A roupa íntima não precisa mais ficar restrita ao conforto do lar. Uma tendência que já pisou nas passarelas das grandes grifes e agora chegou às ruas é usar samba canção no lugar dos shorts. A peça, inicialmente pensada para os homens , está sendo incorporada ao guarda-roupa feminino . E vale de tudo: usá-la sozinha, ou então aparente sob a calça.


Estigma

Calças arriadas, quase abaixo do glúteo e com cuecas à mostra, já eram comuns  no cenário do rap e do hip-hop entre os anos 1990 e 2000. Com origem na cultura negra e nas periferias, por muito tempo, a moda conhecida como "sagging" foi vítima de preconceito e chegou a ser proibida em cidades do sul dos Estados Unidos.

Seu surgimento é comumente associado ao sistema prisional do país, onde os cintos não seriam permitidos por medo de que possam ser usados como arma, e também pela falta de tamanho adequado. Como resultado, as calças caíram.

Por causa disso, esse costume já foi alvo de fake news . Imagens que circularam pela internet, inclusive no Brasil, diziam que as calças arriadas eram usadas como código dentro das prisões para indicar que presos homossexuais estavam disponíveis para sexo.

Tendência não é atual

A tendência rapidamente chegou ao universo do skate, um dos principais propagadores do estilo. Seus atletas usam e usavam calças tão largas que pareciam frequentemente estarem caindo, ao que parece devido às manobras radicais. Também não demorou muito tempo para que a moda alcançasse a cena do funk e do rap nacional. 

Nos anos 2000, as calças largas e abaixo do bumbum furaram a bolha e foram apropriadas pela indústria pop. Britney Spears, Christina Aguilera e Lindsay Lohan são algumas das celebridades que usaram calças de cintura baixa com a calcinha em evidência.

Já na década de 2010, o cantor canadense Justin Bieber foi um dos responsáveis por popularizar a moda "sagging" entre o público masculino. O estilo inicialmente foi recebido como chacota, mas em pouco tempo, todos os adolescentes estavam com suas calças largas abaixadas e cuecas aparentes.  



Além disso, com marcas como Calvin Klein, Tommy Hilfiger e Abercrombie & Fitch, a roupa íntima à vista virou sinônimo de sex appeal. 



O retorno da samba canção e da cueca à mostra

desfile da Miu Miu
Divulgação/Miu Miu

Samba canção: elas "roubam" essa peça íntima dos homens

Com a influência dos anos 90 e 2000 no mundo da moda, é claro que não demoraria muito para que microtendências como a roupa íntima aparente também fizessem o seu próprio comeback. Uma das responsáveis por esse retorno foi a Miu Miu , que trouxe a estética para a sua coleção feminina de inverno 2022.

Nos últimos anos, observamos uma drástica mudança no recorte das calças: os modelos skinny foram substituídos por modelagens mais amplas. Pouco tempo depois, pudemos assistir ao renascimento da cintura baixa. A matemática é simples: com calças cada vez mais largas e cós cada vez mais baixo, é natural que a roupa íntima fique mais exposta.

Soma-se a isso uma mudança de comportamento que vem tomando forma entre os consumidores e as marcas: a ideia de que a moda pode e dever ser livre do binarismo, ou seja, sem a premissa de que existem roupas para homens e roupas para mulheres.

Mas foi na última temporada de inverno 22/23 masculina que a tendência das cuecas aparentes deu sinais de estar se consolidando, em desfiles da Louis Vuitton, Prada e Dior. Após o vestuário "loungewear" viver seu auge, com espartilhos e sutiãs à mostra aparecendo nos figurinos, as cuecas e samba canções logo surgiram nas vitrines femininas, como em Jacquemus e Loewe. 

No Brasil, não foi diferente. Marcas como Baw, Anacê e Maikai Bikini apostaram no conforto da underwear masculina para vender para mulheres looks frescos e descontraídos. As cuecas são combinadas com regatas, camisas e conjuntos de alfaiataria ou aparecem de forma mais discreta por baixo das calças.



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** Gabrielle Gonçalves é repórter do iG Delas, editoria de Moda e Comportamento do Portal iG. Anteriormente, foi estagiária do Brasil Econômico, editoria de Economia. É jornalista em formação pela Universidade Estadual Paulista (Unesp).

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