Ontem, durante uma conversa fui questionada se ao final da pandemia, as pessoas teriam mais ou menos problemas emocionais do que antes do início da quarentena, e essa é sem dúvida uma ótima pergunta.
A resposta para essa questão é que sim, as pessoas em geral estarão mais propensas a distúrbios emocionais no final da quarentena .
Durante esse longo período em que estamos total ou parcialmente isolados, desenvolvemos alguns mecanismos de defesa emocional para suportar as mudanças bruscas que ocorreram na rotina diária. Deixamos de encontrar outras pessoas então, nos acostumamos a estar mais sozinhos, a ter auto suficiência para suprir a necessidade de socialização e atenção alheia.
O simples ato de não poder cumprimentar os outros como estávamos acostumados durante toda a nossa vida traz um estranhamento, o qual nos faz sentir constrangidos e levemente indiferentes aos nossos sentimentos e necessidades emocionais.
No caso das crianças, podemos dizer que os “problemas” são exatamente os mesmos que os dos adultos, somando-se ao fato de que crianças dificilmente desenvolvem a doença, mas são grandes transmissores da mesma, o que gera na criança uma ansiedade de poder estar infectando um pai ou um avô.
Estamos falando então principalmente de medo. Medo de pegar a doença, medo de transmitir a doença, medo de algo desconhecido e o que mais importa para a psicanálise, o medo do que não se pode controlar.
Quando ficamos em casa, trancados na quarentena, temos a impressão de que temos um certo controle, já que, estando trancado, desinfectando todos os produtos que chegam e não interagindo com outras pessoas, estamos no controle de nossa vida para não nos infectar.
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Entretanto, trata-se de um falso controle, porque está restrito a uma situação que está fora do nosso controle. Ainda assim é um alento.
Com a liberação para a retomada de atividades, o medo torna-se mais ativo e muito mais poderoso. Esse medo é demostrado através da angustia e da depressão, em como enfrentar algo que eu não conheço, que não tenho controle e que pode me matar e matar as pessoas que eu amo?
O enfrentamento se dá através de conhecimento do inimigo e do fortalecimento do ego. Conheça o seu inimigo, que aqui no caso não é o coronavírus, mas, sim, o seu medo de enfrentar situações desconhecidas e fortaleça o seu ego, sendo a cada dia quem você realmente é e não o que os outros gostariam ou esperam de você.
Durante o período de quarentena, as crianças estão sofrendo com restrições com as quais não estão acostumadas e que não entendem. Para algumas é inevitável um certo abalo emocional, o qual não posso aqui diagnosticar como depressão, mas, sim, como angústia. Se esse sentimento não for bem elaborado juntamente com os pais ou um profissional, pode então vir a tornar-se uma depressão.
Ajudar a criança a entender o que está acontecendo agora e como lidar com isso no final da quarentena é essencial para mantê-la emocionalmente serena.
Converse com o seu filho, faça desenhos, leia histórias, invente músicas, discuta sobre a pandemia, tudo sem alarmismo desnecessário, mas com muita sinceridade. Dedique-se a dar atenção à saúde emocional da criança, que é tão ou mais importante que a saúde física.
Lide com as demandas conforme elas forem ocorrendo. Vencendo cada batalha, no final você vencerá a guerra.