A dismorfia faz com que a pessoa se veja de um jeito que não é
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A dismorfia faz com que a pessoa se veja de um jeito que não é


O espelho pode ser o pior inimigo de muita gente. O transtorno dismórfico corporal é uma doença em que a pessoa tem um foco obsessivo em um defeito que, em muitos casos, nem existe. Isso abala não só a autoestima, mas também compromete a saúde mental, física e vida social, amorosa e profissional. 

A doença atinge 2% da população mundial e 4 milhões de brasileiros entre 15 e 30 anos, a maioria mulheres.  Mesmo as pessoas consideradas como símbolos sexuais e de beleza, como Megan Fox, podem sofrer com transtorno. A psicóloga Triana Portal explica que a dismorfia corporal faz parte dos transtornos obsessivos compulsivos, também conhecidos como TOC.


“Suspeitamos da dismorfia quando notamos que o indivíduo acredita ter defeitos ou falhas em sua aparência que para os outros são leves ou imperceptíveis. Eles amplificam qualquer detalhe que consideram como defeito, tomam celebridades ou influenciadores como modelos a ser imitados, normalmente tem movimentos repetitivos de olhar-se no espelho, arrumar o cabelo, roupa, usam aplicativos para "melhorar" a imagem, por vezes mudando tanto que ficam irreconhecíveis”, diz. 

É necessária uma avaliação clínica para confirmar o distúrbio. A especialista conta que nos casos mais severos, buscam pelo objetivo de se tornarem cópias de bonecos, sem defeito algum. Portal explica que não há uma causa isolada para o transtorno, mas alguns fatores como negligência e abuso infantil, sociedade e seus padrões de beleza e também ter familiares com TOC podem estar relacionados. Ansiedade, humor deprimido, baixa autoestima também estão associados à dismorfia.


Não é “mimimi”


Pessoas que convivem com o transtorno são constantemente soterradas de frases como “você faz isso para receber elogios” ou então “quer aparecer!”. A dismorfia precisa de atenção e deve ser levada a sério. Portal conta que o transtorno causa sofrimento e prejuízo na vida de forma extensa e sistemática. 

"A pessoa pode gastar dinheiro que não tem, colocar em risco a saúde e por vezes fica desfigurada por tantos procedimentos estéticos e cirúrgicos", conta. Ela ressalta que em caso de dismorfia muscular (quando a pessoa se vê com estrutura diferente ou insuficientemente musculosa), os excessos de exercícios e uso de drogas como anabolizantes podem acontecer e comprometer a saúde física. 


Pensar em é o físico aos olhos dos outros é difícil e em muitos casos, a pessoa tem vergonha da aparência. Isso faz com que ela deixe de frequentar lugares e interagir com pessoas, como é o caso da analista de marketing Thaís Paixão, 24, e da estudante Mia Fangel, 19. 

“Todas as vezes acontece quando preciso sair para um lugar diferente, com pessoas que não conheço. Ou até mesmo quando vou sair com meu namorado, sempre penso que as pessoas vão me olhar e apontar meus defeitos e erros. Conhecer pessoas é um gatilho imenso para crise, imagino que a primeira coisa que vão pensar serão nos meus defeitos”, conta Paixão. 

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"Eu me sinto nojenta, literalmente, não consigo me olhar no espelho, tudo que eu visto fica feio, e já deixei muito de chegar em alguém que eu queria ficar por medo de me acharem feia", diz Fangel. 

“A minha dismorfia corporal é tão grande ao ponto de quando eu passo por uma catraca, eu ainda acho que eu vou enganchar ou quando eu preciso arrastar uma cadeira para passar entre um vão, eu arrasto muito mais do que eu realmente preciso pra passar ali”, afirma a publicitária Gabriela Melo, de 23 anos. Ela conta que suas crises estão ligadas à alimentação e que são traumas que carrega por ter sido obesa. 

A psicóloga conta que como todo transtorno, não se fala em cura, mas sim em controle. Ela explica que o tratamento envolve psicoterapia, medicação, apoio familiar e pode também chegar a internação em alguns casos. Nesses momentos, ter a consciência do problema, admitir para si, para a família, amigos e procurar o tratamento é fundamental. 


As redes sociais agravam a situação 


Com o crescimento das redes sociais, a pressão estética aumentou e tentar achar o ângulo, foto e vídeo perfeito para postar na internet se tornou muito comum. Para as entrevistadas, a convivência na internet ajuda a aumentar a gravidade do transtorno. 

“As redes sociais sempre me impactaram de maneira ruim nessa questão, como vendem corpos ‘perfeitos’, vida exemplar e a maneira que isso é tão fácil. No meio disso, tem pessoas como eu, abrindo mais portas pra grandes crises, frustrações e insatisfação recorrente”, diz Paixão.

Melo diz que por ter passado por uma grande perda de peso, quando se depara com imagens "perfeitas", se sente como antes. "A comparação também é um gatilho muito grande, eu me enxergo como se tivesse novamente 110 kg. Eu procuro seguir perfis que mostram a realidade", diz. No Instagram, perfis como “postada x marcada” mostram a realidade das blogueiras e ajudam mulheres a não se culparem por não ter o corpo/aparência perfeita.

A psicóloga conta que, de fato, as redes sociais podem ser um veneno para a saúde mental, especialmente para quem tem um transtorno. "A ideia da perfeição fica ali materializada sob filtros e fotografias corrigidas, que o indivíduo olha, acredita ser real e acha que só será feliz se atingir aquele padrão inatingível. Assim, os transtornos se desenvolvem ou acentuam", completa. 

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