Quem nunca escutou que mulheres são ruins de matemática e que por isso não devem cuidar do dinheiro? Bom, essa não é a realidade do Brasil. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 45% dos lares brasileiros são sustentados por mulheres -- apesar de ganharem menos que os homens. Além disso, a presença de mulheres
em investimentos na Bolsa mais que dobrou em 2020.
Dentro desse contexto de desigualdade salarial, as mulheres negras são as mais são impactadas. Elas recebem menos da metade do salário de um homem branco, que ocupa o topo da escala de remuneração no país, segundo IBGE. Foi pensando nessa realidade, que a jornalista Amanda Dias decidiu fundar o Grana Preta, um programa de emancipação econômica que oferece soluções para pessoas de baixa renda e micro e pequenos empreendedores.
“As mulheres têm um papel central na gestão financeira. Aqui no Brasil, as famílias pardas e negras reproduzem a cultura de povos vindos da África, como os Iorubás onde as figuras femininas são as protagonistas das economias familiares. As mulheres de baixa renda tem um grande poder de gestão financeiro. Em um país onde não se corrige o salário mínimo, elas mantem a família com apenas R$1100”, explica.
Apesar de inicialmente não ter sido o foco de Amanda falar sobre finanças para mulheres, a jornalista percebeu que a maioria do seu público era feminino. “Eu coloquei a página no ar com a minha cara e as mulheres chegaram. O interessante de se trabalhar com esse público é que elas são um polo de educação financeira para a família, amigas, outras mulheres e a comunidade. Elas compartilham o conhecimento”, diz.
Carolina Sandler, que criou o Finanças Femininas, o maior plataforma on-line de educação financeira para mulheres do Brasil, concorda. “Nossa história com dinheiro é diferente, as mulheres tiveram direito a ter seu próprio CPF e sua conta bancária no final dos anos 1960. Elas ganham menos que os homens, têm menos tempo disponível e os produtos e serviços para elas são mais caros, por causa da pink tax ”, diz.
A pink tax é uma taxa que encarece os produtos destinados ao público feminino. Desta maneira, os mesmos produtos direcionados aos homens tem um valor mais baixo que os das mulheres, como é o caso das lâminas, shampoos e roupas básicas, como camiseta e calça jeans.
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Para Carolina, falar sobre finanças voltadas para mulheres é falar sobre poder de escolha, liberdade e empoderamento feminino. “Ser independente financeiramente é ter a capacidade de decidir se você quer ficar em um relacionamento ou não, se você quer ficar naquele emprego ou não”, diz.
A pedido do iG Delas , Amanda e Carolina compartilham dicas básicas para quem quer se organizar financeiramente:
1. Organize seu dinheiro
“O primeiro passo para conquistar a independência financeira é ter controle do seu orçamento”, explica Carolina. Para isso, a empresária recomenda visualizar o extrato e a fatura dos últimos três meses e anotar quanto ganha, como gasta e quanto gasta. Veja também se há faturas para pagar e dívidas.
2. Custo de vida: Cortar ou ter outra fonte de renda?
Dimensione o seu custo de vida. Para os que têm um alto padrão de vida, mas as contas não fecham no fim do mês, Carolina ensina que o custo de vida deve encaixar no seu orçamento. Para isso, faça cortes para reduzir o custo de vida ou encontre uma outra fonte de renda.
Para as mulheres de baixa renda, Amanda explica: “a inflação pesa muito nos itens básicos, como alimentação, e as famílias de baixa renda são as mais afetadas, pois gastam muito mais em termos de porcentagem do orçamento.”
Se o salário não cobre os gastos básicos e não há mais com o que reduzir, é necessário fazer renda extra. “Infelizmente fazer renda extra é um imperativo para fazer as contas fecharem direito", diz.
Para fazer renda extra, todo conhecimento é válido e pode se transformar em dinheiro. Além disso, você pode recorrer a sua rede de apoio. Se você tiver um filho que tenha alguma habilidade, como informática, ele pode te ajudar também. Busque por seus direitos, como pensão alimentícia e auxílio.
"Qualquer conhecimento pode ser monetizado. Se você sabe organizar muito bem gavetas, geladeira, armários, já dá para fazer renda na internet ensinando esse conhecimento para pessoas, você só precisa encontrar seu público”, explica Amanda.
3. Organize as dívidas
Amanda aconselha quitar as dívidas em parcelas que não atrapalhem o seu orçamento mensal. “Muita gente está endividado e acaba negociando as dívidas em um valor que não dá para arcar e depois recebe mais juros”. Para isso ela recomenda a regra do 70-30%, onde 70% do orçamento vai para o básico como aluguel, água e luz e 30% é dividido em 10% para quitar dívidas, 10% para uma reserva de emergência e 10% para uma reserva de aposentadoria.
“Se você negociar a dívida para a pessoa dizendo que tem interesse em pagar, mas que a parcela fique nesses 10% do seu orçamento, não tem como o gerente se contrapor à uma organização que já é sua”, diz.
4. Crie uma reserva de emergência
Antes de querer investir todo seu dinheiro, Carolina explica que é necessário ter uma reserva de emergência suficiente para bancar seis meses do seu padrão de vida atual. “Se você ficar sem renda de uma hora para outra ou ter algum imprevisto, isso vai te dar um colchão financeiro”, conta.
Carolina aconselha a primeiramente quitar as dívidas, construir uma reserva de emergência e enquanto isso estudar mais sobre investimentos. "Independência financeira não é ter milhões no banco, é você poder decidir o que você quer fazer, na hora que você quiser”, diz.