Na contramão dos filtros que borram as imperfeições da pele e adicionam bochechas rosadas que andam dominando os stories do Instagram, muitas mulheres estão demandando que peles reais, com espinhas e manchas, também tenham espaço nas redes sociais. Foi nessa brecha de representatividade que o movimento acne positivity (ou skin positivity) nasceu, com as hashtags sendo usadas para que pessoas com acne pudessem mostrar a sua pele e serem apreciadas. 


Diversas fotos e relatos podem ser encontrados pelas hashtags #acnepositivy e #pelelivre no Instagram
Instagram/Reprodução
Diversas fotos e relatos podem ser encontrados pelas hashtags #acnepositivy e #pelelivre no Instagram



Aqui no Brasil, o movimento vem ganhando força nos últimos meses e criou sua própria hashtag representativa, a #pelelivre. Uma das criadoras de conteúdo adepta ao movimento é a Júlia, mais conhecida como Juno Vecchi, de 27 anos. Juno começou a ter acne já adulta, há três anos, o que foi um choque por si só. A situação se tornou ainda mais dolorosa quando ela foi em uma dermatologista e a médica associou as espinhas ao seu peso e alimentação, antes de pedir qualquer exame.

“De cara a profissional quis me recomendar Roacutan, mas eu não gosto desses tratamentos muito invasivos, então essa experiência me desanimou, mas me incentivou a buscar o autocuidado sozinha. Pesquisei muito, li vários blogs e comecei a perceber que não tinham mulheres gordas falando sobre acne e que a pele acneica, na verdade, não era mostrada”, conta a influenciadora.

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Foi aí que a paulistana decidiu que deveria falar sobre isso e compartilhar suas experiências nas redes sociais, também respondendo a uma demanda dos seus seguidores, que já faziam perguntas e se interessavam pelo assunto. “Comecei a buscar marcas que conversassem com o que eu acredito, que mostrassem e abraçassem peles reais e acneicas para trabalhar com elas, testar produtos e compartilhar. Hoje, felizmente, achei uma dermatologista que antes de me questionar me ouviu e fez eu me sentir segura”, relata.

Júlia achou nas redes sociais um lugar para falar de autoaceitação e de acne
Instagram/@junovecchi
Júlia achou nas redes sociais um lugar para falar de autoaceitação e de acne


A luta para que a acne seja mostrada não só nas redes sociais, mas em todos os meios, vai além da busca por representatividade. A falta de informação ainda faz com muitos não entendam a acne, resultando em pessoas que cobram de outras e até de si mesmas uma pele inalcançável. Juno diz que ainda recebe muitos comentários e mensagens associando a sua pele à má alimentação e desleixo.

“Mas além dos comentários negativos, a maioria das coisas que eu recebo são de pessoas  agradecendo o incentivo que eu dou. Mostrando que a acne não me impede de nada, que eu não posso ficar condicionada a me esconder atrás de maquiagens e que eu cuido dela para o bem dela e não para ter uma imagem específica”, afirma a influenciadora. 

Além das dificuldades para quebrar a bolha dos padrões impostos, Juno conta ter questões de dentro do movimento acne positivity: “Ainda não me sinto 100% representada por esse movimento, porque é ditado por pessoas brancas e magras. Só conheço uma pessoa preta que fala sobre isso e gorda, além de mim, só vejo outro perfil. Eu sinto que existe uma distância entre uma pessoa magra com acne e uma pessoa gorda. A pessoa gorda sempre vai ser questionada sobre os motivos daquela acne, principalmente em relação à alimentação”.

Por fim, a influenciadora afirma que o seu maior objetivo ao compartilhar o processo da sua pele é ligar isso ao autoconhecimento e aceitação. “Eu quero que as pessoas lidem com a rotina de cuidados com a pele sentindo esse carinho e não fazer skincare para mudar a própria pele. É a coisa mais maravilhosa do mundo ter acne? Não é. Mas é a condição da minha pele, é como o meu corpo responde a diversas coisas, estresse, alimentos que me fazem mal… E eu quero que as pessoas aprendam a lidar com isso como eu aprendi”, conclui.

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