Edu Leporo, 45 anos, e sua esposa, Renata, 38, tiveram um susto logo na primeira semana de aula dos filhos gêmeos. Os pequenos, que tinham apenas nove meses, pegaram uma gripe forte e, enquanto Benjamim conseguiu se recuperar, Bento foi diagnosticado com uma pneumonia bacteriana que fez com que ficasse por 70 dias na UTI.
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Ao Delas, o pai conta que não foi nada fácil encarar mais de dois meses acompanhando o filho na UTI de um hospital de Guarulhos, São Paulo. O medo e a incerteza de o que aconteceria no dia seguinte faziam parte da rotina do casal.
Os primeiros 12 dias foram os mais difíceis e angustiantes, já que Bento ficou em coma. O filho teve um pulmão paralisado, duas paradas cardíacas, além de rins e fígados que resolveram parar. Foram exames, recaídas e a dúvida de se ele sobreviveria ou não.
Alguns momentos foram de fato desesperadores, é uma situação que apenas os pais que passam por isso, ter um filho na UTI, sabem como é"
Os dias dos pais foram intensos. Edu e Renata se revezavam e cada um passava 12h por dia no hospital. Quando chegavam em casa, ainda tinham Benjamim para cuidar e dar atenção. Felizmente, contaram com uma rede de apoio, mas, ainda assim, foram dias cansativos e solitários.
"O prognóstico era muito ruim, mas nunca deixamos de acreditar na recuperação do nosso filho. Alguns momentos foram de fato desesperadores, é uma situação que apenas os pais que passam por isso, ter um filho na UTI , sabem como é", diz.
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Relato nas redes sociais
Para enfrentar a solidão e o desespero, Edu começou a narrar e compartilhar nas redes sociais o dia a dia de Bento. Dessa forma, ao mesmo tempo em que informava amigos e familiares, aliviava a dor de dividir com os outros o que acontecia no hospital.
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A situação já era ruim, então comecei a escrever uma coisa lúdica"
“Foi uma forma de fazer um diário e falar com o mundo externo. Também foi uma forma de distrair a cabeça. A situação já era ruim, então comecei a escrever uma coisa lúdica, criando ele [Bento] como se fosse um personagem”, relata.
Aos poucos, o diário sobre a saúde de “Milagrinho”, como Bento era chamado pela equipe médica e enfermeiros, começou a conquistar seguidores. Edu conta que pessoas desconhecidas passaram a escrever mensagens de apoio e até enviar presentes aos irmãos. Apesar de toda a dificuldade, Edu e Renata encontraram ali esperança.
"A Odisseia do pequeno Bento"
Após 70 dias, Bento recebeu alta e voltou para a casa. Depois dessa intensa jornada, o fotógrafo transformou tudo o que o filho viveu em um livro infantil. O pai escreveu “ A Odisseia do pequeno Bento ”, onde conta a história do filho de forma leve, lúdica e com ilustrações.
A ideia é publicar e distribuir gratuitamente exemplares em UTIs de todo o país. “É uma forma de mostrar para o mundo que há esperança”, fala. Edu quer oferecer alento e carinho aos pais que passam tantas horas no hospital e, muitas vezes, recebem apenas histórias negativas.
"Nosso objetivo é prestar apoio e solidariedade aos pais que passam pela mesma situação pela qual passamos. Nessas horas, fica-se tão fragilizado que uma simples palavra de apoio já faz toda a diferença. Por isso, o livro pode prestar um grande serviço a essas famílias”, fala.
Para concretizar o projeto, foi criada uma campanha de financiamento coletivo no Catarse , onde apoiadores podem doar qualquer quantia a partir de R$ 10. Se o objetivo foi atingido, serão impressos mil exemplares e distribuídos aos “pais de UTI ”.
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Aos pais que enfrentam o que o casal passou, Edu aconselha o que pode parecer clichê, mas ajudou muito ele e Renata: paciência. Para o pai, entender que era preciso paciência foi fundamental para encarar o período difícil.
Hoje, Bento está com um ano de idade e, embora ainda enfrente algumas complicações, segue feliz ao lado do irmão e protagonizando as publicações do pai nas redes nas redes sociais.