Se você é uma mulher que se relaciona com homens, então com certeza já passou por alguns perrengues ou presenciou comportamentos desagradáveis ao menos uma vez. Seja em um relacionamento a longo prazo ou em um caso de uma noite , toda mulher já se deparou com o chamado boy lixo — ou seja, um homem cuja personalidade evoca um ou mais pontos da chamada masculinidade tóxica .
Uma dessas mulheres é a cartunista Bruna Maia, dona do perfil @estarmorta
no Instagram. Em 2017, ela começou a transformar reflexões e situações cotidianas que a deixam irritada em ilustrações. Não demorou muito até que suas experiências com homens começassem a aparecer em seu trabalho.
“Descobri que o homem é uma fonte inesgotável e inigualável de inspiração”, diz Bruna por telefone ao iG Delas. O comportamento masculino logo começou a se tornar um dos assuntos mais abordados por seus quadrinhos, que são compartilhados com mais de 86 mil seguidores na rede social.
Bruna também ilustra sobre saúde mental , amizade, relação com o corpo e gatos, temáticas que ela também aborda em seu livro Parece Que Piorou - Crônicas do cansaço existencial , publicado pela Companhia das Letras neste ano.
Uma imagem distorcida sobre os homens
Bruna afirmou que por muito tempo invejou a imagem de liberdade que os homens aparentavam ter. Mas com o tempo, descobriu o total oposto.
“O homem é a coisa mais dependente que existe. Eles gostam de achar que são donos do mundo, mas dependem muito de mulheres que façam as coisas para eles. Os homens querem ser bem cuidados o tempo inteiro, querem a vida toda administrada. E eu acho isso muito tóxico”, explicou Bruna.
Foi essa visão sobre o comportamento masculino que fez com que Bruna começassem a rascunhar sobre coisas que homens fazem que são insuportáveis para as mulheres, quebrando com essa ideia de que elas precisam ser complacentes.
O retrato do boy lixo
Os diálogos ácidos e brutalmente verdadeiros são o que transformam o retrato do boy lixo algo tão atrativo no trabalho de Bruna. Tão atrativo que, segundo a própria autora, “é só falar mal de homem que o post bomba”.
Uma de suas tirinhas mais recentes traz um homem atrás das grades, choramingando que se sente sufocado no relacionamento. Na realidade ele está na janela da casa da ex, que já namora outra pessoa. “Você está me traindo?”, diz o homem. O post ultrapassou a marca de 15 mil curtidas.
Você viu?
Nos comentários, diversas mulheres comentam com experiências próprias. “Já conheci”, escreveu a astróloga influencer Madame Brona. “Tá cheio de cara solteiro com complexo de chifre platônico”, escreveu outra internauta.
A cartunista atribui isto a um descontentamento generalizado por parte das mulheres, que dura há tempos. “Acho que elas se identificam porque durante muito tempo não tinham encontrado essas críticas de forma tão resumida ou ilustrada”, reflete Bruna.
Perguntada sobre se viveu todas as situações retratadas, ela responde que não. “Se eu fosse desenhar tudo que aconteceu comigo, acho que já tinha me aposentado”, brinca.
A fragilidade do boy lixo
Por outro lado, a cartunista também captura a tal masculinidade frágil, quando o homem age com superioridade por não conseguir encarar seus próprios desejos. Segundo ela, uma das personalidades masculinas que mais a deixa irritada é a do homem que não aceita que quer um relacionamento.
Esta é uma nuance comum da masculinidade, já que a sociedade espera que homens exerçam um papel “predatório”. Enquanto mulheres são ensinadas a ter um relacionamento duradouro, homens são ensinados a terem experiências sexuais e são vistos como figuras “carnais, cuja necessidade pelo sexo é algo biológico.
“Os homens acreditam no discurso de que eles só querem sexo e de que elas só querem relacionamento”, explica Bruna. “Se uma mulher aceita transar , ele acha que ela quer casar e ter filhos. Só que às vezes ela nem gostou da transa, mas está lá porque estava entediada e não tinha nada melhor para fazer”, acrescenta.
Na visão dela, a fixação dos homens em achar que mulheres sempre querem um relacionamento se resume ao que eles mesmos querem, tornando invisível a independência e o desejo dessas mulheres. “Eles é que querem um relacionamento, mas têm medo de admitir para si mesmo e projetam isso na mulher”, diz Bruna.
'Mas nem todo homem é um boy lixo...'
Apesar de sentir que muitas pessoas empatizam com seu trabalho, muitos homens já se mostraram insatisfeitos e até mesmo ofendidos com seus quadrinhos sobre o comportamento dele/s.
Bruna já foi criticada por estereotipar a figura do homem e fazer generalizações, como se todos os homens agissem da mesma maneira. Ela reage com risadas.
“Por milênios os homens tiveram controle da narrativa, estereotiparam mulheres e negros. Agora eles vão ter que aguentar a gente fazendo o mesmo”, afirma.
Se por um lado mensagens de homens se justificando não param de chegar, em outro existem homens aprendendo a reconhecer o machismo e os comportamentos tóxicos dentro de si por meio do trabalho da cartunista.
“Vários comportamentos que satirizo não o tornam uma pessoa horrível. Ele é só um pouco babaca. E esse lado é bom, porque facilita para mulheres. Às vezes o cara dá uma delirada, a mulher manda um quadrinho e ele entende. Ou não.”
Sim, Bruna sabe que nem todo homem é um boy lixo
. E o fato de fazer críticas sobre o comportamento masculino não significa que ela odeie os homens. “Gosto deles até mais do que eu gostaria. Tenho até amigos que são.”