Claudia Campolina bate os 132 mil seguidores na conta do Instagram
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Claudia Campolina bate os 132 mil seguidores na conta do Instagram

Autora do quadro “Mundo Invertido”, a atriz e escritora Claudia Campolina faz sucesso na internet usando o humor para criticar o machismo. Em vídeos curtos publicados no Instagram e no TikTok, ela coloca os homens no centro de seus próprios discursos misóginos. 

Além de seu trabalho nas redes sociais, Campolina é conhecida  pelas participações em novelas como "Insensato Coração" e "Guerra dos Sexos" e por ter sido protagonista no filme "A Pedra da Serpente". 

Nesta entrevista para o IG Delas , a escritora fala das motivações para criar o quadro e como acredita que o humor pode ser uma importante ferramenta para um olhar crítico da realidade. “Eu acho o humor uma malandragem. O humor chega ali, meio sem querer falar sério, parecendo que só serve para te distrair, não tem um tom de palestra, não enfia o dedo na cara, vai te relaxando até que te dá um solavanco, te chama para olhar os absurdos do mundo”. 


IG Delas: Como surgiu a ideia de usar o humor para criticar o machismo? 

Claudia Campolina: Tudo começou durante a pandemia, eu estava em casa pensando em algumas ideias de roteiro para postar nas redes, quando veio a ideia de um vídeo que chamei de ‘Se o feminismo fosse igual ao machismo’. Nele, eu inverto frases machistas que mulheres ouvem a vida inteira. Em um primeiro momento, acreditei que a ideia tinha vindo ali, mas depois me lembrei que há alguns anos, tinha cogitado escrever um roteiro sobre um mundo onde as mulheres reprimiam os homens. Acabei não seguindo com a ideia, mas ela voltou mesmo sem eu me dar conta. Eu também tinha visto alguns conteúdos antifeministas que deturpavam completamente o significado do movimento, que eram consumidos por milhares de mulheres nas redes sociais. Esse primeiro vídeo acabou viralizando e as pessoas começaram a pedir mais, então filmei mais umas sete partes e decidi criar a série ‘Mundo Invertido’.

IG Delas: Qual era o seu objetivo com o primeiro vídeo que você fez? 

Claudia Campolina: O objetivo sempre foi conscientizar as pessoas do absurdo do machismo de uma forma leve e bem humorada. Quando a gente inverte fica mais fácil perceber o quanto o patriarcado é pesado e repressor. Foi uma maneira de bater de frente com essas pessoas que adoram criticar o feminismo, ou falar que tudo é ‘mimimi’ também. Além disso, eu queria mostrar como é fácil criar uma lógica para subjugar o outro, justamente o que acontece no machismo! No mundo invertido, eu construo uma lógica própria que justifica o femismo, nome que uso em contraposição ao machismo. 

Muitas vezes eu me valho da própria lógica machista para criar esse mundo, em que mulheres oprimem homens por supostas características de gênero! Por exemplo: é comum ouvirmos que homens são racionais e mulheres emocionais e que, por essa razão, mulheres não podem ficar em posições de liderança! Entretanto, também é comum ouvirmos esses mesmos machistas justificarem o assédio porque, supostamente, uma mulher provocou o assédio, porque ‘fulana estava pedindo’.

Ora, se o homem não se controla por conta de um simples decote, então ele não é racional coisa nenhuma e sim movido por instinto! O instinto é o oposto da razão! Logo, homens não são racionais e mulheres devem dominar o mundo! E assim vou criando inúmeras lógicas que justificam a dominação feminina nesse mundo invertido, mas igualmente violento e aprisionador! Só que nesse caso, as vítimas são os homens! É uma brincadeira de vingança, a ficção é o lugar para isso, e é, acima de tudo, uma crítica à qualquer construção cultural e social onde uns podem mais do que os outros, onde uns sobem em cima dos outros para garantir privilégios.

IG Delas: Você esperava que essa ideia se tornasse um sucesso? 

Claudia Campolina: Sinceramente não. Foi tudo muito orgânico, criado dia a dia, quase que ao vivo. Eu não sentei, desenvolvi uma ideia, produzi, filmei e publiquei. Eu fiz um vídeo curto e ele foi puxando todo o universo da série. Foi um passinho de cada vez, sabe? Eu não sabia onde ia dar, ainda não sei, apesar de já conjecturar várias possibilidades.

IG Delas: Qual é a recepção do público masculino e feminino? 

Claudia Campolina: As mulheres que chegam amam o conteúdo! É raríssimo aparecer uma mulher criticando. Muitas dizem que nem se davam conta do quanto o machismo está impregnado em tudo. Eu acho que nem eu sabia! A cada dia eu descubro mais camadas do machismo. O meu público é muito maior entre as mulheres, mas alguns homens acompanham e gostam também!

Por alguma razão, eu não recebo muitos comentários de haters. Eles aparecem, mas bem menos do que imaginava quando comecei a crescer nas redes! Eu acredito que é por a personagem ser muito debochada, ela tem resposta para tudo e eu crio tudo pelas vias do humor.

Ah, e eu também amo criar conteúdo com hater, os haters sempre entregam conteúdo de graça pro mundo invertido. Então, se um cara vem e escreve um absurdo, eu pego o absurdo e crio um episódio do mundo invertido para responder. Talvez isso afaste os comentários dos haters também. Eles existem, mas atacam covardemente. 

Minha conta do TikTok, por exemplo, que estava crescendo muito rápido, começou a receber inúmeras restrições! Vídeos antigos começaram a ser censurados por “discurso de ódio”. Acho que o algoritmo não entende ironia, não entende que o que eu faço é denunciar discurso de ódio através de uma ficção. Eu faço discurso de ódio de forma irônica para denunciar discursos de ódio.

É estranho porque a minha conta meio que estacionou a partir daí. Sigo crescendo, mas bem mais lentamente e meus vídeos seguem sendo tirados do ar sem razão. Eu estranhei quando isso começou a acontecer porque eram vídeos que já tinham milhares de visualizações e fui pesquisar as razões! Acabei descobrindo que, provavelmente, eu estava sofrendo denúncias em massa. 

Depois isso aconteceu no Instagram também e eu fiquei com risco de perder minhas contas. Tudo leva a crer que pessoas que se incomodam com o meu conteúdo, se juntaram para derrubar a minha conta. Se valem de robôs também. Aí o algoritmo, tendo recebido muitas denúncias, coloca uma red flag na minha conta e qualquer coisa é motivo para tirar o meu vídeo do ar. Engraçado, né? Os machistas se dizem tão “machões”, mas basta uma mulher encarar e fazer piada com eles que eles se escondem e tentam a derrubar.

IG Delas: Como você recebe comentários de pessoas machistas?  

Claudia Campolina: Eu fico revoltada do machismo ser algo ainda tão naturalizado e chocada com pessoas que se posicionam de forma tão machista e ultrapassada, mas também me divirto com as bobagens que as pessoas falam! E amo responder através do mundo invertido! Eles ofendem? Eu crio conteúdo com a ofensa e tiro sarro. 

IG Delas: Qual a potência que a arte e o humor tem para criticar a realidade?

Claudia Campolina: Eu acho que a arte é uma das formas mais potentes para gente discutir as barbaridades do mundo, as desigualdades, os preconceitos e, quando a gente coloca o humor a favor dela, temos a chance de conseguir entrar de uma forma bem mais malandra na cabeça das pessoas! Eu acho o humor uma malandragem.

O humor chega ali, meio sem querer falar sério, parecendo que só serve para te distrair, não tem um tom de palestra, não enfia o dedo na cara, vai te relaxando até que te da um solavanco, te chama para olhar os absurdos do mundo. Às vezes, você nem queria e, de repente, está ali, pensando no mundo. É um convite para falar de coisa séria dando risada! Todo mundo quer rir! O Brasil está precisando rir. E por que não rir falando das nossas tragédias?

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