Com 202 kg, Carla Maria Pedro já não se reconhecia mais. No auge do seu peso, a catarinense sofria com os "olhares aterrorizados" das pessoas, se sentia humilhada em situações rotineiras para a maioria da população, como o simples ato de pegar um ônibus, mas sabia da necessidade de precisar mudar: "Passei a não ser mais eu mesma, quase não socializava, não sorria mais". A mudança começou em 2015, mas a história de como ela chegou à obesidade mórbida teve início ainda na infância.
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Em relato ao Delas
, Carla conta que sua alimentação já não era adequada quando criança. Segundo a catarinense, sua mãe lhe dava uma mamadeira reforçada e entendia que um choro era sinônimo de fome, então dava outra. Conforme o tempo foi passando, ela foi crescendo, assim como a compulsão por comida e as dificuldades para emagrecer
.
"Comia muito bolo e bolachas. Tínhamos uma conta na padaria e no mercadinho e sempre que minha mãe pedia para eu ir comprar algo que estava faltando em casa, eu acrescentava algo para mim, como, por exemplo, umas três coxinhas, e comia escondido na rua antes de chegar em casa. A conta sempre estourava", afirma.
Luta contra o preconceito e vídeos no YouTube
A obesidade chegou a atrapalhar um aspecto muito importante da vida da catarinense: os estudos. "Deixei de estudar, fiz apenas o ensino fundamental. Não consegui aguentar a pressão que sofria com as chacotas dos meus colegas de classe", explica Carla.
Estar acima do peso tornava até o fato de pegar um ônibus uma verdadeira batalha. "No ônibus que eu pegava, tinham várias pessoas da escola e todos presenciavam a humilhação de eu pagar a passagem e pedir para o motorista para abrir as portas do fundo", relata.
"Tinha gente que postava vídeos meus no YouTube para que todos pudessem assistir e rir de mim, na época. Quando comecei a trabalhar era outro preconceito. Por muitas vezes eu deixei de conseguir o emprego porque eu era obesa", lamenta a jovem de 26 anos, que hoje trabalha como empregada doméstica.
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Início do processo de emagrecimento
A catarinense ressalta que sempre quis perder peso e que investiu em inúmeras dietas e procedimentos para alcançar esse objetivo. Ela tentou fazer uma cirurgia bariátrica três vezes, mas não dava continuidade, e acabou sendo vítima do efeito sanfona. O peso elevado ainda fez com que suas gestações (ela tem três filhos) fossem de risco.
"Sempre lidei com os olhares aterrorizado das pessoas, adultos e crianças, especialmente quando levava meus filhos para a escola. Ser obeso é sempre lidar com esses olhares", diz Carla. A vontade de colocar um ponto final na obesidade e conquistar hábitos de vida mais saudáveis surgiu em 2015, quando ela voltava do trabalho com uma amiga.
Ela notou que o ônibus estava vazio e pediu ao motorista para entrar pela porta traseira. "Ele me olhou de um jeito de cima a baixo e disse: 'Seu lugar é na frente'. Mas ele falou de um jeito tão grosseiro que eu fiquei muito mal e a amiga que estava comigo se sentiu ofendida e até discutiu com ele", relembra. "Entrei na frente e as pessoas que estavam sentadas foram passando para trás. Foi tudo muito constrangedor."
A situação foi tão embaraçosa para Carla que ela chegou a fazer uma queixa formal com um dos fiscais da empresa de ônibus em questão, mas ele também não deu muita importância. "Fiquei tão nervosa e envergonhada que acabei desmaiando e tendo uma convulsão. As pessoas começaram a me ajudar, e depois, quando tudo passou, percebi que não queria mais aquela vida pra mim", explica.
Sem dietas mirabolantes e sem cirurgia
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Depois deste episódio, quando pesava 200 kg, a jovem quis tentar, mais uma vez, fazer uma cirurgia bariátrica . A dieta rigorosa e o custo elevado dos produtos indicados pelos médicos, no entanto, a desanimaram. Segundo ela, a quantidade de comida era pequena e não proporcionava sensação de saciedade.
Ao notar que tinha muita dificuldade em seguir a cartilha comum de emagrecimento, como fazer dietas e alguns exercícios, Carla decidiu reeducar sua alimentação ao seu próprio modo.
"Para mim era muito difícil fazer uma simples caminhada porque via o olhar de julgamento das pessoas. Comecei a frequentar a academia para terceira idade, fazer caminhadas todos os dias e reduzir a porção dos meus alimentos, então comecei a emagrecer", celebra.
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As refeições mudaram e, ao invés de alimentos gordurosos e muita comida, a jovem escolheu saladas e reduziu a quantidade de alimentos nos pratos. Além disso, o óleo virou um ingrediente proibido e a água passou a ser sua maior aliada.
"Decidi continuar comendo tudo o que comia, mas ajustando as porções. Uma porção bem grande do meu prato – mais da metade – era de salada, no restante acrescentava arroz, feijão e uma carne magra. Optava por frango, peixe e carne de porco sequinha, sem gordura."
A "nova Carla" ama atividades físicas
Com o início da sua jornada de emagrecimento, Carla Maria quis potencializar a queima de gordura e dar adeus ao sedentarismo. Para isso, ela colocou os exercícios físicos em sua rotina aos poucos.
"Hoje, faço zumba duas vezes por semana e percorro 15 km todos os dias, alternando entre caminhada e corrida. Comecei a correr depois das aulas de zumba porque aumentou a minha resistência", destaca. "Nesse processo inteiro estou me redescobrindo e hoje sei que a nova Carla é apaixonada por atividade física", comemora.
Menos 96 kg e contando...
Todo o esforço de Carla foi recompensado. Em dois anos e nove meses, com a reeducação alimentar e as caminhadas diárias, ela emagreceu 49 kg.
Em setembro de 2018 a zumba passou a fazer parte de sua vida, e o resultado ficou evidente na balança e no bem-estar. "Fui muito bem recebida por todos e ali renasci. Voltei a sorrir e a ter vontade de viver de novo. Não consigo nem explicar a sensação que tenho quando faço uma hora de aula de zumba, é maravilhoso, é uma sensação única", enfatiza.
Após nove meses de aulas, ela já eliminou mais 47 kg, o que totaliza 96 kg perdidos. "Você se olhar no espelho e você gostar do que está vendo, não tem preço. Voltei a ser a Carla animada e divertida que por anos ficou adormecida. Sou feliz hoje", comenta a jovem.
O próximo passo
Agora com 106 kg, Carla diz sofrer com o excesso de pele e sonha em fazer uma cirurgia para a remoção das peles que ficaram com o emagrecimento. De acordo com ela, isso não é apenas uma questão estética.
"É como seu meu corpo fosse um P vestido em um GG. Tem muita coisa que precisa ser eliminada, mas, infelizmente, não tenho convênio médico e nem condições de pagar cirurgias reparadoras. Estou tentando pelo SUS [Sistema Único de Saúde], mas o processo não é tão simples assim", afirma.
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Contudo, ela comemora os resultados satisfatórios que teve até agora e valoriza a sua batalha para emagrecer . "Não é fácil, é muita luta e é preciso ter muito amor próprio. Não é impossível. Por muitas vezes eu estava com bolhas e meus pés estavam sangrando, mas mesmo assim eu colocava o tênis e fazia minha caminhada diária. Não desista!"