"Eu era bem tranquila. Tinha 34 anos, não tinha namorado, era solteira, livre, tinha meus empregos e filhos nunca estiverem no mapa. Num exame de rotina apareceu um mioma, grande, e em todos os 3 médicos que fui em Belém, o diagnóstico era de extração do útero. Isso me deixou mortificada, eu não queria ser mãe, mas queria poder escolher se sim ou não.
Fui a uma consulta em São Paulo, num médico caro que fazia trocentos partos. Ele falou que não havia necessidade nenhuma de retirada, que era um absurdo o que estavam me propondo. Voltei a Belém decidida e falei pros médicos de Belém. Fui operada e meu útero, preservado. Mas até hoje ainda penso nessa prática de eliminar o mal pela raiz sem nem pensar que, olha pode preservar o útero dela... Seria diferente se eu fosse uma jovem branca?
As chances de engravidar eram baixas, e com miomas eram praticamente nulas. Eu não queria ser mãe, mas queria ter escolha, caso um dia quisesse.
A Copa no Brasil e o oitavo gol da Alemanha
Eu tinha 41 anos quando descobri que estava grávida. O ano anterior tinha sido difícil. Tive uma crise de pancreatite no meu aniversário de 40, então ainda tinha uma saúde frágil. Na verdade desde ali a saúde virou uma farofinha de entradas e saídas de hospital. Mas era ano da copa no Brasil e eu era casada com um alemão emocionado...
A Alemanha ia jogar em Fortaleza contra Gana e resolvemos fazer um bate-volta, passamos o dia sob o sol bebendo, era solstício de verão... Alemanha ganhou, o boy passou mal no vôo de volta, pressão foi pro chão, boca roxa, desespero, chama o "dotô"... Chegamos em casa e olha acho que Emilinha resolveu pregar uma peça ali.
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Em julho entrei de férias, pois Copa. Passei o mês inteiro bebendo e ainda descolori o cabelo duas vezes ... O Brasil levou o 7 a 1 e seguimos bebendo. Na volta das férias, eu menstruava junto com a diarista. Mas naquela vez a minha menstruação atrasou, e eu nunca atrasei. Decidi esperar... e nada. Fiz 3 exames de farmácia que deram positivo. Fiz o exame de sangue pra confirmar e bingo! Positivaça, 8 pra 9 semanas.
Eu fiquei apavorada e falei com minhas amigas mais próximas, aborto ainda passava de leve pela minha cabeça, engravidar aos 40 tem muitos riscos de síndromes etc... Mas o conselho de uma das amigas foi "acredita no milagre". Ali eu decidi ter o bebê. Comecei a diminuir o ritmo e esperei completar as tais 12 semanas pra avisar. Mas, com 10 pra 11 semanas eu tive um sangramento e tive medo de perder. Ali eu soube que queria ser mãe.
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Gravidez e maternidade depois dos 40
Eu queria ser mãe, mas odiei estar grávida. O sono, o teu corpo não te obedecendo, um saco! Eu tinha dois médicos, um cesarista do plano, desses que querem agendar parto, e outra humanizada, paz e amor, além de doula...eu fiz toda a tour do parto humanizado bebê de luz (risos).
A bolsa da Emília rompeu numa segunda feira, mas a bonita só nasceu na quinta. Eu não tinha contrações, então eram litros de chá mexicano, acupuntura, massagem, o escambau. Na quinta eu já tava cansada e de saco cheio, assobiando Maria Betânia... Eu tava com uns 9 cm de dilatação, mas zero contração. Então me veio um sentimento de morte, então, pelada, pedi pra cortar, eu tava cansada.
A parte engraçada foi que a gente não sabia o sexo e o pai falou: "Olha é um menino" e eu, "O quê?????". Emília nasceu de olho aberto, não chorou e praticamente veio de peruca, de tão cabeluda.
Hoje ela está com 6 anos, mas as pessoas juram que ela tem 8. Eu particularmente acho que ela tem um espírito velho, sábio. Eu aprendo todo dia alguma coisa com ela, tipo quando ela falou do nada: "Você não precisa ser sua mãe pra ser uma mãe".
Aqui é um dia de cada vez, tem dias tensos, outros de puro amor. Apesar de ter vindo sem planejar, eu nunca estive tão feliz e que aprendo muita coisa todo dia com ela!"