Ao que parece, o minimalismo está aos poucos saindo de cena e cedendo espaço ao seu "rival", o maximalismo. Um novo visual que tem feito sucesso no TikTok prova isso. Trata-se da tendência Mob Wife, inspirada no estilo das esposas de mafiosos italianos dos anos 90. Casacos de pele, roupas com estampa animal print , tamancos, óculos enormes e muitos acessórios em dourado fazem parte desta estética.
Vídeos com a temática acumulam milhares de visualizações na plataforma chinesa. São produções exageradas, como uma verdadeira ode à ostentação. Além das roupas e dos acessórios, a beleza de uma mob wife se caracteriza por cabelos altos e volumosos, unhas vermelhas ou francesinhas, olhos esfumados e contorno labial.
Para a consultora de moda Andreza Ramos, a nova trend vem na contramão do que já vínhamos testemunhamos nas redes sociais com as tendências Clean Girl e Quiet Luxury, que propunham um visual mais natural e discreto. "Mas ela ainda mantém o poder de consumo como pilar, assim como as anteriores", diz a especialista.
O que explica a febre do Mob Wife?
Nas passarelas, o Mob Wife apareceu na coleção de inverno 2023 de Alta-Costura de Jean Paul Gaultier. Depois, voltou a aparecer no desfile de verão 2024 da Dolce & Gabbana na Semana de Moda de Milão. À época, Domenico Dolce e Stefano Gabbana confessaram terem se inspirado na socialite Kim Kardashian para criar as peças.
Mas o boom do visual Mob Wife pode estar ligado a dois eventos que acontecem em 2024. Um deles é o aniversário de 25 anos da série "Família Soprano", da HBO. Na trama, um mafioso ítalo-americano procura a ajuda de uma psiquiatra para conseguir lidar com os problemas na família e nos negócios. São personagens como Carmela Soprano (Edie Falco) e Adriana La Cerva (Drea de Matteo) que estão à frente desse estilo.
Outro evento é o lançamento de "Griselda", da Netflix. Estrelada por Sofía Vergara, a minissérie conta a história da narcotraficante colombiana Griselda Blanco (1943 - 2012), considerada a "madrinha" da cocaína e do Cartel de Medellín entre as décadas de 70 e 80.
O visual Mob Wife deve pegar no Brasil?
Aqui no Brasil, as representantes desse visual seriam, para Andreza Ramos, as personagens Bibi Perigosa, interpretada pela atriz Juliana Paes na novela "A Força do Querer" (2017), e Delegada Helô, vivida por Giovanna Antonelli em "Salve Jorge" (2012) e "Travessia" (2022). Também há quem cite o nome da advogada Deolane Bezerra entre as adeptas do Mob Wife.
Questionada se a tendência deve ganhar as ruas nos próximos meses, a consultora de moda carimba: "A única coisa que dificilmente seria aplicada aqui são as peles. Todo o restante já pode ser visto, em doses homeopáticas, por vários cantos do Brasil. O contorno labial, a francesinha, os brincões, as maquiagens. Mas agora, todas as referências de uma mob wife juntas, num look bem característico à trend , acho pouco provável que ganhe as ruas".
Tendência gera polêmicas
Apesar do sucesso, a tendência é controversa. A começar pelo nome, que faz referência à própria mafia. "Estamos, mais uma vez, deslocando uma estética do seu contexto sem entender que, junto com tais elementos visuais, vem um background de violência, machismo, silenciamento, objetificação", pontua Andreza.
Outro ponto levantado pela consultora de moda é justamente o berço de microtendências como essa. Ela lembra que elementos característicos do Mob Wife sempre fizeram parte do visual de artistas negras e de origem latina norte-americanas, a exemplo de Lil Kim, Cardi B, Nick Minaj e Queen Latifah. "Qual corpo, qual localização, qual nacionalidade, gera informação de moda, qual não e por quê?".
E a sustentabilidade?
O Mob Wife prega uma estética com detalhes extravagantes e exagerados e, por isso, difíceis de serem aplicados no dia a dia. Este tópico nos acende um alerta para o consumo impulsivo e desenfreado, apenas para acompanhar o que "está na moda" nas redes sociais. "Quando essa microtendência acabar, quais são as roupas que realmente poderão ser usadas no cotidiano? Para onde vai essa quantidade gigantesca de maxi elementos quando a próxima onda de minimalismo chegar?".
Mais uma problemática diz respeito ao enaltecimento e, portanto, ao aumento da procura por casacos de pele. "O mercado de peles sintéticas se movimenta, consequentemente, o mercado de peles reais também seguirá o movimento e, no final, essa conta sobra para todo mundo", prevê a especialista.
No Estado de São Paulo, por exemplo, desde 2014, a Lei Nº 15.566 proíbe a criação ou manutenção de animais com a finalidade exclusiva de extração de peles. Mas não há nada na legislação que proíba a comercialização e fabricação desse material para vestuário, de um modo geral.
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** Gabrielle Gonçalves é jornalista formada pela UNESP e atua como repórter do iG Delas e do iG Receitas.