Uma jovem de 24 anos conseguiu se livrar de um possível assédio em um trem de São Paulo ao receber a ajuda inesperada de uma mulher. Elis Amorim estava sentada no chão de um trem da Linha 11-Coral na terça-feira (27) e distraída com o celular quando, de repente, recebeu um bilhete de outra usuária. Ela achou que seria algum pedido de ajuda , algo que normalmente acontece pelos metrôs e trens da cidade, mas o recado era outro: “O homem de social encostado na porta está te olhando desde que entrou no vagão. Cuidado e boa viagem!”

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Elis decidiu compartilhar história no Facebook para mostrar que é possível ajudar mulheres a evitar um assédio em público
Arquivo pessoal
Elis decidiu compartilhar história no Facebook para mostrar que é possível ajudar mulheres a evitar um assédio em público

"Eu levei um susto. Me senti desconfortável que tinha alguém me olhando ao ponto de alguém reparar e me avisar. Quando olhei, me deu uma sensação muito negativa, me senti um objeto. Sou muito sexualizada e me olham como algo fetichista por ser transgênero. Me movi o suficiente para que saísse da visão dele, e logo o trem parou para fazer a baldeação, e mudei de vagão”, conta Elis sobre como evitou o possível assédio em entrevista ao Delas .

O bilhete não ajudou Elis a apenas se afastar do homem que estava, em suas palavras, “a olhando de cima a baixo e a lambia os lábios”, a mensagem também a deixou mais aliviada. A jovem sabia que não estava sozinha e desamparada naquele vagão.

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Mais tarde, ela compartilhou a história em sua página no Facebook, e o relato viralizou. “Eu achei muito constrangedor. Porém, linda a atitude dessa moça, ela nem me conhece e me alertou para que eu tomasse cuidado, muito gentil. Por mais anjos assim”, escreveu Elis.

Dois dias depois, já são mais de 80 mil reações na rede social, 25,8 mil compartilhamentos e milhares de comentários. A jovem acredita que tantas pessoas se comoveram com o relato porque é raro alguém se preocupar com outras pessoas, ainda mais um estranho. “E com tantas ocorrências de violência a mulheres trans ou não foi um ato de sororidade. A empatia e a importância dela reparar e me alertar foi algo bem bonito e difícil  de acontecer.”

Procurando audiência?

Ao mesmo tempo em que milhares de pessoas se comoveram com o relato, comentários como estes foram feitos no post de Elis: “Fico imaginando daqui a mais alguns anos, como um simples flerte será difícil, hoje em dia não podemos mais nem olhar para as mulheres que somos julgados ou chamados de vários nomes!”, “Deixa eu só escrever qualquer bobagem num papelzinho aqui, tirar uma foto dele é postar com um textão lacrador e pronto, agora vou ganhar muitos likes”, “Até parece que num transporte cheio e em movimento a pessoa vai conseguir fazer um bilhete com essa letra toda bonitinha e legível né? Fanfic fraca essa hein…”.

A jovem acredita que a repercussão negativa que a história também teve se dá pelo fato de notícias falsas, as chamadas “fake news”, também serem comuns na internet.

“Gostaria que soubessem que não preciso inventar algo para tirar benefício algum. Apenas quis compartilhar a bela atitude dessa mulher em dar importância e evitar talvez uma perseguição ou assédio sexual no decorrer da viagem. Pessoas que não acreditam, tudo bem não acreditar, mas sei da minha verdade e me sinto privilegiada de ter encontrado alguém iluminado aquele dia.”

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Elis acredita que contar histórias como a que ela viveu ajuda a inspirar mais pessoas a fazer ações como a da moça que a ajudou. “Através deste gesto, acredito que ficará uma grande mensagem de alerta a outras mulheres a se unir e se importar mais com as outras, não importa a classe social, cor, sexualidade ou identidade, o que importa é se importar e nos ajudarmos sempre.”

E para a mulher que a ajudou a evitar o possível assédio e que Elis, infelizmente, não teve tempo de conhecer, ela deixa o mais sincero obrigada. E não agradece apenas a ela, mas também a tantas outras que tomam atitudes semelhantes, “pois exemplos iguais a esse podem evitar grandes tragédias e traumas”, completa a jovem.

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