Como descrever o amor à primeira vista? Frio na barriga, brilho no olho, borboletas no estômago ou tremedeira? Keka, que é produtora de eventos e tem 34 anos preferiu chamar de “tensão”. “A Rê é gerente comercial de uma casa noturna em Maringá, no Paraná, e me contratou para tocar. Então eu fui, e, assim que nos vimos a primeira vez, rolou uma tensão”, conta ela, que celebrou no final de semana sua festa de casamento.

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A festa de casamento da Keka e da Rê aconteceu dois anos depois do primeiro encontro entre as duas
Reprodução/Arquivo pessoal
A festa de casamento da Keka e da Rê aconteceu dois anos depois do primeiro encontro entre as duas

Naquela noite, aproximadamente dois anos atrás, não aconteceu nada além de olhares. “Mas depois que voltei para São Paulo continuamos a nos falar com muita frequência e nos aproximar cada vez mais”, relembra. “Nossa história é meio improvável, mas, acima de tudo, é bem bonita”, afirma. Assim como a história, a festa de casamento das duas também seguiu fora dos padrões.

A ideia de "unir as escovas de dente" veio um ano e meio depois de muitas pontes aéreas e viagens de ônibus quase todos os finais de semana entre os dois estados. “Ao todo, tivemos apenas 20 e poucos dias para planejar o casamento civil e a celebração”, revela a noiva .

Detalhes da festa de casamento 

A festa de casamento do casal contou com a presença dos amigos e das
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A festa de casamento do casal contou com a presença dos amigos e das "padrinhas" e o "madrinho" das duas

Apesar da correria para fechar 2018 casadas, com a ajuda de amigos, empresas e marcas, as duas conseguiram organizar o evento completo, “e assim aconteceu o casamento mais emocionante de todos os tempos, segundo quem estava presente”, conforme diz Keka se gabando com bom humor.

“Confesso que, em alguns momentos, tivemos perrengues e pequenas tensões, mas, acima de tudo, conseguimos notar que, de fato, não estamos sozinhas nesse 'mundão da maioria'”, completa. A festa foi inteira colaborativa e teve broches com a frase "Ninguém vai poder querer nos dizer como amar" e foi embalada pela música do cantor Johnny Hooker.

Apesar de ser um casamento homoafetivo , o evento seguiu como manda o figurino - ou mais ou menos isso. A festa aconteceu em uma chácara, com os convidados mais queridos do casal, e teve direito a “madrinho” e “padrinhas”, noivas de branco e “uma” padre, ou melhor: uma cerimonialista drag queen.

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“Glitterizando matrimônios”

Com a presença de Paulette Pink para dar a
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Com a presença de Paulette Pink para dar a "benção" ao casal na festa de casamento, as duas celebraram o amor

A nova atividade no currículo de Paulette Pink - que já trabalha como atriz, humorista, maquiadora, pintora e cantora - fez toda a diferença no casamento. Vestida toda de rosa, a drag queen foi convidada para selar o amor entre as duas mulheres.

Você viu?

“Elas não sabiam que eu ia participar, foram os amigos que me chamaram. Eles falaram que gostariam que fosse eu a dar a ‘benção’ ao casal. Na hora eu pensei : ‘Quem sou eu para glitterizar um casamento?’”, conta Paulette. 

Apesar da reflexão, ela não hesitou ao aceitar a proposta para ser a cerimonialista. No dia, Paulette levou um pote de purpurina para assoprar no casal ao finalizar a cerimônia, para fazer o que ela está chamando de “Glitterizando matrimônios”. 

“Glitter é brilho, não é mesmo? Então eu quero que elas brilhem muito juntas e, ao final da cerimônia, as abençoei com meu ‘glitter sagrado’. Foi lindo! Elas choraram, comemoram, se beijaram... tudo como manda um casamento laico, mas com uma pitada de amor e brilho a mais.” 

Paulette conta como foi muito significativo para ela, como uma mulher transsexual, ser chamada para “abençoar” uma união homoafetiva.

“Para fazer algo assim, você precisa ter amor no coração. E logo eu, que sou uma pessoa que recebeu tanto desamor, fui rejeitada pela família, por amigos e namorados, ser reconhecida por transmitir amor e deixar os ambientes mais felizes e alegres através do meu trabalho artístico é muito importante para mim". Assista ao vídeo com os melhores momentos:

Questionada sobre se irá dar continuidade ao cargo de cerimonialista, Paulette afirma que sim. “Eu gostei muito. Mesmo na parte séria, eu pude cantar e elas [as noivas] adoraram, se emocionaram… sabe quando você vem ao mundo com uma missão, mas não sabe qual é? Eu descobri que a minha é fazer coisas boas para as pessoas, transformar tristeza em alegria, e tenho feito isso.”

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O amor é livre!

A festa de casamento contou com discurso emocionante das noivas e de Paulette Pink
Reprodução/Arquivo pessoal
A festa de casamento contou com discurso emocionante das noivas e de Paulette Pink

Por ser uma pessoa que já sofreu muito com preconceito e homofobia, a atriz sempre levantou a bandeira da diversidade e da comunidade LGBTQ+. Por isso, ela se prontificou a colaborar com o casamento assim que soube as noivas eram Keka e Rê, duas mulheres lésbicas.

Assim como ela, muitas outras pessoas decidiram ajudar, o que tornou a festa de casamento possível. “As minorias estão unidas, de mãos bem dadas, querendo emanar energia boa e amor para o mundo nesses tempos difíceis. E o mais legal foi poder contar com pessoas e empresas que não fazem parte dessa minoria, mas que estão do nosso lado. Do lado certo. Do lado justo. Do lado do amor”, ressalta a produtora de eventos, que considerou a celebração um “lindo exemplo” dessa união coletiva e de resistência. “Por fim, eu vos aconselho: casem! É maravilhoso celebrar o amor!”

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