Quiet Luxury: o "luxo silencioso" está dominando o mundo da moda

O mundo se prepara para mais uma recessão econômica. E isso impacta não só o mercado, mas também a forma como consumimos

O consumidor não quer mais arriscar

O termo "quiet luxury" (ou "luxo silencioso", em tradução livre) é uma resposta à instabilidade econômica no período pós-pandemia. Um momento em que até mesmo as pessoas que têm condições de comprar itens de luxo começam a consumir produtos mais modestos e atemporais. São peças que podem parecer extremamente simples para um olhar desatento; só identifica que são de luxo quem entende ou está inserido nesse universo. Um tipo de roupa que não anuncia seu valor logo de cara.

Reprodução/Instagram/fakerstrom

Recession Core

Apostar em produtos discretos, sem ostentações, é um reflexo de tempos de economia incerta — o mesmo aconteceu durante a Crise de 2008, que levou a um período de sobriedade no mundo da moda. Os consumidores preferem investir em peças seguras, clássicas e duradouras. Esta tendência ficou conhecida como "Recession Core" ("tendência de recessão", em tradução livre).

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Nas palavras de Miuccia Prada, "em tempos incertos, precisa-se trabalhar com responsabilidade"

Os consumidores não estarão mais receptivos às microtrends. O "quiet luxury" também surge como oposição ao consumo exacerbado e é reflexo de uma sociedade cansada de excessos: cores vibrantes e saturadas, looks pensados apenas para engajar no Instagram e tendências que não duram nem uma semana. Além dos impactos no meio ambiente, esse consumo acelerado gera sensação de insatisfação.

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Coincidentemente (ou não), o "quiet luxury" voltou a ficar em alta no começo deste mês, logo após a estreia da quarta temporada de 'Succession' (HBO Max)

A série acompanha a história da família Roy, dona de um dos maiores conglomerados de meios de comunicação e entretenimento do mundo. Ao contrário do que se espera de uma elite financeira, os personagens não ostentam logos e figurinos dignos de passarelas. São marcas menos conhecidas pelo público em geral, como Loro Piana, Brunello Cucinelli e Delvaux, que estampam as etiquetas — o que não quer dizer que sejam menos caras.

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Gisele Bündchen roubou os holofotes no Carnaval 2023 com look relativamente simples

Acostumado com os excessos, o público foi pego de surpresa com o figurino usado por Gisele Bündchen no Carnaval do Rio neste ano. A supermodelo brasileira desembolsou um cachê milionário para participar de um camarote no primeiro dia de desfiles das escolas de samba na Sapucaí e chamou atenção ao recriar um look usado 20 anos atrás: calça branca justa e abadá customizado.

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Também em março, a atriz Gwyneth Paltrow ganhou os noticiários pelos looks usados em julgamento sobre acidente de esqui

A loira foi clicada usando roupas de tricô e alfaiataria, com cores sóbrias, mas sem deixar de lado o toque fashionista. Gwyneth exibiu peças de grifes como The Row e Bottega Veneta e da própria marca, Goop.

Marcas também estão apostando no que "vende"

Estamos tão habituados com desfiles de prêt-à-porter e alta-costura se transformando em verdadeiros espetáculos que um movimento contrário causou espanto na última temporada. O portal Business of Fashion se referiu à semana de moda masculina de Milão como uma "temporada de simplificação". A Prada mostrou uma coleção modernista e minimalista. Sabato de Sarno, novo diretor da Gucci, levou às passarelas peças de alfaiataria com cores neutras e cortes impecáveis, que substituíram a extravagância do seu falecido antecessor, Alessandro Michele.

Divulgação

Tendência controversa

O "quiet luxury" também tem raízes em outra estética que fez bastante sucesso no TikTok meses atrás: a "old money" (ou "dinheiro velho", em tradução livre), termo usado para designar grandes fortunas que são derivadas de heranças, ou seja, são acumuladas de geração em geração. A estética faz aceno ao visual "preepy", aquele usado em uniformes de colégios internos; gola alta, estampas xadrez, coletes, saias plissadas e blazers têm bastante presença. "Essa noção de 'luxo silencioso' de que pessoas com riqueza 'verdadeira' só usam roupas discretas não passa de um absurdo. Não é luxo, mas sim uma velha estética enraizada na branquitude: vestir-se de maneira uniforme para controlar como as pessoas os percebem", opinou o influenciador sueco Bryan Boy.

Divulgação/Gossip Girl

Em paralelo, vemos a ascensão do Barbiecore

O "quiet luxury" e o "Barbiecore" estão dominando as tendências do mundo da moda, sendo, ao mesmo tempo, opostos e complementares. Os looks cor-de-rosa inspirados na boneca Barbie têm dominado as redes sociais, impulsionados pelo lançamento do live-action dirigido por Greta Gerwig, com previsão de estreia para julho de 2023. E apesar de parecer completamente contrária ao movimento do "luxo silencioso", essa estética vem em resposta ao mesmo período. Em tempos incertos, quando o mercado se prepara para o pior, os consumidores também têm necessidade de respiro; e o que é visto como "fútil" e "superficial" vira uma válvula de escape.

Reprodução

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