A solidão afetou mais mulheres na pandemia
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A solidão afetou mais mulheres na pandemia


Com a  pandemia de Covid-19 chegando a patamares mais graves do que em março de 2020 , muitas mulheres que moram sozinhas seguem isoladas da família e amigos por medo de contágio. Apesar de muitas mulheres gostarem de estarem sozinhas, não poder receber visitas ou poder sair traz a  sensação de solidão  e frustração, já que com o surgimento de novas cepas e a demora na vacinação dão a sensação de que isto está longe de terminar.


Para a psicóloga Natália Silva, de 29 anos, o isolamento é mais complicado por ela ser sociável. "Preciso do toque, do abraço, do beijo. Até me adaptar a atendimentos on-line foi difícil. Em alguns momentos de atendimentos eu choraminguei porque eu gosto muito do encontro, do abraço, do contato com o outro, com minha família e minhas relações". 

Natália diz que além da solidão, o medo da doença também a afetou psicologicamente. "Tenho medo de adoecer, muitas vezes ficava adoentada e tinha medo por não ir ao hospital e também por medo da minha mãe vir aqui, ela não pôde trazer um chá, um carinho. O meu medo maior era não ter essa rede de apoio presencial", diz.

Apesar disso, ela tenta interagir com familiares e amigos de forma remota, por chamadas de vídeo. "Como eu e meus amigos trabalhamos muito com tela, não aguentamos mais! Nem me encontrar com amigos por vídeo consigo, é extremamente exaustivo. Tento minimamente interagir com a família e amigos, mesmo que me respondam mais tarde por causa da exaustão do contato on-line", diz. 

Eloá Schuler, professora, 30 anos, também sente que o confinamento traz angústia. "Fiquei o ano passado inteiro isolada e agora voltei a trabalhar de forma híbrida. Só agora encontro amigos que trabalham comigo. É angustiante, apesar de tentar ver o lado positivo, nem sempre consigo".

Ela também sente falta do tato e do abraço. "Por mais que eu tenha tentado aproveitar esse tempo lendo, fazendo algumas coisas, acho que chegou no ponto em que todos estão de 'saco cheio'", diz. Ela conta que passou a morar sozinha no ano passado e apesar de ter sido uma mudança foi positiva, isso lhe trouxe uma sensação maior de isolamento.

A professora chegou a encontrar com a família algumas vezes, mas teve que interromper esses contatos desde a retomada das aulas presenciais. Para ela, os domingos são os piores dias. "O dia já é ruim, mas a gente se reunia em família. Domingo de noite, me dá vontade de chorar sabe? Aí não posso ver ninguém, ou vejo de máscara e longe, mas mesmo assim evito", conta. 

Passar mais um ano em isolamento é "frustrante"

Para Eloá e Natália, saber da possibilidade de passar mais um ano isoladas devido à pandemia é frustrante. "Perceber que a situação não mudou e que vou passar mais tempo distante da minha rede pessoal é frustrante, além disso, sinto tristeza, por não estar perto das pessoas e medo de não rever as pessoas, pensando na possibilidade de óbito", diz Natália. 

"No ano novo até veio a empolgação pela vacina sair, então comecei 2021 muito feliz. Aquele gás, mas com o tempo passando, a ficha caiu e o baque foi pior. Acho que me empolguei demais com a vacina e agora que estamos percebendo que vai demorar. O baque veio mais pesado, pelo menos para mim", conta Eloá. 

O pior para Natália é não poder recorrer a amigos presencialmente. "É difícil se ver mais vulnerável. Quando começa a bater a chateação, a tristeza, a insegurança e eu não poder recorrer à minha rede de apoio", conta. 

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Especialista explica que o isolamento traz prejuízos

Segundo a psicóloga Érika Almeida, o isolamento tira a sensação de pertencimento social. "É prejudicial para a socialização em modo geral, mesmo sem querer e em relacionamentos pequenos, seja com vizinho, com o porteiro", diz. 

"Quando a mulher está sozinha e se sente dessa forma, os prejuízos podem ser: um afastamento maior com pessoas que ainda possui contato (mesmo que virtual), baixa auto estima em não se sentir interessante para fazer trocas ou até mesmo episódios depressivos", afirma. 

Érika diz que ter uma rede de apoio, mesmo à distância, é uma boa saída para aplacar a sensação de solidão. "Falar com amigos, familiares e colegas de trabalho pode ajudar. Mas se a sensação de vazio persistir, vale a busca por ajuda profissional". 

O medo de adoecer é normal, principalmente pela falta de controle."Mulheres que moram sozinhas em uma rotina anterior tinham a opção se receberiam visitas ou companhia. Hoje, o ficar sozinha não é opcional, é um dever. Então quando não temos poder de decisão, pois está acontecendo algo maior que foge do controle de um indivíduo. A sensação de solidão (e outros sentimentos como ansiedade, por exemplo) pode ser potencializada", explica. 

É possível transformar a solidão em solitude

A solitude, estado em que a pessoa está sozinha e aproveita de forma positiva este tempo, é possível ser atingido.  "É importante a mulher achar recursos para buscar a solitude e viver bem com a sua própria companhia mesmo com a ausência de outras figuras, mas sem que seja um processo impositivo", diz. A ajuda profissional pode ser uma ferramenta importante nesse processo.

Eloá diz que afasta um pouco da sensação de estar sem amigos e familiares com uma atividade física. "O que funciona é andar de bicicleta de noite, vejo pessoas no caminho. Só quando trabalho muito que não consigo, mas a bicicleta ajuda, já que moro sozinha e não vejo ninguém", diz. Além disso, ela aproveita esse tempo sozinha na companhia de livros.

"Adoro ler, apesar que eu já leio coisas para o trabalho e vejo sérias bobas, de triste já basta o momento que estamos. Bridgeton, Emily em Paris...Queria ter um namorado... Mas não rola, perigoso", diz. 

Natália tenta apreciar a solitudevendo séries ou aproveitando a própria companhia. "Este tempo sozinha me gerou diversas reflexões, ter apreciado a solitude foi doloroso, mas potente", diz.

Vai passar

Natália já planeja o que fazer quando for vacinada e quando a pandemia acabar. "Vou rever minha família, meus amigos e quero muito viajar pelo Nordeste", diz. 

Já Eloá, não irá mais mentir para ficar em casa. "Quando tudo melhorar, não vou mentir que vou corrigir provas para deixar de sair. Vou sair com meus amigos, vou aproveitar. Dizem que quanto pior o ano, melhor o carnaval. Isso me deixa feliz. Imagine como será?". 

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