Madalena Albuquerque, de Recife, Pernambuco, sempre sonhou em ser mãe. No entanto, contrariando as expectativas sociais, foi só aos 52 anos que o desejo da maternidade se concretizou quando deu à luz Maria Rita, que hoje tem quatro anos.
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Em um primeiro momento, a história da pernambucana parece mais um caso de maternidade tardia consequência da dificuldade de engravidar. Em entrevista ao Delas , Madalena conta que não foi bem assim. Na verdade, ser mãe após os 50 foi algo planejado por ela e o marido.
A arquiteta e chefe de cozinha fala que mesmo sonhando com isso desde os 20 e poucos anos, sua carreira sempre foi prioridade. Para completar, como ainda não tinha um parceiro, a produção independente não era uma opção para ela. Dessa forma, foi adiando o desejo de ser mãe.
Quando se casou, aos 40 anos de idade, decidiu curtir a vida a dois antes de pensar em filhos. “Assim que nos casamos houve muita pressão da família para engravidar, mas nunca demos muita atenção a esse tipo de comentário”, fala. Além disso, Madalena começou uma segunda graduação e os projetos profissionais continuaram como sua prioridade.
O caso da pernambucana não é isolado. No Brasil, cada vez mais mulheres priorizam a carreira e adiam a maternidade. E isso não é um problema. Com a assistência médica adequada, é possível engravidar acima da idade considerada padrão.
Aos 48 anos de idade, Madalena foi sentindo que o momento se ser mãe estava chegando, mas, para isso, ela e o marido procuraram ajuda médica. “Eu sabia que precisaria de uma gestação assistida. Nós achávamos que seria irresponsável tentar engravidar espontaneamente”, diz.
Se antes existia a pressão para engravidar logo, no momento em que ela decidiu engravidar outras cobranças começaram a surgir. Segundo a pernambucana, as pessoas passaram a questionar se realmente era possível engravidar com segurança nessa idade e até criticar a escolha do casal.
“Mais uma vez, não demos atenção a essas críticas. A liberdade de viver como você escolhe faz parte da contemporaneidade. Ser mãe aos 51 anos foi uma opção minha”, comenta.
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Da concepção ao parto
Quando Madalena buscou orientação médica, fez uma bateria de exames e não foi uma surpresa quando se confirmou que ela precisaria de assistência durante toda a gestação . “Isso já fazia parte dos meus planos. Escolher a maternidade requer uma responsabilidade muito grande com você e com a pessoa que se está gerando. É preciso calcular os riscos”, explica.
Por ter mais de 50 anos, precisou fazer um procedimento chamado indução da ovulação ou estímulo ovariano , no qual a mulher toma uma série de medicações para produzir uma quantidade maior de óvulos do que normalmente produz. De acordo com Guilherme Leme, urologista e especialista em reprodução assistida pela Escola Paulista de Medicina (Unifesp), essa costuma ser uma etapa da fertilização in vitro.
“Dessa maneira, é possível ver melhor os óvulos se formando através dos folículos (que são bolas de líquidos onde crescem os óvulos), no exame de ultrassom, de tal forma que o médico consegue retirar esses óvulos na fase final do tratamento (de retirada)”, explica o especialista.
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Sendo assim, toda mulher que realiza fertilização in vitro passa por essa etapa. É a forma que possibilita a retirada de óvulos. Com Madalena não foi diferente. Ela fez a estimulação ovariana, coletou os óvulos, fez a fertilização in vitro e, aos 51 anos, em uma única transferência, engravidou.
Seu caso é raro. De acordo com o médico, mesmo realizando a fertilização in vitro, as chances de engravidar são muito pequenas (menos de 1%) acima de 45 anos.
A assistência de Madalena começou antes mesmo de realizar esse processo e seguiu até o nascimento de Maria Rita. Ela teve o acompanhamento de uma equipe interdisciplinar formada por um cardiologista especialista em gestação, um endocrinologista fazendo o controle de peso, um hematologista controlando o risco de trombofilia e, por fim, um obstetra.
Apesar de ter sido uma gravidez tranquila, a mãe fala que tinha um receio frequente do que poderia acontecer. “Os três primeiros meses são mais vulneráveis, há muito estresse e medo, mas a cada exame e ultrassom era um passo a mais de tranquilidade”, lembra.
Para a mãe, o segundo trimestre foi o mais calmo, mas nos últimos três meses as preocupações se intensificaram. “Existia um risco, mas era um risco avaliado. Eu tinha consultas mensais e tive a companhia do meu marido para dividir as inseguranças”, diz. “O medo existe, mas a vontade de ser mãe é maior”, completa. Felizmente, tudo correu bem e Maria Rita nasceu em uma cesárea programada.
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Aprendizados e preconceitos da maternidade tardia
Quatro anos depois do nascimento da filha, Madalena avalia os aprendizados que a maternidade trouxe. “A grande lição foi a disciplina durante o processo preparatório para a gestação e os meses de gravidez”, fala.
A pernambucana ainda lembra que antes de Maria Rita nascer ela e o marido tinham uma vida profissional e social muito agitada. Quando a pequena nasceu, precisaram aprender a gerir o tempo melhor priorizando as necessidades dela. “A gente desacelerou a vida para inserir a nossa filha”, fala.
Aos poucos, foram encontrando o equilíbrio entre as necessidades da mãe, do pai e da filha. “Há amor e cumplicidade. É uma maternidade e paternidade muito ativa, tudo é compartilhado entre eu, ele e nossa filha. Acredito que estamos fazendo uma trajetória bacana. Acho que está dando certo”, comenta Madalena.
O fato de o marido exercer uma paternidade ativa foi essencial para Madalena. Ela lembra que a maternidade não é romântica, na verdade, é um processo muito trabalhoso que exige ajuda. “Meu marido me deu um suporte emocional muito grande. É importante ter um companheiro, alguém do seu lado para dividir tudo isso.”
Madalena também fala que ela e o marido encaram muitos comentários negativos pela maternidade e paternidade tardia. “Eu já ouvi todo tipo de comentário. Já falaram que eu era louca e irresponsável por ter engravidado com essa idade”, relata. “Não houve irresponsabilidade alguma, mas quem está de fora julga sem saber”, completa.
Além disso, são frequentes pessoas desconhecidas os abordarem para perguntar se são os avôs de Maria Rita. “É algo especulativo e invasivo. Qual a relevância dessa informação para uma pessoa que nem me conhece? É uma pergunta desnecessária. Procuro responder de forma educada”, diz.
No entanto, Madalena decidiu tornar sua gravidez pública para ajudar e inspirar outras mulheres que desejam ter filho com a idade mais avançada, além de contribuir para quebrar estereótipos sobre a maternidade tardia . “É um processo árduo, mas muito rico e gratificante. Eu faria tudo de novo”, diz.