Emanuelle Araújo interpreta acompanhante de luxo em série da Netflix
Divulgação/Netflix
Emanuelle Araújo interpreta acompanhante de luxo em série da Netflix

A hacker Miranda é uma voyeur que passa o dia observando, pela janela, a vida de sua vizinha Cleo, uma acompanhante de luxo que mora no prédio da frente. Mas tudo muda quando a garota de programa pede para que a hacker cuide de sua cachorrinha enquanto ela viaja com um cliente durante um final de semana. É aí que Miranda se envolve em uma trama de segredos e assassinatos.

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O thriller psicológico estrelado por Débora Nascimento (Miranda) e Emanuelle Araújo (Cleo) estreou na Netflix no dia 1º de janeiro. Desde então, "Olhar Indiscreto" já entrou para o top 10 do streaming em 57 países e territórios.

"A Cleo é uma mulher extremamente livre. Ela é uma garota de programa mas o que eu mais busquei foi não fazer isso de uma forma estereotipada, porque as garotas de programa não são necessariamente como a gente pincela na cabeça da gente. Muitas vezes, são meninas completamente normais, com uma vida normal e que tem a sua profissão e o conhecimento sobre esse universo sexual", afirma Emanuelle Araújo, em entrevista exclusiva ao iG Delas .

"Mas para mim, a vida sexual da Cleo é só o contexto. A parte mais legal, o que mais me deu tesão de fazer foi o fato de ela ser uma personagem muito ambígua, por ser uma uma mulher com o psicológico muito comprometido. Isso é um prato cheio para uma atriz — ainda mais sendo uma personagem de corpo tão livre, sexualidade tão livre. Ela é uma mulher de muitas facetas", completa Emanuelle.

Criada pela argentina Marcela Citterio e adaptada pela brasileira Camila Raffanti, a minissérie da Netflix aborda o voyeurismo e a prática de BDSM (sigla para "Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão, Sadismo e Masoquismo") sob um olhar feminino. "Eu pesquisei o universo BDSM e foi muito importante não só para as cenas picantes da Cleo, mas porque isso é uma coisa que estava ali na aura dela durante todas as cenas".

Questionada sobre como lida com a sexualidade na vida real, a atriz respondeu, bem-humorada: "A minha vida pessoal está ótima (risos). Eu não preciso do universo da Cleo, isso fica para ela".

Emanuelle Araújo bateu um papo com o iG Delas sobre o seu papel no mais novo sucesso da Netflix, os projetos para 2023 e a carreira musical. Além de atriz, a baiana também é cantora, já foi vocalista da Banda Eva e tem dois álbuns lançados. Confira abaixo!

iG DELAS: Em "Olhar Indiscreto", você vive a Cleo, uma acompanhante de luxo que está inserida no universo do BDSM. Como foi o seu processo de preparação para a personagem? E como é dar vida à Cleo?

Emanuelle Araújo: A Cleo é uma mulher extremamente livre. Ela é uma garota de programa mas o que eu mais busquei foi não fazer isso de uma forma estereotipada, porque as garotas de programa não são necessariamente como a gente pincela na cabeça da gente. Muitas vezes, são meninas completamente normais, com uma vida normal e que tem a sua profissão e o conhecimento sobre esse universo sexual. Eu pesquisei sobre a prática do BDSM. Foi muito importante para cumprir o acordo com a Cleo, não só para as cenas picantes, mas porque isso é uma coisa que estava ali na aura dela durante todas as cenas. Mas para além disso, o que mais me interessou na Cleo foi o fato de ela ser uma personagem muito ambígua, por ser uma uma mulher com o psicológico muito comprometido. Isso é um prato cheio para uma atriz. Então, assim, para mim, a parte sexual da Cleo é só o contexto. O que me deu mais tesão de fazer foi o fato dela ter todo esse comprometimento psicológico, ainda mais sendo uma mulher de corpo tão livre, sexualidade tão livre. É uma personagem de muitas facetas.

Como você lida com o sexo na vida real? A Cleo é uma mulher livre, bem resolvida com a vida sexual. Você acredita que de alguma forma ela "abriu sua mente" para esse universo?

Todas as personagens que eu já fiz e todas as coisas sobre elas que não faziam parte da minha vida e eu tive que pesquisar acabam entrando para a minha história. Por exemplo, a personagem que eu fiz no filme "O Barulho da Noite", que está vindo aí, eu fui uma mãe do sertão, com uma história dramática. Foi muito difícil, eu tive que me abrir para um universo que não era o meu e hoje eu tenho memórias e experiências desse universo. A mesma coisa com a Cleo, que tem essa maestria no universo sexual, que gosta de usar os clientes, instrumentos. Eu tive que mergulhar nesse universo e quanto mais eu pesquiso, mais eu vou aprendendo sobre. Mas a minha vida pessoal está ótima (risos). Não estou precisando do universo da Cleo, isso fica para ela. É isso que ser atriz traz. Com certeza, faz a gente conhecer universos até então desconhecidos e você precisa separar da sua vida pessoal.

A série contou com uma equipe predominantemente formada por mulheres e aborda a sexualidade, sobretudo a prática de BDSM e o voyeurismo, sob um olhar feminino. Como você vê isso?

Eu acho que isso gerou todo um diferencial, porque faz com que todas as cenas tenham um toque sensível, uma profundidade na dialética, nas narrativas. Quando a gente estava lá gravando no set, 90% das pessoas eram mulheres. Então o diálogo muda, a comunicação muda, tem todo um cuidado e dá uma sensação de conforto. Eu trabalho há muitos anos nesse mercado e na maioria das vezes foram projetos majoritariamente masculinos. E eu fico muito feliz também vendo o sucesso da série. Uma série feminina está fazendo sucesso no mundo inteiro. Isso eu acho muito legal.

Você interpreta uma acompanhante de luxo em "Olhar Indiscreto". O assédio aumentou depois da série?

Não! Eu acho que uma coisa não tem nada a ver com a outra, pelo menos para mim. Eu faço muitos personagens diferentes: mãe, garota de programa, lavadeira. Então eu acho que as pessoas têm a consciência, têm a noção de que eu sou uma atriz, que faço personagens e que isso não sou eu. Todo mundo conhece a Manu e sabe que ela é bastante diferente da Cleo. Eu tenho recebido mensagens maravilhosas na internet, pessoas querendo saber como fiz tal cena, perguntando sobre a personagem, elogiando o nosso trabalho...

Quais você acredita serem as principais diferenças entre você e a Cleo?

Eu não tenho nada parecido com ela, a não ser, claro, o meu corpo e a minha voz. Doei a minha persona, minha imagem para ela, mas eu sou completamente diferente da Cleo. É muito bom quando a personagem é completamente diferente de você, porque claro, você sempre vai doar um sorriso, um olhar, mas tudo vai ser por outro viés psicológico. Isso é muito desafiador, mas também muito bom de realizar.

A série tem feito bastante sucesso tanto no Brasil quanto no exterior, já tendo alcançado o top 10 da Netflix no Brasil e no mundo. Como você avalia esse sucesso?

Para mim, é sempre surpreendente porque eu não faço um trabalho esperando o sucesso. Eu adoro o processo, eu adoro gravar, adoro mergulhar naquilo, então eu não fico pensando se vai ser sucesso ou não. E quando é, é sempre uma boa surpresa. Fico feliz pela nossa autora mulher, pelas diretoras mulheres, pelo nosso elenco lindíssimo, que é muito unido. Fico mais feliz também de uma série brasileira, que está sendo vista em vários países, por várias culturas. É maravilhoso.

Além da série, você também poderá ser vista em breve nos longas "O Barulho da Noite" e "E Meu Sangue Ferve por Você" (que conta a trajetória do cantor Sidney Magal). Quais são os planos para 2023? Podemos esperar ver mais de você nas telinhas?

Ah, eu acho que vocês sempre podem esperar alguma coisa de mim, porque eu estou sempre fazendo coisas, eu gosto muito de trabalhar. Eu tenho alguns longas, alguns projetos no streaming. "E Meu Sangue por Você" também vai virar uma série. Eu estou filmando já um outro trabalho agora em março, que é da Bahia, um trabalho com diretores e cineastas baianos, uma equipe da minha terra. É um momento que estou trabalhando muito, estou conciliando todos os trabalhos. Na música também. É época pré-carnaval, então tem vários shows aí na estrada. E eu vou estar aí trabalhando com o meu corpo e minha alma e querendo ser feliz, porque a gente está precisando, né?!

Vem algum projeto musical por aí? O que você poderia adiantar para a gente?

Vem. Eu tenho inclusive a minha nomeação de musa da banda "Bola Preta", porque eu fui convidada na pandemia, então a gente não teve a a passada de faixa ainda. Vou viver isso nesse carnaval, depois de dois anos sem carnaval. Vou para a Bahia também. Tem shows no Rio de Janeiro e shows com as minhas bandas também.

E, por fim, como você faz para conciliar todos esses trabalhos?

É viver intensamente cada coisa. Eu posso fazer muitas coisas, mas eu estou em cada coisa no tempo de cada coisa. Então, eu não gosto de atropelar os momentos. Quando eu estou focada em um projeto, aquele projeto é o mais importante da minha vida. Se amanhã já estou outro, aquele outro se torna o projeto mais importante. É de fato você viver o momento com todas as suas células, e não ficar hoje pensando no amanhã, e amanhã pensando no depois. Eu acho que os últimos anos da gente [da pandemia] fez a gente pensar muito sobre o presente. A melhor forma de você estar no mundo é estar no presente.

** Gabrielle Gonçalves é repórter do iG Delas, editoria de Moda e Comportamento do Portal iG. Anteriormente, foi estagiária do Brasil Econômico, editoria de Economia. É jornalista em formação pela Universidade Estadual Paulista (Unesp).

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