Mulheres sofrem mais com ansiedade e depressão, alertam especialistas
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Mulheres sofrem mais com ansiedade e depressão, alertam especialistas

Janeiro é o mês oficial da saúde mental. Desde 2014, o primeiro mês do ano faz parte da campanha ‘Janeiro Branco’, com o objetivo de conscientizar a população sobre a importância da saúde mental e emocional. A data foi originalmente criada pelo psicólogo mineiro Leonardo Abrahão, nativo de Uberlândia (MG).

A campanha foi desenvolvida especialmente para o mês de janeiro, período que acompanha grande pressão e é carregado de expectativas e objetivos para o resto do ano. Por isso, o mês representa uma “página em branco”, onde se traçam novas metas para uma melhor qualidade de vida.

O projeto se torna ainda mais essencial num ambiente pós-pandêmico. “O mundo necessita de saúde mental. Houve grande aumento nos diagnósticos de doenças psíquicas, principalmente a partir do início da pandemia, em 2020”, explica Soraya Oliveira, psicóloga do Instituto de Neurologia de Goiânia.

“A população em geral independente do sexo ficou mais suscetíveis às doenças emocionais e alterações de comportamentos provocados pelo próprio estresse do dia a dia, cobrança do mercado de trabalho e necessidade de manutenção de condições financeiras e estabilidade no mercado de trabalho”, continua.

A questão da saúde mental é extremamente importante para o Brasil, país com a população mais ansiosa do mundo - 9,3% dos brasileiros sofre com o problema, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). A depressão também é uma doença que acomete uma grande parcela do país, com 11,5 milhões de casos.

O quadro é ainda mais alarmante para o público feminino, parcela mais provável a sofrer com certos transtornos mentais, como também atesta a OMS. No recorte de gênero, 5,1% das mulheres sofrem de depressão, em comparação a 3,6% dos homens. Na ansiedade, o valor é ainda maior: 7,7% da população feminina, contra 3,6% da masculina.

Mas por que essa diferença é tão gritante? Para os especialistas, a saúde mental feminina deve ser observada com um recorte de gênero, já que as situações e adversidades enfrentadas são extremamente diferentes entre homens e mulheres.

Fatores culturais, sociais e biológicos dividem os homens e mulheres, e, assim como na sociedade, a desigualdade também existe quando se fala em saúde. É o que explica Vanessa Gebrim, psicóloga especialista em psicologia clínica pela PUC: “as mulheres ainda sofrem mais em relação à desigualdade interferindo na sua saúde mental. Elas enfrentam uma sobrecarga muito grande por conta do trabalho doméstico, carreira, estudos, maternidade e relacionamentos”

Isso significa que apenas ‘ser mulher’ têm grande impacto na saúde mental. De acordo com a psicóloga clínica Amanda Amude, as razões para essa diferenciação são desde fatores biológicos (mudanças hormonais mensais), como históricos (papéis e funções) e sociais (pobreza, isolamento). “Os fatores histórico-sociais têm grande peso para o aumento do risco de saúde mental”, aponta a especialista.

A psicóloga Amanda atesta que, sem o viés do gênero, é impossível refletir sobre a saúde mental, o sofrimento psíquico e suas particularidades, no que diz respeito à experiência subjetiva de “ser uma mulher”. “Com o gênero temos um viés das determinantes socioeconômicas, posição social, status social, suscetibilidade e exposição a riscos de saúde mental específicos.”

Questões como a disparidade salarial, os cuidados com a casa e a tripla jornada podem agravar sintomas de ansiedade e depressão, já que essas situações causam grande cansaço físico e mental. 

Amanda detalha que o estilo de vida com demandas variadas torna o cuidado com a saúde mental feminina “uma necessidade, praticamente um dever”, na medida em que tradicionalmente as mulheres tendem a assumir a responsabilidade por cuidar da saúde dos integrantes da família, além da sua própria.

A violência de gênero também é um grande problema que afeta essa população. Uma pesquisa realizada pela revista britânica de saúde mental Lancet Psychiatry revelou que mulheres que sofreram violência doméstica têm três vezes mais chance de desenvolverem transtornos depressivos, quatro vezes de desenvolverem transtornos ansiosos e sete de desenvolverem síndrome de estresse pós-traumático (TEPT). 

A terapia é a melhor amiga da melhora da saúde mental, afirmam especialistas
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A terapia é a melhor amiga da melhora da saúde mental, afirmam especialistas

Esses recortes de gênero não significam que homens não sofrem com problemas de saúde mental. Pelo contrário: eles também enfrentam transtornos, por mais que existam diferenças significativas. “Existe uma diferença na proporção, na sintomatologia e no tipo de patologia, sendo alguns mais comuns entre as mulheres: ansiedade, depressão, abusos e distúrbios alimentares e outros mais comuns entre os homens: vícios, tendências suicidas, personalidade antissocial e outros ainda cuja diferença de gênero não representa algo significativo”, reflete Amude.

As mulheres também são mais suscetíveis a buscar ajuda, o que é benéfico para essa população, mas, ao mesmo tempo, demonstra outra faceta do machismo. A busca por ajuda psicológica e psiquiátrica é muitas vezes dada como ‘feminina’ e até como ‘frescura’ - o papel do homem como um ser forte e inabalável afasta esse gênero das salas de terapia.

Ensinados desde o berço que ‘homem não chora’ e que sentimentos devem ser guardados e não expressados’, se torna ainda mais difícil para esse público tratar dos problemas da saúde mental da forma correta.

No entanto, a busca por ajuda pode fazer toda a diferença. “Fazer terapia é como se olhar no espelho e conseguir se enxergar para além do óbvio. Além da zona natural de conforto. Além das desculpas e tentativas de autoengano”, reflete Amanda.

“Quanto mais nos tornamos conscientes de quem somos, das nossas dificuldades, das questões sociais e históricas que nos transcendem, da maneira como funcionamos e da nossa capacidade de solucionar os dilemas existenciais de maneira satisfatória, mais nos respeitamos e nos responsabilizamos (criamos a habilidade de resposta) pelo nosso bem estar e felicidade”, finaliza a profissional.


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