No mês em que é celebrado o Dia Internacional da Mulher, o Delas conversou com algumas mulheres inspiradoras para mostrar como a força feminina pode fazer o mundo mudar - e não é preciso nenhum super-poder, viagens a lugares incríveis ou premiações grandiosas para conseguir fazer a diferença.
No caso de Maria Emília Dinat, de 32 anos, que é fotógrafa e mãe do Joaquim, 7, da Amélie, 5, e da Iolanda, de um ano, a maioria dos dias acontece ali mesmo, na cidade de Araraquara, no interior de São Paulo, onde vive com os pequenos e o marido. Ela é a entrevistada da vez para a série sobre mulheres inspiradoras
, que começou na semana
passada e está sendo publicada todas as sextas-feiras neste mês de março.
Através do perfil no Instagram ela divide com milhares de pessoas seu cotidiano com todas as dores e delícias sobre o que é ser uma mulher independente, mãe, profissional e esposa, no melhor estilo "a vida como ela é" - onde os únicos filtros são os usados na edição das fotos.
Mulheres inspiradoras: Maria Emília Dinat
“‘Corajosa você!’, é o que me dizem quando digo que sou mãe de três. Me dá sempre uma curiosidade de perguntar o porquê desse adjetivo, porque nunca entendi o sentido dele. Não preciso ser corajosa para ter três partos ou para educar três crianças. Coragem a gente tem que ter pra pular de um avião, enfrentar um leão, mas pra ser mãe a gente só precisa amar.”
É com textos assim que Maria Dinat prende a atenção de quem está rolando a tela do feed do Instagram em busca de sabe-se lá o que - mas certamente encontra algo para refletir nas publicações da fotógrafa.
A maneira natural e sincera com que expõe o dia a dia de sua família, com os dramas dos filhos, da vida profissional e como mãe, esposa e mulher é tão sensível, que chega a ser quase palpável ao toque.
A página pessoal na rede social mostra que o clichê “vida sem filtro” funciona, principalmente quando é feito com o coração - ainda mais se for o coração de uma canceriana, mãe de três crianças. “Repare bem na bagunça”, diz a biografia.
A vida exposta assim, para quem quiser olhar, em forma de pequenos textos e imagens feitas, em sua maioria, com o celular da dona do perfil pode ser, além de interessante, inspiradora.
A técnica adquirida com a prática como fotógrafa há 12 anos combinada com os detalhes capturados a partir da sensibilidade materna fazem com que imagens dos filhos preencham o espaço reservado para as fotos de sua página pessoal com cliques cheios de emoção e bom humor.
Questionada sobre como é conciliar as duas “frentes”, Maria é direta: “Muito difícil”. “A rotina de um fotógrafo é bem parecida com a minha vida materna”, pontua. Apesar de demonstrar muito amor pelos três filhos, ela não faz questão de esconder as dificuldades diárias que enfrenta por ser mãe.
“Não tenho hora, nem fim de semana, nem feriado livre. Então me acostumei de viver tudo na correria da melhor maneira possível. Conto com o suporte da minha família nos finais de semana que preciso trabalhar, e com esse apoio a parte difícil fica mesmo para a edição em casa”, conta. O desafio é fazê-los compreender a seriedade do trabalho. “Meus filhos não entendem que é um trabalho ficar sentada na frente do computador”, comenta rindo.
Além da vida profissional, Maria compartilha particularidades da maternidade real, sem glamourização, como relatos de quando os filhos ficam doentes, de como se sente esgotada e não tem tempo para si, comemoração pelas férias escolares terem acabado, casa bagunçada e falta de tempo para si.
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A ideia, segundo ela, é ir na contramão da impressão de perfeição passada pela maioria nas redes sociais. “Acho honesto com as mulheres que ainda não passaram por isso. Jogar a real para quando elas viverem a maternidade, entenderem que isso acontece para todas. O cansaço físico, a privação do sono, a solidão… isso tudo é real e faz parte”, diz.
Maria lembra de como se sentiu perdida em seu primeiro puerpério e como gostaria de ter tido alguém para tê-la avisado sobre o "lado B" da maternidade.
“Ligava chorando para a minha mãe e perguntava porque ela não me falou sobre isso antes. Ela disse que não me falou porque não se lembrava que era assim”, conta. “Acho que ela se acostumou e virou algo normal para ela... mas cada mulher sente de um jeito, vive a maternidade de um jeito”, pondera.
Mãe também é mulher
Quando teve seu primeiro filho, o Joca, ela conta que sua vida mudou completamente e isso incluiu a maneira como encara o presente e os planos para o futuro. “Antes eu não tinha muita ambição. Pegava as semi-jóias que meus pais vendiam pra vender para as amigas só até juntar R$ 50 para beber no final de semana”, lembra.
“Depois que virei mãe, isso mudou. Agora as minhas metas vão além do que preciso. Gosto de pensar grande, de sonhar grande. Me tornei uma mulher sem freio, como diz a minha mãe. Uma mulher que não para”, conta.
Ao ser perguntada sobre a maior lição que a maternidade lhe deu, ela comenta sobre o tempo. “Tudo tem o tempo certo de acontecer. Aprendi a ter paciência e aceitar que tudo tem um ritmo. Não dá pra passar as fases, tudo tem que ser vivido”.
Ainda assim, Maria se esforça para que a rotina com os filhos não suprimam as necessidades e anseios como mulher - situação infelizmente comum para muitas, que acabam se dedicando em tempo integral para os pequenos, sem cuidar de si.
“Essa parte é a que mais me faz pensar. Eu era uma pessoa bem diferente antes do meu primeiro filho, as coisa mudaram muito. Meu corpo, meu tempo, meus pensamentos e prioridades", recorda.
"Me sinto uma mulher forte, mas ao mesmo tempo tento entender como é que virei tudo isso de um dia pro outro. A maternidade consome muito, e ter tempo pra fazer as coisas que fazia antes de ser mãe é importante demais. Sou mulher e mãe, não só mãe.”
'A maternidade mudou, mulheres também'
Com mais de 50 mil seguidores no Instagram, Maria falou ao Delas sobre como lida com a influência que tem sobre outras mulheres e mães e ainda faz uma análise sobre o momento atual sob a perspectiva feminina e materna. Confira:
Você viu?
- Delas: você acha que a sua história pode inspirar outras mulheres? Como você lida com essa influência?
"Gosto de pensar que algumas pessoas se inspiram na minha vida. Aos 26 anos conquistei minha independência financeira, aos 30 já tinha três filhos e hoje sou muito feliz na minha profissão, mas carrego comigo outros sonhos e vontades.
Acredito que o que faz a minha história ser inspiração para outras mulheres é essa vontade de conquistar o mundo todos os dias."
- Delas: você também teve alguma mulher para se inspirar?
"Minha mãe, com certeza. Minhas tias, minhas amigas, [a ativista paquistanesa] Malala Yousafzai e Beyoncé!"
- Delas: como você analisa o momento que as mulheres vivem hoje em relação à maternidade e também à maneira que estão se colocando e sendo vistas socialmente?
"Toda mulher que é mãe que conheço trabalham fora e também é fundamental dentro de casa e na educação dos filhos. É guerreira, carrega a culpa de ter que deixar os filhos na escola para lutar por uma vida melhor para eles.
A maternidade atual mudou muito, as mulheres também. Me orgulho todos os dias de tudo que conquistamos, mas ainda encarando o machismo e o julgamento alheio."
- Delas: qual é a mensagem que você gostaria de passar às mulheres no mês em que é celebrado o Dia Internacional da Mulher?
"Fiz um texto sobre isso ontem, quero dividir com vocês:
Tenha seu próprio dinheiro.
Escolha seu corte de cabelo, e o que você quer vestir hoje.
Não ligue para o que vão pensar, faça o que tiver vontade.
Não case sem amor, não case sem vontade, não junte os trapos se no seu coração essa certeza não é absoluta.
Não faça cursos que sua mãe gostaria de ter feito, não vá atrás de diplomas pra [sic] orgulhar seu pai.
Não aceite menos do que você merece, não feche os olhos para o que te incomoda.
Não concorde por educação, nem fique com alguém por estar acomodada demais pra [sic] começar uma nova vida.
Não se submeta.
Siga seu coração, mesmo que esse não seja o caminho que te deixará milionária como imaginou ser um dia, mas que te trará paz de espírito.
Seja livre para escolher o que quer ser, quem amar, onde ficar.
Escolha ser feliz ao ter que agradar os outros.
Escolha ser amada ao ter que ceder por anos e anos achando que algum dia aquela pessoa vai mudar e te dar valor.
Escolha ser forte ao ter que abaixar a cabeça por medo de perder aquilo que você já perdeu e nem percebeu.
Escolha ser a dona do seu destino.
A sua história é escrita e dirigida por você mesma.
Reescreva quantas vezes for preciso até encontrar o desfecho maravilhoso que ela merece."
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Para mais histórias de mulheres inspiradoras como essa, acompanhe nossa próxima reportagem da série na sexta-feira que vem (15).