No texto anterior a gente falou de frustração . E se há um assunto bem ligadinho a esse é a compensação. Para evitar que a criança se frustre, os pais tentam dar tudo o que podem e o que não podem. E mais ainda quando são ausentes. Você trabalha demais e não consegue passar muito tempo com os filhos , aí tome presente, né? Faça isso não.
Quando perde a apresentação de balé da filha ou não consegue chegar a tempo no dia das mães da escola, você fica com o maior sentimento de culpa do mundo e acaba comprando um brinquedo super caro para compensar. Bem, a única coisa que vai conseguir com isso é aliviar, um pouco, o seu coração naquele momento. Eu digo o "seu", não o do seu filho. A gente já falou sobre a importância da frustração, que faz parte, mas, mais que isso, compensar sua ausência com bens materiais é um péssimo ensinamento.
Isso também pode acontecer quando você perde a paciência e acaba chegando ao extremo, gritando ou, o que Infelizmente alguns fazem, batendo no filho. Se você não queria ter feito isso, certamente vai ser tomada por um grande arrependimento. Eu mesma já passei do limite gritando com meu filho - quem nunca, né? - e depois corri para o banheiro para chorar escondido. E, confesso, a vontade de compensar depois, de levá-lo ao shopping para escolher um presentinho, já bateu.
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Mas tem que segurar a onda. Nem na ausência e nem diante de nossos "erros" podemos compensar com presentes . Conheço uma mãe que viaja muito a trabalho e sempre que volta traz um presente para a filha. Ela já diz "minha mãe chega amanhã. E vai trazer uma boneca bem cara pra mim". Ou seja, a felicidade da menina não é porque vai abraçar a mãe, mas a boneca. E isso é muito triste, porque a mãe pensa que está resolvendo um problema, mas está criando outro. Psicólogos dizem que a criança pode até vir a ter um comportamento de vingança depois, porque ela não vai se sentir recompensada. Não é a mesma coisa, sabe?
Presença se compensa com presença. Deixa o presente para o dia de dar presente (aniversário, Natal, Dia das Crianças...). Seu filho precisa de você. Só isso. Lembro quando tive meu primeiro filho e tive que voltar a trabalhar. Só parei de chorar quando uma psicóloga me disse "Não importa a quantidade de tempo que você vai passar com ele por dia. Importa a qualidade desse tempo. Se vocês só terão duas horas por dia juntos, por exemplo, que sejam duas horas bons momentos de compartilhamento de interesses". E se eu tivesse que estar ausente nas outras 22 horas do dia, a compensação seria com mais intensidade no próximo reencontro. Sim, sem presentes.
"Mas também não se pode levar isso ao outro extremo, como, depois de passar o dia trabalhando, chegar em casa e fazer mil e uma brincadeiras super divertidas, intensas. Isso também não se sustenta no dia a dia. Manter a criança em estado de alegria plena. É preciso ter o bom senso e entender o significado dessa qualidade de tempo. Por exemplo a escuta atenta às falas da criança, a compreensão dos seus problemas, mas tudo com moderação", é o que diz a psiquiatra Rackel Martins.
Sobre ter perdido o balé ou o campeonato de futebol, explique que você queria muito ter ido e conte porque não foi. Daí, pergunte como foi a apresentação. Converse com ele sobre o assunto, mostre-se interessada, vibre com a história dele! Depois diga que você vai providenciar outros momentos para passarem juntos. E cumpra. Faça um programa. Compense o tempo perdido com mais tempo com seus filhos . E nunca com brinquedos e doces. Quando você substitui sua ausência por um presente, corre o risco de, quando adulto, ele encarar as relações do ponto de vista material, achando que o dinheiro compra tudo.
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Não compra, não é verdade? E como a gente falou em frustração, no texto anterior, vale lembrar que a perda é necessária para o desenvolvimento da criança . E lidar com a falta também. Faz parte. O que não pode, de jeito nenhum, é substituir seu abraço pelo da boneca.