É possível criar uma narrativa de redenção para si mesmo, valorizando as raízes e sem abrir mão da própria identidade? Com um desfile morno na Paris Fashion Week na manhã deste domingo (5), a Balenciaga confirma o seu novo objetivo: deixar para trás o escândalo que abalou a grife no final de 2022 e abrir mão dos espetáculos para focar apenas nas roupas.
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"A moda se tornou uma espécie de entretenimento, mas essa parte, frequentemente, ofusca a essência dela, que reside nas formas e volumes, nas silhuetas, na forma como criamos relações entre o corpo e o tecido, na maneira como fazemos a linha dos ombros e as cavas, na maneira como as roupas têm a capacidade de nos mudar", dizia a nota deixada pelo diretor criativo da marca, Demna, nos assentos dos convidados antes do desfile.
Segundo o estilista, no auge da crise da marca e de seu próprio desespero pessoal, ele se retirou para sua casa na Suíça para "buscar abrigo em seu caso de amor com a moda". "Isso me lembrou mais uma vez de seu incrível poder de fazer eu me sentir feliz e me expressar verdadeiramente. É por isso que a moda, para mim, não pode ser vista como um entretenimento, mas sim como a arte de fazer roupas".
Para o desfile da coleção Outono/Inverno 2023, Demna abdicou da teatralidade pela qual a maison ficou mais conhecida nos últimos anos. Nesta temporada, o cenário foi minimalista, com modelos caminhando por um tapete marfim. A presença de celebridades também diminuiu. E mais simbólica ainda era a ausência de logotipos.
Ainda assim, 700 convidados se reuniram para ver de perto como a Balenciaga faria o seu primeiro desfile desde a controvérsia em torno de duas campanhas publicitárias lançadas no ano passado que foram acusadas de incitar a pedofilia. Na ocasião, nem Demna nem o CEO da empresa, Cédric Charbit, foram demitidos.
Foram 54 looks, incluindo ternos sob medida e vestidos de gala. O desfile se dividiu em três atos: o primeiro com peças de alfaiataria em tons escuros, comprimentos alongados e proporções oversized . Havia calças invertidas, com cós que foram transformados nas bainhas dos blazers. Alguns figurinos tinham lateral ou frente dupla, dando a impressão de pernas extras.
Na segunda parte, pudemos ver uma valorização da silhueta por meio de visuais futuristas, com ombros e colarinho altos. Teve também vestidos florais, um clássico de Demna.
Por fim: uma homenagem ao fundador da maison, Cristóbal Balenciaga, com vestidos de gala em tons sóbrios, decorados com bordados brilhantes em tons escuros ou queimados. Os ombros arredondados, presentes nas peças, são uma atualização do diretor criativo de um modelo criado por Cristóbal lá em meados da década de 1960.