Descobrir um câncer nunca será algo tranquilo. Porém, quando isso ocorre durante a gravidez o choque que é potencializado pelo receio quanto à vida do feto. Em muitos do casos, pode ser aconselhado interromper a gestação para que o tratamento seja viável. Por isso, antes de tomar qualquer decisão é necessário procurar uma ginecologista/obstetra para esclarecer todas as dúvidas.
O iG Delas conversou com as médicas Karina Belickas e Laura Testa, que explicam a seguir os tipos de tratamentos para o câncer que podem ser realizados durante a gestação e os riscos que oferecem para a saúde do feto e da gestante.
Segundo a ginecologista, obstetra e mastologista Karina Belickas, o tratamento oncológico durante a gravidez vai variar de acordo com o tipo de câncer - que determina a necessidade de um tratamento cirúrgico, com rádio ou quimioterapia - e com a idade gestacional.
“A quimioterapia não é o único tratamento que pode ser feito durante a gestação. Uma outra opção é também o tratamento cirúrgico. Ele é sempre realizado em mão de pessoas experientes, para tratar de tentar diminuir o tempo de cirurgia, o tempo de anestesia”, completa a oncologista Laura Testa.
Em relação à interrupção da gravidez, Belickas explica que essa conversa só acontece caso o tratamento tenha sido impossibilitado pela gestação, o que ocorre com pouca frequência. A médica ressalta, no entanto, que no primeiro trimestre são evitadas terapias hormonais, além de radioterapia e quimioterapia. Isso evita impacto no desenvolvimento do embrião, que nesse período está numa fase mais delicada de formação.
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Quanto à saúde dos fetos que encaram as quimioterapias dentro do ventre materno, Testa conta que há sim uma diferença, mas nada gritante. “A gente tem discrição de prematuridade e de um peso menor ao nascimento dos bebês que nasceram de mães que receberam quimioterapia durante a gestação. Uma proporção pequena onde a grande maior parte dos bebês nascem muito bem”, explica.
Tipos de câncer durante a gestação
Belickas explica que existem tumores de colo do útero e genitais que podem ser seguidos ou mesmo operados parcialmente durante a gestação, sendo o de colo do útero o mais frequente. Os tumores uterinos (de endométrio e corpo do útero) são mais limitados, mas muito raros de ocorrer em mulheres em idade fértil. Já os tumores de ovário vão depender do tipo, do tamanho e da idade gestacional.
“É importante salientar que, quando se fala em interrupção da gestação, ela deve ocorrer antes de 20 semanas. Após esse período, o bebê é potencialmente viável, e passamos a considerar adiantar o parto quando necessário”, esclarece a médica.
O câncer de mama atinge uma em oito mulheres ao longo da vida — 10% dos casos ocorrem até os 40 anos de idade. Com o adiamento da maternidade, a ocorrência de câncer de mama na gestação ficou mais presente. “Existem trabalhos sugerindo que o pico hormonal durante a gestação levaria a um aumento transitório no risco de câncer de mama, podendo durar até dois anos após o parto”, explica.
Outra dúvida frequente é quanto tempo após o tratamento oncológico a paciente pode engravidar. Segundo Belickas, o intervalo sugerido nos casos em que não há evidência de doença após o tratamento principal é de 3 a 5 anos para engravidar. “No entanto, é preciso levar em consideração o tipo de câncer, a idade da mulher e sua reserva ovariana, que pode estar reduzida nos casos de realização de quimioterapia”, esclarece a médica.
Em todo o caso, a prevenção segue sendo a melhor pedida para mulheres que pretendem ou não engravidar. Realizar o exame ginecológico preventivo (papanicolau) uma vez por ano e a mamografia a partir dos 40 ajuda a detectar tumores em formação, que em seu início têm mais chances de cura. Converse com sua ginecologista e informe-se.