possíveis. A embolização e, em último caso, a histerectomia, ou seja, a remoção parcial ou completa do útero. “Durante a embolização, um tubo é colocado em uma artéria principal na virilha e injeta pequenas partículas na área afetada pela adenomiose. Isso impede que o suprimento de sangue atinja a área afetada, reduzindo os sintomas”, continua.
O médico acrescenta que o desejo da paciente, seja ele o de ser mãe, de ter qualidade de vida ou até de manter o útero, deve ser sempre respeitado. "Além disso, a experiência e o conhecimento do médico indicarão o melhor caminho”, completa.