Após sucesso de Zefa em Pantanal, Paula Barbosa dá detalhes sobre carreira e maternidade
Divulgação/Globo
Após sucesso de Zefa em Pantanal, Paula Barbosa dá detalhes sobre carreira e maternidade

Um dos momentos mais marcantes da dramaturgia brasileira nos últimos anos, com certeza, foi o  sucesso de "Pantanal". Após a primeira versão, exibida pela Rede Manchete em 1990, a trama ganhou uma adaptação em 2022, produzida pela TV Globo. E a atriz Paula Barbosa (36) chamou a atenção do público pela sua atuação como a personagem Zefa.

O folhetim é um dos grandes sucessos do autor  Benedito Ruy Barbosa, avô de Paula. O remake da novela foi exibido entre março e outubro deste ano, com adaptação de Bruno Luperi, primo da atriz e também neto de Ruy Barbosa.

Paula Barbosa inicialmente faria Guta, vivida pela atriz Julia Dalavia. Com a mudança de perfil do elenco, que recebeu rostos mais jovens, ela chegou a pensar que ficaria de fora da trama escrita pelo avô, antes de ser escalada como a fuxiqueira e resguardada Zefa. 

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A artista, que já atuou em "Meu Pedacinho de Chão" e "I Love Paraisópolis", ainda é cantora e dona de quatro franquias da marca Cia Marítima, ao lado do marido, o produtor musical Diego Dalia. Junto, o casal também possui 13 unidades da loja Arranjos Express. 

Paula bateu um papo com o iG Delas  sobre o trabalho em "Pantanal", carreira, relação com o avô e o diagnóstico de "baby blues" , após a chegada do primeiro filho, Daniel, em 2016. 

Confira!

iG Delas: Como foi para você interpretar Zefa mais de 30 anos depois da versão original, criada pelo seu avô?

Paula Barbosa: Eu vejo isso como uma oportunidade, ainda mais tanto tempo depois, a gente poder fazer uma releitura de uma obra tão incrível como foi "Pantanal" e pensar que aquela personagem já existiu e agora eu posso partir para um outro lugar e dar uma cara nova para ela, contar uma nova história. Eu acho que é um privilégio, ainda mais que muita coisa mudou com o passar do tempo, e 30 anos é muita coisa. Então, é muito gostoso você pegar o trabalho antigo e estudar ele para poder fazer agora essa releitura 30 anos depois. Eu adorei, achei incrível, mesmo sendo um remake —  tem muita gente que não gosta, tem aquele lado que diz: 'Ah, essa novela já existiu. Não vamos mexer no clássico, os personagens já são icônicos', e na verdade eu acho isso legal. 

Em algum momento, você sentiu medo das comparações com a trama exibida em 1990?

Desde o início, eu imaginava que isso seria natural. De novo, a gente não está falando de um trabalho qualquer, a gente está falando de um clássico. Além de ser uma novela incrível, que caiu no gosto das pessoas, tem toda a questão de ser uma história que era para ter sido feita pela Globo e acabou sendo pela Manchete. Então, a gente já tinha uma noção de que teria essa coisa da comparação. Tem a comparação que é saudável e tem aqueles comentários de internet, que são a crítica só pela crítica. A gente sabia que isso ia acontecer, dá um pouco de receio, mas eu acho que no fundo, quando começa o trabalho, a gente esquece isso e entra para o jogo, sabe? 'Vamos ver agora o que vai dar e esquece um pouco essa coisa da comparação. Seja o que Deus quiser e vamos embora'. É meio assim.

Como foi a sua preparação para dar vida à Zefa, interpretada pela atriz  Giovanna Gold na versão original da TV Manchete?

Às vezes, as pessoas acham que é uma personagem super simples de fazer, e para mim foi super difícil. Eu tive que estudar bastante, porque quando eu comecei a receber os capítulos, eu percebi que seria muito fácil para mim, como atriz, infantilizar a Zefa, pelas coisas que saiam da boca dela e que se eu não estudasse, não pesquisasse, eu acho que a Zefa não seria real, as pessoas não iam acreditar nela. Num primeiro momento, eu mesma pensei: 'Será que eu, com 36 anos, vou dar conta de não parecer infantilizada?'. E aí, eu fui conhecendo mulheres no Brasil inteiro que são como a Zefa, que esperaram a vida toda por um grande amor e isso não aconteceu, não casaram, nunca tiveram filhos, não se entregaram para homem nenhum — eu inclusive cheguei a conhecer mulheres bem mais velhas do que eu. Ou ainda mulheres que casaram, constituíram família com a pessoa com quem elas se entregaram pela primeira vez. Foi muito bonito ver isso porque eu sou de cidade grande, de uma nova geração, venho de um lugar e tenho um estilo de vida completamente diferentes. Então, me conectar com esse universo foi muito necessário para fazer dar certo. Foi um trabalho de pesquisa bem intenso.

Você costumava receber pitacos do seu avô sobre a sua atuação?

Desde o primeiro trabalho que eu fiz com ele, ele faz comigo o que eu acredito que ele faça com outros atores também, que é dar aquele start  falando o que ele pensa da personagem, qual caminho ele gostaria que a gente seguisse, tal como qualquer diretor faz. Quando a coisa acontece, até para não me prejudicar, ele não fica falando 'Ah, acho que isso aqui você fez certo ou errado'. Mas claro que às vezes ele comenta 'Poxa, aquela cena foi muito legal, você captou a essência' ou então 'Ah, aquela lá você podia ter feito um pouquinho melhor'. Mas nessa novela isso aconteceu menos, porque eu fiquei muito distante dele. Isso aconteceu bastante em "Meu Pedacinho de Chão", que eu fazia uma personagem complexa, alías a novela toda era bem diferente. Então, para entrar naquele universo e ir pelo caminho certo, ele estava ali mais perto, não só de mim, mas de todos os atores. Ele participou bastante. Mas em "Pantanal", a gente estava bem distante, então eu acabei tendo menos esse feedback dele. Quando acabou a novela e a gente conversou, aí ele falou que adorou.

Você e Giovanna se estranharam em meados de agosto,  após ela declarar publicamente que você teria ignorado algumas mensagens desejando "boa sorte". Vocês chegaram a conversar sobre o assunto depois da polêmica? Como você recebeu essa provocação?

Na verdade, eu não cheguei a conversar com ela sobre isso, a gente nem teve a oportunidade. E assim: como ela falou isso pela internet, eu pensei só em responder porque a gente sabe como é, né? Eu estava no ar, em um momento de muita exposição, aí uma pessoa vem e fala de você e uma coisa que não é verdade... Eu não queria entrar em discussão, mas eu queria colocar para as pessoas a minha versão do que aconteceu, ainda mais porque eu achei que o que ela falou não era verdadeiro. Se ela estivesse dando uma opinião sobre o meu trabalho, estivesse achando a minha atuação como Zefa ruim, aí para mim, seria tanto faz. Mas foi uma coisa sobre o meu caráter, sobre eu ter ignorado ela. Aí eu achei que deveria responder. Não tomei isso como ofensa, meu foco era mais as pessoas que podiam ouvir ou ler isso que ela falou, então eu queria esclarecer. A gente não teve troca de farpas, ela falou algo pela internet e eu falei depois na internet também, comentei sobre em algumas entrevistas. Não teve isso de "Ai, nossa. Não posso ver na minha frente", tanto que a gente se cruzou no último capítulo da novela. Mas, naquele momento, como era o último capítulo, a gente tinha muita coisa para gravar: festas, casamentos. Eu estava vestida de noiva, estava um calor absurdo, ela chegou, eu estava me preparando e a gente se cumprimentou. E a gente ficou todo o tempo ali para gravar. Não teve oportunidade para falar sobre isso, e sinceramente eu acho que já foi. Não tem porque ficar mascando chiclete. Eu acho que quanto mais eu falo, mais ela fala, mais as coisas vão piorando.

Zefa caiu rapidamente no gosto dos telespectadores, principalmente pelo romance conturbado com Tadeu, personagem de José Loreto. Quais você acredita serem as principais diferenças entre você e a personagem?

Muitas coisas (risos). Posso falar o que eu acho que tem em comum? É uma coisa e eu acho que é a única: a sinceridade. Quando eu era adolescente, eu era Zefa para pior: sem noção nenhuma, filtro zero. Hoje que eu sou adulta, mais madura, eu aprendi como me colocar. Mas eu tenho essa necessidade sempre de dar minha opinião, às vezes até penso: 'Hm, melhor ficar quietinha (risos)'. Tanto que esses dias eu voltei para São Paulo e encontrei uma pessoa que trabalhou na minha escola quando eu era pequenininha, e ela falou assim: 'Tem horas que eu assistia à Zefa e eu via você: bocudinha'. 

Pantanal é uma obra originalmente escrita pelo seu avô Benedito Ruy Barbosa e posteriormente adaptada pelo seu primo Bruno Luperi. Houve algum "dedinho" deles para que você fosse escolhida para o papel? Você sente que sofreu uma pressão maior ou até mesmo um preconceito pelo parentesco com os autores da trama?

Quando a gente soube que o remake ia acontecer de fato, o meu avô de cara falou que queria que eu fizesse. Na cabeça dele, eu sou atriz, ele gosta do meu trabalho e ele pensou que seria legal eu fazer, mas, óbvio que isso passa por um monte de gente. E eu, na verdade, quase não entrei para a novela. Essa coisa do privilégio é assim: Tá, eu fui indicada pelo meu avô, fui indicada pelo meu primo, que conhecem o meu trabalho. Fulano foi indicado pelo diretor, que conhece o trabalho dele. Isso acontece muito. Agora, bater o martelo depende muito de como você se sai no teste, depende muito da coisa do perfil: 'Pô, legal, ela é boa atriz mas não funciona para esse perfil'. E num primeiro momento, eu até pensei: 'Como que eu vou fazer?'. A Zefa é bem mais nova e queriam uma Zefa madura, diferente, para mostrar esse lado dessas mulheres que eu falei que eu acabei estudando. Então, assim, esse privilégio que às vezes parece que eu possa ter, ele não existe. Ele existe na questão da indicação: 'Pô, eu gostaria da Paula para esse papel'. Quando eu fiz a Gina [Meu Pedacinho de Chão], aí sim meu vô bateu o martelo: 'Eu quero a Paula, porque conheço a Paula, o trabalho da Paula e eu sei que ela vai fazer a Gina que eu quero'.

E é isso que a gente vê. Hoje mesmo eu li uma matéria: 'Walcyr Carrasco escreveu uma personagem pensando na Fernanda Montenegro no final, mas no final quem vai fazer é a Susana Vieira'. Então os autores escrevem pensando em alguns atores mesmo. Eu tenho o privilégio de ter conquistado esse lugar na cabeça do meu vô. Às vezes, ele tem algum personagem ali e fala: 'A Paula poderia fazer'. Mas em "Velho Chico", que também é da minha família, não rolou, eu fiquei de fora. Então isso acontece, é muito natural. Eu sempre faço questão de mostrar que eu mereço, para o meu avô, para a minha família, que é do meio. Agora, as outras pessoas criticarem também é mais uma coisa que eu acho natural, porque a gente sabe que o nepotismo existe em todas as áreas. Mas a gente sabe também que, sei lá, numa família de médicos, o filho segue a carreira do pai, que seguiu a carreira do avô, né? É uma coisa natural, você cresceu nesse meio. Pode acontecer, como pode não acontecer. Nesse caso, eu sou a única neta que é atriz, meu avô tem um monte de neto. O Bruno escreve, meu irmão escreve, o resto, cada um com as suas áreas. Então eu acho que as pessoas pensarem alguma coisa, de repente, é natural. E aí eu penso assim: 'Vai lá e faz seu trabalho, você sabe que você estudou, que batalhou para estar aqui', e a gente mostra isso quando a gente vai lá e faz um negócio bem feito, né? Então isso que me dá tranquilidade.

Então você chegou a fazer testes para interpretar a Zefa?

Para a Zefa, eu fiz sim, eu fiz "self-tape"  [vídeo de apresentação]. Eu não fiz o teste presencial, estava na época da pandemia, e aliás acho que eles têm feito muito pouco teste presencial. Os últimos testes que eu fiz foram todos "self-tape".  Eu fiz teste presencial para outra personagem, a Guta. Não sei porque, meu avô queria que eu fizesse a Guta. Mas no perfil que eles queriam para ela, nessa versão de Pantanal, eu não me encaixava. Aí ficaram com o meu teste por lá e surgiu essa oportunidade de eu fazer a Zefa. Por isso que eu falei: eu quase fiquei de fora. Eu até pensei: 'Meu Deus, eu quero muito fazer essa novela', mas não tinha o que fazer, né? Graças a Deus, acabou dando certo.

Depois do sucesso de 'Pantanal', quais são os seus planos para 2023? Podemos esperar te ver nas telinhas de novo?

Eu queria, na verdade, entrar para um nicho que eu nunca fiz: o das séries. Quero muito entrar nesse meio de séries, porque eu acho que são trabalhos mais pontuais, a cada temporada. Não é uma demanda que nem novela. E eu sou de São Paulo. Mas eu estou super aberta a novelas, se aparecerem. Eu quero focar mesmo no meu trabalho musical, tenho um disco que eu ainda não trabalhei, quero aproveitar que eu estou mais segura para isso. Gosto também de teatro. Estava pensando também no teatro para o ano que vem, é uma peça que eu produzi, eu adoro fazer. Mas ainda estou decidindo questões burocráticas, horários, equipe. Não vou dar certeza ainda. Mas a minha ideia é trabalhar na música, talvez no teatro e se pintar alguma coisa na TV, eu vou voltar com certeza.

Como é a sua relação com Benedito Ruy Barbosa? Seu avô teve influência na sua escolha da carreira como atriz? 

Eu acho que ele teve influência porque eu cresci nisso, né? Eu lembro, por exemplo, de reuniões na casa do meu avô de novelas que ele escrevia, e os atores e os diretores faziam leitura e eu ficava ali, só olhando. Teatro eu comecei a fazer desde muito nova. É que nem quando a gente põe o filho na natação e ele descobre que ama natação, foi meio que isso. Agora, quando isso chegou no momento de decidir se essa seria minha profissão mesmo, aí o meu avô nem sabe o quanto ele influenciou para eu ter certeza de que era isso mesmo que eu queria. Porque num primeiro momento, ele não queria que eu fizesse a faculdade de Artes Cênicas: 'Não, você já faz teatro desde muito nova. Você não precisa fazer faculdade disso. Faculdade você pode fazer de Direito, por exemplo'. Tinha essa coisa de eu ser a bocuda da família, aí ele achou que eu iria me dar muito bem no Direito e tal. E aí eu comecei a me questionar: 'Será que eu gosto mesmo disso ou eu estou envolvida porque desde que eu me conheço por gente, eu estou nesse universo?' E aí eu dei uma desviada no meu caminho. Só que foi essencial para eu voltar e falar 'Não, é isso mesmo!'. Fui, estudei, me formei em Artes Cênicas. Acho que eu precisei desse questionamento para ter certeza, e meu avô foi muito influente nisso, porque quando ele me questionou, ele me fez pensar. Mas nunca teve isso de 'Ah, você faz teatro desde pequena, por que você não faz uma faculdade de Artes Cênicas, se forma atriz?' Nunca! Muito pelo contrário.

Em 2016, você foi mãe pela primeira vez, do pequeno Daniel. Apesar da gravidez tranquila, você posteriormente foi diagnosticada com o chamado "baby blues" após o parto. Como foi lidar com a condição? O que você diria para outras mulheres que também sofrem com ela nas primeiras semanas da maternidade?

Foi muito difícil, porque eu não conhecia. Eu ouvia falar de depressão pós-parto. O baby blues acontece muito seguido ao parto, logo nos dias seguintes. A depressão pós-parto pode acontecer até com a criança com um, dois anos. Eu me assustei porque eu comecei a ficar esquisita, eu percebia que tinha algo de errado. 'Será que pode ser depressão pós-parto?'. Eu chorava muito, muito, muito, e eu não sou uma pessoa de chorar, você nunca vai me ver depressiva, chorando, é muito difícil. E eu chorava e chorava. Eu comecei a me assustar, mas em nenhum momento eu tive aversão ao meu filho, muito pelo contrário. Mas eu amamentava e era difícil, eu começava a chorar. Eu fui na médica desesperada e foi aí que ela me explicou sobre o baby blues , que é muito, muito, muito comum. Eu comecei a também pesquisar e conhecer outras mulheres que passaram por isso. Eu tinha a minha irmã, que é mais nova que eu, mas teve filho antes, e para ela foi tranquilo. Então eu nem imaginei que isso pudesse acontecer — não só essa questão da gravidez, como amamentação e outras coisas que são muito novas para uma mãe de primeira viagem. E por mais que a gente pesquise, que a gente ouça outras experiências, a nossa experiência é muito única.

Então, a dica que eu daria é: se você estiver sentindo algo que é seu, que a sua mãe não sentiu, sua irmã não sentiu, alguém que você conhece não sentiu, pesquise e procure outras pessoas que também estão passando por isso. Porque é muito comum. Pergunte tudo para o médico, porque eu acho que a gente às vezes está naquela euforia da gestação e nem pensa nessas coisas ruins, então a gente nem pergunta sobre isso, né? Eu acho que se informar é o mais importante, principalmente pra quem é de primeira viagem, assim como eu, em que tudo é muito novo e desconhecido.

Tem planos de ter um segundo filho?

Sim, muito, muito mesmo. Isso me angustiava um pouco, porque quando o Dani [filho] fez um aninho, eu perdi meu pai. Foi uma semana antes de eu abrir a minha primeira loja. Eu queria já ter tido um outro filho quando o Daniel fizesse um ano, um ano e meio. Só que eu passei por um momento que não dava espaço pra isso. Quando as coisas começaram a melhorar, eu passei a escrever a minha peça de teatro, fiz minha estreia aqui em São Paulo, estava levando para o Rio, e aí veio a pandemia. Então eu nem pensava em ter outro filho. E aí veio o remake de Pantanal, que a gente não sabia se de fato ia acontecer por causa da pandemia. Quando eu vi, meu filho já estava quatro, cinco anos, e aí eu falei 'Puts, esperei demais!'. Mas eu quero muito ter outro filho. Só que nesse embalo de Pantanal, que foi um sucesso, tem muita coisa acontecendo, muita possibilidade, então estou com o pé no chão. Se surgir alguma coisa, vou fazer, pegar o trabalho e depois parar e dar esse tempo só para ter meu segundo filho. Não é o momento que eu queria, eu não queria essa distância do primeiro, mas como eu quero muito ter um segundo filho, vou fazer dessa forma. Hoje em dia a gente tem a possibilidade de ter filho mais tarde. Eu acho que, mais um aninho pela frente, aí eu vou começar a pôr esse projeto em prática.

Na mesma época, em 2016, você perdeu o pai, André Luis De Bernardo, após um diagnóstico tardio de hipertensão. Entre 2015 e 2022, ficou um tempo afastada das telinhas. Quando foi o momento que você percebeu que estava na hora de investir em um plano B?

Quando eu soube que ia ser mãe. Aí isso virou um assunto entre o Diego [marido] e eu. O Diego é produtor musical, tinha o estúdio dele, vivia viajando, trabalhava de madrugada e eu atriz, pegava um trabalho ali e aqui, viajava também. Mas tudo bem: a gente se conheceu nesse ritmo, foi se adaptando a isso. Logo quando acabou "I Love Paraisópolis", eu engravidei. Em seguida, surgiram outros dois trabalhos e aí eu comecei a pensar: "Eu quero cuidar dele, eu vou ficar mais tempo afastada". É uma área muito instável. E a gente começou a pesquisar. Eu não acho que a gente deva fazer uma única coisa a vida inteira, até por isso eu sou atriz, gosto muito de experimentar coisas novas. Já fiz curso técnico de estética, já tive uma clínica, já fiz faculdade de fonoaudiologia. Eu vou estudando, sabe? Isso inclusive é bagagem para o meu trabalho. Eu estava parada na minha área por conta da gravidez, e eu não queria ficar parada. A gente foi pesquisando e decidiu abrir uma franquia, porque franquia tem a marca para dar suporte. E bem despretenciosamente, a gente pegou o dinheiro que tinha guardado e abriu. No meu caso, me colocaram em um shopping novo, não tinha público, mas era num bairro muito bom. Então a gente decidiu apostar. Deu super certo, em pouquíssimo tempo, a coisa aconteceu. Hoje a gente tem 17 lojas, o Diego decidiu fechar o estúdio e hoje se dedica a isso. Somos eu, o Diego, a minha irmã e o meu cunhado.

Era um plano B, no sentido de ser uma coisa concreta, de ter todo dia, não era como o nosso trabalho em que surgia uma oportunidade ou outra. Só que a coisa cresceu muito e virou muito importante para a gente. Hoje eu digo que sigo minha carreira tranquilamente porque eu tenho essa segurança financeira. A gente quer o melhor para os nossos filhos: a melhor escola, o melhor plano saúde, a gente quer tudo. Não adianta viver só de sonho.

Como empresária, você abriu franquias ao lado do seu marido, o produtor musical Diego Dalia. Como é trabalhar com o seu marido? Qual o segredo de vocês para separar o casamento e o trabalho juntos? 

É engraçado porque todo mundo para quem eu falo que a gente abriu essas lojas torce o nariz e fala: 'Hm, marido e mulher no trabalho'. Mas a gente se dá super bem e eu confio muito na proatividade dele e ele na minha. A gente corre atrás, estuda, nisso a gente combina. Para você ter uma ideia, quando eu fui abrir a minha primeira loja, eu contratei as meninas, eu montei a loja, eu queria estar ali, quis saber de tudo, como funciona. Não foi 'Ah, agora eu tenho uma loja, que legal' e outra pessoa administra. Ele também foi aprender sobre o negócio. Acho que até por isso que a gente cresceu rápido. E eu também já tinha feito um disco com ele, já tinha tido uma experiência de trabalhar com ele em outra área, e já tinha sido muito legal. Tem mais questões dentro de casa do que no trabalho (risos).

Além de atriz e empresária, você também é cantora, Como é para você conciliar os trabalhos com a maternidade? Já sentiu alguma dificuldade?

Eu tento administrar da melhor maneira possível, porque eu gosto de ser uma mãe presente, eu gosto de cuidar da minha casa, levar meu filho para a escola. É até engraçado porque depois que acabou a novela, a primeira coisa que eu queria fazer era levar o meu filho para a escola, só que eu chegava na porta e todo mundo ficava 'Meu Deus, é a Zefa'.

Tem momentos que são difíceis sim. Para mim, "Pantanal" foi o trabalho mais difícil até agora. Porque as lojas, por mais que eu esteja todo o tempo correndo, trabalhando, elas são aqui em São Paulo, têm horário para abrir e para fechar. Eu sempre volto para casa depois. Como cantora, os meus shows também foram aqui em São Paulo, inclusive eu estava grávida na época. Fiz shows com barrigão depois de "I Love Paraisópolis". "Pantanal" foi o meu primeiro trabalho depois de virar mãe que eu tive que ficar tanto tempo longe. Essa parte foi bem difícil, dava saudades. Às vezes, ele falava 'Mamãe, volta para casa. Por que você está aí?'.

Mas para quem me pergunta eu sempre falo que eu quero ser uma mulher de quem o meu filho vai sentir orgulho. Que ele saiba que a mãe dele trabalha muito, corre atrás dos sonhos, dos objetivos dela. Eu fico feliz de ser uma referência como mulher nesse sentido para ele.

E também a gente tem que ver o lado bom. Ele ficou super independente, ele também falava 'Mamãe, eu estou escovando os dentes sozinho, hoje eu me troquei sozinho'. E aí eu comecei a perceber a importância de não estar o tempo todo em cima, é importante sentir saudade, é importante saber que a mamãe pode não estar fisicamente ali do lado, mas que está o tempo todo junto. 

Quando eu perdi meu pai, por exemplo, foi um baita de um susto. Eu nunca tinha perdido alguém tão próximo de mim. Então é importante aprender essa questão da saudade, se sentir autossuficiente. Teve o lado ruim e teve esse lado que foi muito bom. Eu acho que a gente não tem que se anular para cuidar de filho, eu acho que dá pra adaptar, às vezes a gente está mais como a gente gostaria, às vezes a gente está menos. Faz parte. Culpa faz parte. A questão é: como que eu vou lidar com isso e transformar isso em algo positivo? Como toda mãe, eu tenho meus momentos que dá vontade de desistir, depois você respira e vida que segue, né?

Por fim, quais os seus planos para a carreira musical? Vem algum projeto novo por aí?

Eu tenho músicas novas que eu estou gravando com o Diego. Eu pretendo lançar três ou quatro músicas novas. E o meu disco, como eu comentei, eu comecei a trabalhar nele e tive que parar. Então eu quero trabalhar nesse disco, porque as músicas, para muita gente, ainda são inéditas. Então a ideia é trabalhar nisso, fazer shows. Não vou lançar um disco novo, mas tenho músicas para lançar — porém, só no ano que vem.

** Gabrielle Gonçalves é repórter do iG Delas, editoria de Moda e Comportamento do Portal iG. Anteriormente, foi estagiária do Brasil Econômico, editoria de Economia. É jornalista em formação pela Universidade Estadual Paulista (Unesp).

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