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Em entrevista à BBC Brasil, a nadadora Joanna Maranhão, vítima de abuso na infância, defendeu que a educação sexual é mais importante do que a caça a pedófilos no combate à violência sexual contra crianças.

Educação sexual pode ajudar criança a identificar abuso, afirmam especialistas
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Educação sexual pode ajudar criança a identificar abuso, afirmam especialistas

No Brasil, esse é um tema considerado tabu e "restrito para adultos"; por isso, poucas escolas adotam um programa específico para tratar questões como abuso sexual, gravidez precoce, doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), diversidade sexual, entre outras.

No entanto, já existem correntes de pensamento que defendem o ensino de educação sexual para crianças nas escolas justamente com o objetivo de ajudar a evitar esses problemas no futuro.

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"Quando a criança já sabe alguma coisa de educação sexual, ela aprende a lidar com o que está acontecendo, fica preparada para isso", diz a educadora sexual Maria Helena Vilela, do Instituto Kaplan, que promove a capacitação de professores na área.

"Já a criança não preparada se torna um alvo muito mais fácil para se expor a abusos ou a brincadeiras inadequadas. A descoberta sexual começa na infância, se você não trabalha isso, você exclui a sexualidade da criança."

Para preencher o que veem como "lacuna" nas escolas, algumas ONGs e institutos oferecem atividades para crianças e treinamento para professores sobre educação sexual.

A própria Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) lançou uma cartilha mundial em 2010 com uma "Orientação Técnica Internacional sobre Educação em Sexualidade" para ser usada como base nas escolas.

A BBC Brasil consultou especialistas e preparou uma lista com estratégias que podem ser adotadas para ensinar educação sexual para crianças.

1) Reconhecimento do corpo: diferenças entre meninos e meninas
A primeira coisa que pode ser ensinada às crianças é o reconhecimento do corpo delas e as diferenças entre os meninos e as meninas. "Passamos para as crianças a ideia de que os corpos de menino e menina são diferentes e aí trabalhamos a questão do respeito", explica Vilela. "Na hora que ela perceber que não está sendo respeitada, significa que é para parar ali."

Para Vilela, o tema é um forte tabu para muitos pais. "Quando eles sabem que os professores estão falando algo para os filhos sobre sexo, eles já acham que os filhos vão começar a transar e ficam preocupados. Há uma grande resistência."

"O reconhecimento do corpo não vai fazer nenhum mal para as crianças, só vai fortalecê-las."

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Em sua cartilha, a Unesco diz que "pesquisas de todo o mundo indicam claramente que a educação sexual raramente leva a um início sexual precoce, se é que o faz".

"A educação sexual pode levar a um comportamento sexual mais tardio e mais responsável, ou pode não ter nenhum impacto discernível sobre o comportamento sexual", diz o documento.

Vilela afirma ainda que é importante também ensinar a criança a cuidar de seu corpo. "O objetivo é fazer essa criança se tornar uma pessoa autônoma nesses cuidados. Quanto menos ela precisar de alguém que a limpe, que a lave, menos exposta ela vai estar e mais autonomia ela tem."

2) O que pode e o que não pode, partes do corpo que são 'públicas' e outras que são 'privadas'
Outra questão importante é explicar para a criança quais partes do corpo podem ser tocadas e quais não podem. "Elas precisam entender o conceito de público e privado. Entender que essas partes privadas do corpo, as pessoas não podem tocar", disse a educadora do Instituto Kaplan.

Vítima de abuso na infância, a nadadora Joanna Maranhão trabalha essa questão em atividades que promove com a ONG que fundou, a Infância Livre.

"A gente tem que explicar que existem partes que podem e outras que não podem ser tocadas, a não ser que seja por um médico ou pelo pai e pela mãe por causa de algum exame", disse Joanna à BBC Brasil.

"Tem até um joguinho, um pingue-pongue que eu faço com as crianças mostrando: mão aqui pode, mão aqui não pode. E tem vezes que tem menino que confunde, que acha que pode. Tem como ser de uma forma lúdica, mas ao mesmo tempo de uma forma séria."

3) O dono do seu corpo é você
Além de ensinar o reconhecimento do corpo à criança, é preciso também passar para ela a ideia de que aquele corpo tem um dono.

"Seu corpo é seu: ninguém pode tocá-lo sem sua permissão. Estabelecer uma comunicação direta com as crianças logo cedo sobre as partes privadas do corpo, usando os nomes corretos para as genitais, vai ajudar as crianças a entender o que é permitido para adultos que estejam em contato com eles. E vai ajudar a identificar comportamentos abusivos", diz a cartilha elaborada pelo Conselho da Europa para defesa dos Direitos Humanos sobre o tema.

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"Elas precisam entender o funcionamento desse corpo, que ele tem sensibilidade, tem sensações, que essas sensações podem ser gostosas, mas podem também não ser. Vale pra qualquer parte do corpo. Carinho é uma coisa que a gente só recebe quando quiser", afirmou Vilela.

4) Estratégia: não gostou? Conte para alguém de confiança
Outra medida de proteção contra abusos é conscientizar as crianças de que, caso alguém faça alguma coisa que elas não gostem, é preciso contar isso para uma pessoa de confiança.

"Vá embora! Conte. Essa é uma das estratégias que devem ser ensinadas às crianças para que elas estejam preparadas a dizer 'não' a contatos físicos que julgarem inapropriados e para fugir de situações pouco seguras. Além disso, elas precisam contar o que aconteceu a um adulto de sua confiança o quanto antes", é a orientação da cartilha europeia.

Muitas vezes, o abusador da criança é alguém muito próximo, da família até. Sendo assim, é importante também que os adultos próximos estejam preparados para ouvir o que a criança tem a dizer e não desacreditá-la logo de cara.

"Esse é um trabalho ainda mais complicado, com o adulto. Ele precisa dar ouvidos à criança", diz Vilela.

"Porque geralmente (o abuso) é com uma pessoa próxima. A reação dos pais normalmente é 'não seja mal educado'. O adulto precisa estar atento à mudança de comportamento da criança e, quando ela fizer a queixa, investigar em vez de logo desacreditá-la", concluiu Vilela.

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