Semana Nacional de Prevenção à Gravidez na Adolescência serve como alerta a gestação precoce que atinge, anualmente, mais de 400 mil jovens no país
Foto: Reprodução/Freepik JCOMP
Semana Nacional de Prevenção à Gravidez na Adolescência serve como alerta a gestação precoce que atinge, anualmente, mais de 400 mil jovens no país

A Semana Nacional de Prevenção à Gravidez na Adolescência começou na última quarta-feira (01). Com duração até o dia 08 de fevereiro, ela foi instituída pela Lei nº 13.798/2019, que prevê a conscientização acerca de medidas preventivas da gravidez na adolescência, tanto para jovens quanto para pais, responsáveis, professores e profissionais da saúde.

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A gravidez na adolescência, em termos médicos, é qualquer gestação formada entre os 10 aos 19 anos de idade. Cerca de 16 milhões de meninas adolescentes dão à luz todos os anos, a maioria em países de baixa e média renda, como afirma a Organização Mundial de Saúde (OMS). Só no Brasil, 400 mil jovens se tornam mães a cada ano - uma média de 44 nascimentos por hora.

Desde o fim dos anos 90, o índice de adolescentes grávidas vem diminuindo no país, mas a quantidade ainda é considerada uma questão de saúde pública, já que é acompanhada de adversidades físicas, psicológicas e sociais para a gestante, sua família e comunidade.

A adolescente que se encontra grávida pode ter diversas complicações em sua gestação, já que, além de seu corpo estar se desenvolvendo, ele também desenvolve um feto. Por conta disso, existe um maior risco de prematuridade, anemia, aborto espontâneo, eclâmpsia e endometrite puerperal.

“Existe o grande risco que adolescentes que estão nessa condição de terem parto prematuro e consequentemente, os bebês estarem com o peso reduzido. Em relação a uma mulher adulta, existe também uma maior taxa de abortamento devido a doenças hipertensivas da gestação, síndromes hemorrágicas, e rotura prematura da bolsa amniótica” alerta a ginecologista especialista em doenças do útero e endométrio, Loreta Canivilo.

A depressão pós-parto também é um problema mais comum entre mães adolescentes, como afirma uma pesquisa realizada pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP). O estudo revelou que as condições da gestação precoce, como o isolamento e os problemas financeiros, colaboram com sintomas depressivos na genitora. 

De acordo com a psicóloga Janaína Santos, existem diversos fatores determinantes para a gravidez na adolescência, como o pouco acesso a serviços de saúde, o uso de álcool e drogas, o casamento precoce, a violência sexual e o abandono escolar: “quando se discute esse tema, é necessário entendê-lo como um problema multifatorial.”

A falta de informação segura sobre esse tema, no entanto, é uma das principais causas dos grandes números de jovens gestantes. “A frágil disseminação de informações seguras sobre o sexo e a gravidez é um dos principais fatores que influencia a gravidez na juventude. Em meu consultório, já me deparei com muitas jovens que pouco entendiam o uso da camisinha ou do ciclo menstrual e fértil. O sexo sem segurança, no entanto, entrou com mais facilidade na mente dessas jovens. Sem a educação sexual, é quase impossível prevenir esse problema.”

Sem informações sobre todo o processo, Loreta afirma, com base na pesquisa de Ricardo Baião Santos, que grávidas adolescentes costumam ter “sentimentos de medo e romantização”, enquanto os genitores “sentem medo do parto e da saúde da criança, da mudança de papéis”. A saúde mental, portanto, é abalada, já que, com a tenra idade, esses jovens não estão mentalmente preparados para cuidar de outra vida.

O estudo, parte essencial da adolescência, também é extremamente afetado, principalmente entre jovens de baixa renda, que estão mais propensas a deixá-lo, como atesta a OMS. “Essas meninas, ao engravidarem, acabam abandonando a escola pela difícil conciliação da nova realidade e ficam com muita dificuldade de arranjar um trabalho depois do parto. Acabam dependendo da família e do parceiro, que muita das vezes não ajuda, e isso colabora com o ciclo da pobreza”, afirma a médica.

As consequências desse problema são sentidas pela sociedade, como afirma Andrea Ciolette Baes, diretora de Saúde Feminina da Organon. Entre as principais consequências, estão o aumento do índice de desemprego, aumento da violência doméstica, ocorrência de negligência, maus-tratos e/ou abandono infantil, além dos conflitos com a família de origem. “Todos estes fatos desembocam na sociedade impactando setores já fragilizados como a saúde, educação, trabalho e segurança pública”, alerta.

A ferramenta mais poderosa para evitar a gravidez na adolescência, de acordo com a diretora, é a informação. “Inundar os jovens de informação adequada e de qualidade em todos os canais que eles acessam, de forma repetida e incessante. Sem dúvida as formas de se prevenir a gravidez devem ser demonstradas e explicadas com bastante clareza, mas pouco se fala das consequências de uma gravidez indesejada na vida de um indivíduo tão jovem. As informações do impacto na vida deles, em sua maioria fica no âmbito dos pais e professores, e quando é repassada, vai em forma de repressão e ameaça, e não como esclarecimento.”

A especialista reitera que atualmente, se fala mais sobre as opções contraceptivas, mas ainda não se discute sobre a mudança de vida após a chegada de um bebê na vida de pessoas que, por vezes,  acabaram de deixar a infância. “A informação ampla, de linguagem adaptada e repetida constantemente pode ajudar a evitar o adiamento ou interrupção de muitos sonhos”, finaliza.


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