Há diversas maneiras de celebrar o Natal em família sem causar problemas. Uma delas é evitar falar sobre a aparência das pessoas. Até a frase “E os namoradinhos?” soa menos inapropriada - embora seja péssima - do que comentários sobre o peso de alguém. Não entendeu o motivo? Simples: além de quase sempre serem carregadas de preconceito, essas falas podem ser um gatilho para que quem as ouve desenvolva doenças sérias , como bulimia, anorexia e depressão.

Georgie sofreu de bulimia durante oito anos, mas não havia contado aos familiares sobre a doença com medo de ser julgada
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Georgie sofreu de bulimia durante oito anos, mas não havia contado aos familiares sobre a doença com medo de ser julgada

Não, não é exagero. A história de Georgie Kelly é um exemplo disso. A jovem, que sofreu de bulimia por quase oito anos, conta que um comentário maldoso feito por um parente na noite do Natal fez com que a doença se desencadeasse novamente, quase levando-a ao suicídio.

“Na minha família, durante a ceia, sempre temos um buffet e uma mesa de sobremesas à nossa disposição. Eu estava me sentindo um pouco melhor na época, não havia ficado doente [por conta da bulimia] por um ano, então decidi pegar duas fatias de bolo de Natal”, lembra a britânica, de 21 anos.

Foi então que um familiar achou que poderia repreendê-la ao avaliar seu corpo, considerado “acima do padrão” por ele e insinuou que ela deveria perder peso . “Me observando, ele disse: ‘Georgie, você não precisa de mais bolo’. Bastou essa frase para que todas as minhas inseguranças voltassem”, conta ela.

O que é bulimia?

Diferente da anorexia, a bulimia nervosa se dá quando a pessoa passa a comer compulsivamente e usar métodos para perder peso, como abusar de laxantes ou induzir o vômito
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Diferente da anorexia, a bulimia nervosa se dá quando a pessoa passa a comer compulsivamente e usar métodos para perder peso, como abusar de laxantes ou induzir o vômito

Diferente da anorexia, outro distúrbio alimentar que é definido pela baixa ingestão de comida e resulta na perda de peso acentuada, a bulimia, ou bulimia nervosa, como também é chamada, ocorre quando a pessoa passa a ter episódios frequentes e incontroláveis de ingestão de grandes quantidades de alimentos, geralmente aqueles com alto teor calórico, e passa a adotar reações inadequadas para evitar o ganho de peso.

Essas reações costumam ser por indução de vômitos, uso de laxativos e diuréticos, jejum prolongado ou até mesmo a prática exaustiva de atividade física.

Quem tem a doença não é conhecido pela magreza. Por serem mulheres jovens a maioiria das vítimas, o corpo delas parece obedecer o padrão, já que um dos comportamentos identificados como sinais do transtorno é o fato de elas cuidarem dele de forma obsessiva.

Entretanto, por seguirem dietas rigorosas, elas acabam perdendo o controle e passam a ingerir uma quantidade muito grande de alimentos, na maior parte das vezes, às escondidas. Assim, um sentimento de culpa e remorso as invade, o que as leva a recorrer aos métodos para evitar o ganho de peso. 

Em muitos casos, além de depressão, é possível que a pessoa também apresente problemas como a destruição do esmalte dos dentes, inflamação na garganta, sangramentos, problemas gastrintestinais, arritmias cardíacas e desidratação.

“As pessoas precisam entender que comentar o peso de alguém pode ser muito perigoso. Se você perceber que alguém perdeu peso, pergunte a essa pessoa como ela está, antes de dizer que ela está maravilhosa”, destaca a jovem.

“Eu entendo que as pessoas perdem peso por razões de saúde e para se sentir bem, mas pode haver outros motivos que as fizeram muito mal até alcançarem seus "objetivos", alerta.

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Como a bulimia quase acabou com a vida de Georgie

Por conta da bulimia, jovem foi ficando deprimida e passou a ter pensamentos suicidas:
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Por conta da bulimia, jovem foi ficando deprimida e passou a ter pensamentos suicidas: "Eu não queria mais estar aqui"

Ela estava em seu último ano na Universidade de Worcester, no Reino Unido, estudando sociologia, quando ouviu o comentário cruel e impensado. “Na época eu estava escrevendo minha dissertação e me sentindo muito ansiosa, então comecei a ficar cada vez mais doente. Eu me sentia tão deprimida que não saí da cama por um mês”, afirma.

Por se sentir culpada, ela passou a comer salada e frango por semanas após o episódio. "Eu costumava pensar comigo mesma que não queria mais estar aqui”, conta.

“Eu sabia que era bulímica, mas sempre me perguntava se alguém acreditaria em mim, já que eu não sou ‘magra o suficiente’ para ter a doença”, declara. No entanto, quando a bulimia ficou fora de controle, Georgie começou a se machucar.

Essa não foi a primeira vez que ela teve pensamentos e atitudes suicidas como consequência da doença. Dessa vez, quando reconheceu os sinais, telefonou para sua mãe, contou que queria se matar e se abriu sobre o transtorno alimentar que manteve em segredo por tantos anos.

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Por não ser "magra o suficiente" para ter bulimia, britânica achava que seus parentes não acreditariam que ela tinha a doença

“Ser bulímica me fez querer o suicídio por vários motivos. Por isso que é tão importante para mim deixar os outros saberem que aqueles que sofrem de um transtorno alimentar nem sempre são extremamente magros ou apresentam sinais claros”, ressalta.

Ela agora está em tratamento, fazendo sessões comportamentais cognitivas e admite que, embora considere estar em recuperação, sempre terá que lutar contra a doença e os pensamentos suicidas.

Mesmo assim, Georgie espera que sessões regulares com um profissional especializado em transtornos alimentares possam ajudá-la a permanecer no caminho certo.

"Sinais como perder muito peso e evitar situações sociais como festas de Natal podem significar que alguém está sofrendo de um distúrbio alimentar. Se seu filho está fazendo a refeição no quarto ou escondido, sempre pergunte o por quê", adverte.

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O caso de bulimia de Georgie mostra como não é engraçado e nem vai ajudar ninguém fazer uma “piada” sobre o peso alheio. Se você realmente tem a intenção de cuidar de alguém que está acima do peso, certifique-se de que isso é realmente um problema para ela e pense em como oferecer apoio, de maneira empática e saudável.

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