Não é nada raro encontrar pessoas que, como alternativa a produtos de limpeza convencionais, utilizam substâncias cuja função primária não é exatamente ajudar na faxina. Um dos produtos “caseiros” mais utilizados para limpar e desinfetar superfícies – e que você já deve ter ouvido alguém indicar para usos diversos – é o vinagre. Por ser um ácido, muita gente acha que ele é capaz de limpar como nenhum outro produto industrializado faz, além de ser barato e orgânico. Mas será que é mesmo seguro utilizá-lo na faxina?
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Você pode até já ter utilizado o vinagre na limpeza e tido a impressão de que ele faz o trabalho, mas, de acordo com a Abralimp (Associação Brasileira do Mercado de Limpeza Profissional), além de não ser exatamente eficaz contra todos os tipos de resíduos, substituir produtos de limpeza convencionais pela substância pode até trazer riscos à saúde.
De acordo com Miguel Sinkunas, diretor da Câmara Setorial de Fabricantes de Produtos Químicos, para entender por que o vinagre está longe de ser um desinfetante, é preciso analisar a composição e o processo de produção dele.
Segundo Sinkunas, a substância é uma solução de ácido acético em água. O ácido, na maior parte das vezes, é produzido pela fermentação de vegetais ricos em açúcar, e é daí que vem a variação de tipos de vinagre que encontramos no mercado. Como o uso primário da substância é culinário, as pessoas costumam preferir o de maçã ou o de vinho e, por ser “rejeitado”, o vinagre de álcool costuma ser o mais barato – e, portanto, o mais escolhido para usar na faxina .
Até limpa, mas não desinfeta
Você deve estar se perguntando: “Ok, e como uma substância com álcool e ácido não funciona na limpeza?”, mas não é bem assim. Ele é, sim, capaz de tirar o “grosso” da sujeira, mas não desinfeta, como muita gente acredita. Sinkunas explica que isso acontece porque não há apenas um tipo de “sujidades”, mas dois: as orgânicas e as minerais. A primeira, segundo o especialista, é composta principalmente por gorduras e proteínas e favorecem a formação de meios de cultura de bactérias.
As minerais, por outro lado, são depósitos de sais insolúveis que podem servir de “apoio” para a formação de colônias de micro-organismos. “Em função de seu caráter ácido, em concentrações maiores o vinagre pode ajudar na remoção dos componentes minerais da sujeira, mas deixa quase intactas as sujidades de origem orgânica”, afirma Sinkunas, ressaltando que é bem aí que mora o problema do uso da substância na limpeza . Segundo ele, desinfetar as superfícies é a única forma de manter longe os germes que são nocivos à saúde, e essa não é uma propriedade desse produto.
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De acordo com o especialista, todo produto de limpeza com propriedades desinfetantes devem passar por um processo de avaliação da Anvisa em que o fabricante precisa comprovar a eficácia do princípio ativo contra diversos tipos de bactérias. “O vinagre, ou ácido acético, não faz parte do rol de princípios ativos dos desinfetantes registrados na Anvisa. Existem testes mundiais que já avaliaram o vinagre como desinfetante e a conclusão é a de que esse produto não é adequado ou seguro”, explica o especialista, reforçando que a substância não faz nem cócegas em bactérias bastante perigosas à saúde, como os staphylococcus.
Vinagre para lavar saladas
O mesmo, segundo ele, vale para a limpeza de verduras. Muita gente deixa vegetais mergulhados em água com esse produto antes de leva-los à mesa, mas, para que esse processo seja realmente eficaz, é necessário utilizar a mesma quantidade de água e da substância (então, não, colocar apenas algumas gotinhas não funciona).
Além disso, essa solução precisa ficar em contato com a verdura por ao menos 15 minutos para que elas fiquem realmente livres de bactérias, mas, segundo o especialista, isso pode até estragar as folhas.
Se você ainda não se convenceu, o especialista propõe um teste caseiro: aplique algum material gorduroso (como manteiga, margarina, óleo, azeite, etc) em dois recipientes pequenos e tente limpar um deles com o vinagre e o outro com um detergente comum. “As pessoas poderão concluir que, quando limpam superfícies com vinagre, sempre restará pelo menos uma fina camada invisível de material orgânico que poderá dar um certo brilho, mas que fornece um excelente meio para o desenvolvimento de micro-organismos”, relata o especialista.
Além disso, ele explica que a própria substância pode servir como um meio de cultura dependendo das condições em que for conservada. Segundo o especialista, quando o líquido se torna turvo – algo que acontece quando o frasco fica aberto por muito tempo sem refrigeração – é um sinal de que há bactérias se proliferando ali.
Materiais caseiros, sim, mas como apoio
Outro queridinho das pessoas que fazem faxina é o bicarbonato de sódio . Embora não seja exatamente seguro utilizar substâncias “caseiras” para faz a limpeza da casa, produtos como esse podem auxiliar na hora de retirar o “grosso” da sujeira e até alguns tipos de manchas, mas sempre em conjunto com produtos apropriados. De acordo com Paula Roberta Silva, gerente da marca Dona Resolve, esfregar bicarbonato (sem diluir) em tábuas de carne que estão amareladas pelo tempo de uso ajuda a branqueá-las novamente.
O mesmo vale, por exemplo, para o vaso sanitário. Além de utilizar produtos de limpeza que realmente têm propriedades desinfetantes, Paula aconselha diluir uma colher de chá da substância em uma colher de água e limpar a louça com isso, repetindo o processo caso ela esteja muito amarelada. No banheiro, ele ainda pode ser utilizado para dar brilho em torneiras; basta despejar o pó em um pano úmido e passar nos objetos de metal que estão foscos ou escurecidos.
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Assim com o vinagre, o bicarbonato de sódio não é próprio para desengordurar a louça, mas pode ser um grande aliado para ajudar a desgrudar resíduos mais pesados de panelas e assadeiras, basta diluir um pouco da substância em água quente, despejar no recipiente, deixar repousando um pouco e, em seguida, finalizar a lavagem com um detergente comum.